Page 346 - Revista da Armada
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AS METAMORFOSES DOS
AS METAMORFOSES DOS
«DESTROYERS»
«DESTROYERS»
s primeiros torpedos automóveis, número de torpedos e de peças de artilharia pedeiros, 2 submarinos, 2 avisos de 1ª classe,
mais tarde designados simplesmen- de calibre médio. Os Franceses seguiram o 2 avisos de 2ª classe, e 1 transporte de hidro-
Ote por torpedos, apareceram por vol- exemplo dos Ingleses passando a designar aviões. Em 1932 foi decidido substituir nesta
ta de 1870 e os torpedeiros, ou seja, os navios este novo tipo de navio por «contre-torpil- fase o transporte de hidroaviões por mais 1
próprios para os lançar, contratorpedeiro e mais
cerca de três anos mais 1 submarino.
tarde. E desde logo uns Os navios deste con-
e outros provocaram junto, que na altura
uma verdadeira revo- representaram para a
lução nos conceitos de nossa Armada um salto
estratégia naval. quantitativo e qualitati-
Em França, teve gran- vo notável, passaram a
de sucesso uma dou- ser designados por «na-
trina preconizada pelo vios novos». Os cinco
almirante Aube, a cha- contratorpedeiros que
mada Jeune École, que dele faziam parte foram
defendia a tese de que sempre designados na
os couraçados se ti- gíria de bordo simples-
nham tornado inúteis, mente por «destroyers».
uma vez que os torpe- É deles que vamos tra-
deiros e os submarinos tar neste brevíssimo re-
tinham tornado impos- sumo histórico.
sível o bloqueio dos O “Dão” na versão original. Os cinco «destroyers»
portos inimigos a curta distância, o que per- leur», designação que também foi por nós eram o Vouga (V/D334), o Lima (L/D333),
mitiria que os cruzadores de uma potência oficialmente adoptada. o Dão (D/331), o Tejo (T/D335) e o Douro
naval mais fraca pudessem sair livremente O nosso primeiro torpedeiro, o Espadarte, (DR/D332). Os dois primeiros foram cons-
para o mar alto e atacar à vontade a marinha chegou em 1882. Ao todo tivemos dez. Os truídos em Glasgow nos estaleiros da «Yar-
mercante de uma potência naval mais forte dois últimos, o Ave e o Sado (que ainda vi row» entrando ao serviço, em 1933; os três
que assim seria levada à derrota sem que navegar) foram abatidos em 1940. O nosso restantes foram construídos em Lisboa (Ro-
para tal tivesse sido necessário travar uma primeiro contratorpedeiro, o Liz, entrou ao cha do Conde d’Óbidos) na «Sociedade de
batalha nos moldes clássicos. E logo todas serviço em 1914. Seguiram-se mais cinco, dos Reparações e Construções Navais» entrando
as potências navais começaram a construir quais o último, o Tâmega, foi abatido em 1942 ao serviço entre 1935 e 1936. Será curioso re-
torpedeiros em grande número. Mas os tor- (ano em que entrei para a Escola Naval). ferir que foram construídos dois Tejos e dois
pedeiros tinham enormes limitações. O seu Do programa «Magalhães Corrêa» (apro- Douros, os primeiros dos quais, a pedido do
raio de acção era muito reduzido e, devido à vado por decreto de 18 de Julho de 1930) Governo inglês, foram cedidos à Colômbia
sua elevada velocidade que os rebaptizou de
e pequeno bordo livre, Caldas e Antioquia.
eram navios péssimos Os nossos «destro-
para o mar. yers» eram navios de
Foram os Espanhóis cerca de 1500 toneladas,
quem primeiro teve a com três caldeiras que
ideia de construir um lhes permitiam atingir
torpedeiro de maiores uma velocidade má-
dimensões capaz de xima da ordem dos 37
acompanhar as esqua- nós. O seu armamen-
dras no alto mar, de to era constituído ini-
atacar os couraçados cialmente por quatro
inimigos com torpedos peças de 120 mm, três
e, ao mesmo tempo, de- peças AA de 40 mm
fendê-los dos ataques (as «pom-pom»), dois
dos torpedeiros. E em reparos quádruplos de
1884 encomendaram a tubos lança-torpedos,
um estaleiro inglês um duas calhas e dois mor-
protótipo com estas ca- O “Vouga” após a 1ª remodelação. teiros para lançamento
racterísticas a que puseram o nome de Des- destinado a renovar por completo a nossa de bombas de profundidade. Eram navios
tructor. Os Ingleses gostaram da ideia, tradu- Armada que, por essa altura, tinha atingi- praticamente iguais aos dos Ingleses mas
ziram o nome do protótipo e começaram a do o «zero naval», faziam parte: 1 cruzador com peças de 120 mm de maior alcance o
construir ... «destroyers»! Assim nasceu um ligeiro, 6 contratorpedeiros, 4 submarinos, que, teoricamente, lhes daria vantagem num
novo tipo de navio capaz de acompanhar 2 avisos de 1ª classe, 4 avisos de 2ª classe, 1 combate diurno de artilharia com qualquer
as esquadras de couraçados ou cruzadores, transporte de hidroaviões e 2 canhoneiras. A navio do mesmo tipo. Um dos seus princi-
caracterizado por elevada velocidade e po- primeira fase desse programa previa a cons- pais pontos fracos eram as peças AA, aliás
deroso armamento, constituído por grande trução no prazo de três anos de 4 contrator- iguais às que os Ingleses usavam, mas que
20 NOVEMBRO 2006 U REVISTA DA ARMADA