Page 332 - Revista da Armada
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Alocução do Almirante CEMA
Alocução do Almirante CEMA
Dirigindo-se aos ilustres convidados e aos Militares, Militarizados e civis Portugal onde e quando necessário.
da Marinha, o Almirante CEMA começou por afirmar: Quem se bateu e contribuiu para a instauração do estado de direito, não
pode ter maior recompensa do que a de ver distinguidos os que se devem
Em primeiro lugar saúdo os que se encontram em missão, muito em distinguir, e julgados os que o devem ser, nos órgãos que a lei determina.
especial os Fuzileiros destacados ao serviço de Portugal na República De- Gostaria de ver a Marinha na comunicação social pelas boas razões, com
mocrática do Congo. equidade, e não ser indevidamente julgada na praça pública.
Seguidamente, quero agradecer a disponibilidade manifestada pelos A marca do nosso carácter, o carácter dos que são do mar, é enfrentar
ilustres convidados para se associarem a esta cerimónia de abertura do ventos e tempestades. Sentimo-los, porque, como diz o povo, “quem não
ano operacional. O meu muito obrigado pela Vossa presença. Bem vin- se sente não é filho de boa gente”, mas nunca tivemos nem teremos dúvi-
dos à Marinha. das de qual é a proa a que temos de governar.
A cerimónia de hoje destina-se a dar público reconhecimento do traba-
lho efectuado por quem está na primeira linha de exigência operacional, Marinheiros,
constituindo uma oportunidade para fazer o balanço anual da actividade As razões para estarmos satisfeitos pelo dever cumprido são inúmeras.
realizada pela Marinha ao serviço do País, e Apesar de termos disposto de verbas mais
um ensejo para perspectivar o futuro duma escassas, a qualidade do planeamento, o
instituição secular, cuja génese se confunde rigor do treino e o profissionalismo do pes-
com a da própria Nação. Foto CAB L Figueiredo soal permitiram-nos obter excelentes resul-
Permitam-me que aproveite a presença tados de que destaco:
de V. Exas para, desde já, vos dar testemu- - Os resultados alcançados pelas fraga-
nho da minha convicção nas vantagens tas da classe “Vasco da Gama” aquando
mútuas de uma cooperação institucional, da frequência do Operational Sea Training
que contribua de forma decisiva para a e do empenhamento na Standing NATO
prossecução da defesa dos inúmeros e im- Maritime Group 1;
portantes interesses nacionais que no mar - o elevado nível de prontidão mantido
existem, ali se desenvolvem e se alargam, durante todos os dias do ano, consubstan-
e que só ali podem ser afirmados. ciado em 45 mil horas de navegação, o
O produto operacional das unidades equivalente a mais de 5 navios ininterrup-
navais, de fuzileiros e de mergulhadores, tamente no mar;
da Autoridade Marítima e do Instituto Hi- - a manutenção das unidades navais, de
drográfico, são a razão de ser da Marinha. fuzileiros e de mergulhadores da compo-
Com efeito, é ele que permite ao País usar nente naval da Força de Reacção Imedia-
o mar de acordo com as suas necessida- ta prontas a largar em menos de 48 horas,
des, garantir os adequados níveis de se- para executar missões onde for preciso;
gurança, ajudar o desenvolvimento nos E muito mais que o tempo não me permite
espaços marítimos onde exercemos so- referir em detalhe mas de que realço:
berania e jurisdição e honrar compromis- - mais de meio milhar de pessoas sal-
sos decorrentes de tratados e acordos in- vas no mar e outras tantas nas praias e orla
ternacionais. De forma sóbria e discreta, costeira;
como é nosso timbre, empenhamo-nos no - mais de oito mil vistorias a embarca-
cumprimento pronto e eficaz das missões, ções no mar e nos portos;
obtendo resultados que fortalecem a confiança dos portugueses na sua - cerca de dezassete toneladas de droga apreendida;
Marinha. Estamos, portanto, neste aspecto, satisfeitos, mas queremos fazer - cerca de uma centena de acções de combate à poluição no mar e
melhor, se possível, ainda com menos recursos humanos e financeiros. nos portos.
Há, no entanto, limites de produtividade, mormente os relacionados com Estes são números que nos enchem de orgulho. Contudo, cientes
as unidades mais antigas, que não poderemos ultrapassar sem substitui- que estamos de como o sucesso é efémero, teremos que trabalhar mais
ção de meios e de processos. e melhor para o futuro: na optimização dos recursos, na utilização de
novas tecnologias e instrumentos ao nosso dispor, na melhoria da arti-
Militares, militarizados e civis da Marinha.
culação e no acolhimento de boas práticas. É com esse propósito que,
A qualidade do nosso desempenho está ao nível das melhores marinhas, a par da introdução de novas metodologias de planeamento e controlo,
como tem sido evidenciado em sucessivas avaliações externas e atestado iremos estabelecer, com a participação activa da Autoridade Marítima e
em operações reais no exterior. Isto é possível devido à adopção de novos do IH, o Centro de Operações da Marinha, sedeado no Comando Na-
padrões, da regeneração progressiva dos meios da Marinha e, principal- val e edificámos o Centro de Informações Operacionais, com elementos
mente, pela valia técnica das pessoas. do Comando Naval e da Autoridade Marítima, que teve o seu primeiro
Mas não há qualidade sem valores. Estes são e serão os alicerces de empenhamento operacional real na missão do Congo e deverá incre-
tudo e, como tal, é nosso dever - é meu dever - preservá-los e exigir a mentar substancialmente a sua actividade durante o ano operacional
sua observância, quer em termos individuais, quer colectivos, porque a que agora se inicia.
Marinha está muito para além de todos nós. Resumem-se a uma cultura Em suma, progredimos. Demos passos no sentido certo e estamos orgu-
de servir, de servir Portugal e os Portugueses para quem abnegadamen- lhosos dos resultados conseguidos, mas não podemos abrandar o ritmo.
te trabalhamos há muitos séculos. Por isso, orgulhamo-nos da nossa his- De facto, há muito mais para fazer, muitas coisas a melhorar. Podemos
tória; assumimos o presente e preparamos com confiança o futuro. São sempre fazer melhor, mas temos que compreender - todos - o delicado
esses valores que nos permitem relevar o essencial e não confundir o balanço entre o que será legitimamente exigível e as condições inerentes
todo com afloramentos - felizmente raros - de eventuais acontecimentos à exigência que não se situam no nosso âmbito exclusivo.
reprováveis. O rumo certo é o do primado da lei e do respeito pela nossa Como afirmei recentemente, “É sabido que não existe organização sem
condição de cidadãos, de militares e de marinheiros, prontos para servir disciplina. É meu dever tutelar os meus subordinados, isto é, defender os
6 NOVEMBRO 2006 U REVISTA DA ARMADA