Page 8 - Revista da Armada
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esse objectivo tal como o entendemos há  por isso, ser considerada numa visão estri-  estrutural nas mudanças. Não mudar, sig-
         já muitos anos. Existe, porém, uma verda-  tamente economicista como mera rubrica  nifica parar no tempo, perder agilidade e
         de insofismável que se traduz, muito sim-  de despesa.                 flexibilidade. Há que optimizar a articulação
         plesmente, no facto de que não há conjunto   Após esta sucinta e decerto incompleta  entre os órgãos de cúpula de modo a que to-
         sem partes. Isto significa que continuamos  análise da envolvente externa, convido-vos  dos contribuam para um objectivo comum,
         a precisar de saber fazer, e bem, o que nos  a partilhar algumas refle xões sobre a nossa  por todos entendido como seu. Para tal, há
         cabe individualmente, porque é certo que a  própria casa. Em primeiro lugar quero afir-  que fortalecer a coesão através do aumento
         vulnerabilidade do todo, será sempre a da  mar, para que fique claro para todos, que  da comunicação interna, para que todos os
         componente menos eficaz.            considero os navios como a essência da Ma-  marinheiros tenham perfeita consciência da
           O conjunto tem inegáveis vantagens. Co-  rinha. Para eles existimos e é com eles que  rota traçada para a sua Marinha e da singra-
         nheço-as bem. Passam por aproximações si-  nos afirmamos. A Marinha, no entanto, não  dura em cada momento.
         nérgicas, cooperativas, solidárias e não do-  se esgota no domínio dito Operacional, re-  A Marinha integra um sistema complexo
         minantes, como veículo imprescindível à  sultante do empenhamento da Esquadra,  com interdependências múltiplas e crescen-
         confiança, que potencia a mais valia do todo,  aqui entendida como o conjunto das unida-  tes. Temos que ser capazes de estar na pri-
         em relação à soma                                                                       meira linha em vez
         das partes.                                                                             de sermos arrasta-
           Há que atingir                                                                        dos pelo turbilhão.
         efeitos eficiente-                                                                      Temos que ser pró-
         mente. Isso passa                                                                       activos, influenciar
         pela aplicação ra-                                                                      decisões, estudar
         cional dos poten-                                                                       e propor soluções,
         ciais disponíveis.                                                                      em vez de ficarmos
           Daqui decorre,                                                                        a aguardar serena-
         também, a necessi-                                                                      mente por decisões
         dade de optimizar a                                                                     que nos dizem direc-
         articulação com en-                                                                     tamente respeito.
         tidades exteriores à                                                                      Hoje, muito pou-
         Marinha. Esta articu-                                                                   co, ou mesmo nada,
         lação é fundamental                                                                     pode ser considera-
         para a optimização                                                                      do adquirido numa
         dos recursos que                                                                        sociedade em cons-
         são hoje ainda mais                                                                     tante mutação.
         escassos enquanto                                                                         Esta é uma tarefa
         que, paradoxalmen-                                                                      difícil, que necessi-
         te, aumentam as solicitações.      des navais, de Fuzileiros e de Mergulhado-  ta de gente motivada e capaz para poder ter
           A responsabilidade desta articulação é dis-  res. Compreende um conjunto muito amplo  sucesso. Como esteio principal desta moti-
         tribuída pelos diversos patamares hierárqui-  de outros sectores nos domínios da Autori-  vação, há que premiar os mais capazes, os
         cos, nos aspectos funcionais, mas compete às  dade Marítima, da investigação do Mar e de  mais dedicados, os mais competentes. Tira-
         chefias superiores da Marinha garantir a co-  âmbito cultural, de muita relevância para o  rei daqui todas as consequências, porque
         erência e linearidade dos processos.  País. Este conjunto sinérgico é para ser man-  considero condição de sobrevivência, rever
           É minha intenção assumir na íntegra as  tido. É para ser mantido como entidade co-  a capacidade de progressão e ascensão dos
         responsabilidades de articulação ao nível  erente, assente numa organização eficien-  que querem servir sem se servirem, comba-
         adequado. Como foi nossa tradição, reputo  te e eficaz mas que não pode ser estanque  tendo o desânimo e a desistência através de
         de imprescindível a abertura da Marinha ao  à cooperação com o ambiente externo que  uma cultura de ascensão na carreira em vez
         ambiente externo, à sociedade civil; ao saber,  desempenha, com mais recursos - mas com  da saída das fileiras. Não pode haver carreira
         à cultura, à economia, à colaboração com os  eficiência ainda por demonstrar - activida-  igual para desempenhos diferentes. Isto apli-
         outros Ramos em matérias de interesse co-  des para-semelhantes.      ca-se obviamente aos militares, militarizados
         mum e, é claro, ao estrangeiro e aos nossos   Os meios do Estado são limitados e se-  e pessoal civil, atentas as especificidades e os
         Aliados. Temos que reaprender a nossa si-  ria imperdoável - e a história o julgará - se  respectivos ordenamentos jurídicos.
         tuação na sociedade, conhecer o passado,  desperdiçássemos as oportunidades que se   Neste âmbito, importa salientar o pessoal
         compreender o presente e preparar o futuro,  nos deparam para os aproveitarmos melhor.  embarcado. Como sabem, sou dos que mais
         cotejando conceitos e aspirações com pos-  Convirá notar que, embora o núcleo duro  navegou. Tenho conhecimento perfeito das
         sibilidades. Os sistemas fechados não evo-  das nossa actividade seja o de âmbito mili-  dificuldades acrescidas que resultam da si-
         luem, não se adaptam e soçobram.   tar, a imagem diária da Marinha focaliza-se  tuação de embarque e tenciono prosseguir o
           Temos, igualmente, muita coisa a oferecer:  no serviço público.     reconhecimento da especificidade do pesso-
         Valores - os nossos - de serviço ao país - da   Devemos continuamente interrogarmo-  al embarcado até ao limite das minhas com-
         organização, da eficiência, da disciplina, da  -nos. Observar, Analisar, Planear, Decidir  petências. Estou certo que todos compreen-
         auto-contenção e, sobretudo, da seriedade.  e Controlar. Será que estamos a cumprir  derão a necessidade de tornar a vida no mar
           Saberes, resultantes do contacto continu-  os objec tivos? Será que temos recursos hu-  mais atractiva. No limite, as melhorias que
         ado com outras dimensões e patamares de  manos, financeiros e materiais para o que  pudermos obter irão beneficiar todos porque,
         que fazem parte designadamente, os nossos  nos é exigido? Será que os estamos a apli-  é bom ter sempre presente, não há Esquadra
         Aliados, na NATO e União Europeia.  car eficientemente? Será a nossa estrutu-  sem marinheiros.
           Experiência, decorrente de séculos de  ra organizacional a mais adequada após   Sendo as pessoas o recurso mais impor-
         partilhar conhecer e compreender as “coi-  as transformações mais recentes? Há que  tante, é, no entanto, impossível à Marinha
         sas do Mar”.                       ter, permanentemente, um espírito crítico,  sobreviver sem uma adequada renovação
           Tenciono assim evidenciar que o investi-  tão característico dos debates das câmaras,  dos meios materiais. A renovação e o ba-
         mento na nossa marinha nas suas vertentes  temperado com a experiência, o saber e os  lanceamento equilibrado da esquadra, nela
         de actuação militar, de serviço público e di-  recursos, de modo a identificar uma estra-  incluídos os meios anfíbios, são imprescin-
         plomática, gera dividendos, não devendo,  tégia adaptativa em relação ao que há de  díveis. Assumem hoje um carácter de pre-

         6  JANEIRO 2006 U REVISTA DA ARMADA
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