Page 9 - Revista da Armada
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mência, devido ao facto - infelizmente re-  que potenciem o aumento da eficiência dos  blico é de difícil e de demorada obtenção mas
         corrente na nossa história - de ignorarmos  Organismos de Apoio e Esquadra em todas  de perda repentina e inexorável. Relevo, neste
         a necessidade de que o investimento atinja  as suas vertentes. Temos que iniciar desde  âmbito, as Associações de Militares das Forças
         níveis de reposição adequados,  com regu-  já a transformação das mentalidades que le-  Armadas. Sendo de existência legal, estes or-
         laridade, de modo a evitar picos que po-  vará à revisão de processos, aproveitando as  ganismos deverão ter o seu espaço próprio na
         dem ocorrer em ocasiões de maior escassez  potencialidades das novas tecnologias de co-  defesa dos interesses dos seus associados, mas
         de recursos financeiros do Estado. Estamos  municação e de informação e os investimen-  sem que tal interfira com a organização hierár-
         numa dessas conjunturas, com meios em  tos em curso, quer no âmbito interno quer das  quica das Forças Armadas. Pelo meu lado, não
         obsolescência técnica cuja substituição tem  entidades de nível superior, com ramificações  considero as Associações como antagonistas,
         tardado, mas a que o aperto orçamental do  positivas na Marinha.      mas estou certo que teremos como irrecusável
         País não permitirá responder no imediato.   Temos igualmente que ser capazes de acom-  postura, o escrupuloso respeito pelas leis da
         Estamos em contra-ciclo e não existem so-  panhar os nossos parceiros em termos tecnoló-  República, e do ordenamento militar. Cum-
         luções mágicas que possam corrigir erros  gicos e organizacionais, tanto ao nível do País  pre-me zelar por essa observância e para que
         de décadas.                        como das alianças a que pertencemos.  se mantenha o capital de confiança que o país
           Olhando para                                                                          deposita na sua Ma-
         o Orçamento do                                                                          rinha. Fá-lo-ei.
         Estado para 2006,                                                                         Vou concluir, su-
         verificamos que a                                                                       blinhando algumas
         Marinha consome                                                                         ideias-força que
         apenas cerca de                                                                         advo go como prio-
         0,35% do PIB. A co-                                                                     ritárias para a Ma-
         nhecida incompres-                                                                      rinha. Em primeiro
         sibilidade das des-                                                                     lugar, aquele que
         pesas com pessoal                                                                       considero o meu ob-
         tem levado a que as                                                                     jectivo estratégico, o
         “designadas pou-                                                                        envolvimento de to-
         panças” incidam,                                                                        dos os marinheiros
         com efeitos muito                                                                       no processo de afir-
         negativos, nos do-                                                                      mação da Marinha
         mínios da opera-                                                                        porque a Marinha
         ção e manutenção                                                                        é, e será, essencial-
         e, sobretudo, no in-                                                                    mente, aquilo que
         vestimento, criando                                                                     forem as pessoas
         desequilíbrios adi-                                                                     que a servem.
         cionais. Há que agir!                Mas uma Marinha não significa apenas um   Em segundo lugar, a necessidade de inovar
           É que, se é certo que ter uma marinha custa  conjunto de navios e homens; significa antes  e olhar para o futuro tendo em consideração a
         caro, muito mais caro será não a ter ou querer  de mais ter uma cultura e uma doutrina orien-  nossa cultura centenária e os valores que a en-
         tê-la demasiado tarde!             tadora do pensamento e da acção - portanto  formam. O planeamento é fundamental para
           Não tenho nenhuma dúvida que gastamos  específica - que é imprescindível incutir desde  nos mostrar o caminho para atingir os objec-
         bem - muito bem e muito melhor que muitos  a primeira hora nos diversos escalões. Só mais  tivos e também para redefini-los, tendo em
         - os recursos que nos são atribuídos. Isto não  tarde, será possível atingir efeitos sinérgicos  conta as limitações encontradas. Há portanto
         basta. Há que torná-lo evidente, dando-nos  com outros modos, necessariamente comple-  que planear, olhar para o futuro com serieda-
         a conhecer ao público, permanentemente,  mentares, de pensar, e de agir.   de e encontrar soluções, inovando. Assim, o
         demonstrando utilidade eventualmente em   Gostaria, agora, de vos transmitir aquilo  presente e as decisões que teremos que tomar
         domínios até agora inexplorados, enquanto,  que penso relativamente a alguns aspectos  em cada dia farão muito mais sentido.
         no imediato, reduzimos ou adiamos despesas  relacionados com a minha visão da Marinha   Em terceiro lugar, a utilidade da Marinha
         menos prementes e procuramos soluções de  como instituição relativamente aos cidadãos  para Portugal. Todos consideramos os recur-
         financiamento alternativas.         que nela servem.                   sos atribuídos à Marinha insuficientes para
           Cumpre-nos também demonstrar que   Vivemos num Estado democrático onde o  as actividades que, no nosso espírito e von-
         a Marinha pode atrair investimento com  pluralismo e a diversidade de opinião são bens  tade de bem servir, gostaríamos de realizar ao
         efeito remunerador em várias áreas, nomea-  fundamentais de todos. Os cidadãos militares  serviço do País. No entanto, o conjunto dos
         damente como agente catalisador de um  têm, por inerência da sua profissão, limitações  desígnios nacionais ultrapassa sempre os re-
         núcleo de actividades ligadas ao mar, um  no uso de certas liberdades. É uma realidade  cursos disponíveis. Cumpre-nos, portanto,
         “cluster” a necessitar de novas energias,  incontornável, tanto em Portugal como em  gerir da melhor forma, demonstrando que a
         para reganhar o espaço de referência que já  quase todos os países democráticos, que as-  excelência da gestão pagará dividendos su-
         ocupou no panorama nacional.       sim continue a ser. Esta limitação no acesso a  periores aos possíveis de obter noutras áreas
           Pese embora insuficientes quando compa-  direitos de cidadania não nos menoriza, antes  e noutras soluções.
         rados com a nossa ambição, há que assinalar  nos engrandece e não exclui, decerto, a equida-  Continuaremos a servir o País quando,
         o esforço que o País está a desenvolver para  de de tratamento em relação a outros grupos  como, e onde for necessário, sem apego a
         dotar a sua Marinha com meios modernos,  socio-profissionais que servem a República. É  dogmas. Temos que ser relevantes, flexíveis
         de qualidade inquestionável, como é o caso  minha convicção que o reconhecimento pelos  e estar prontos.
         dos novos submarinos e dos patrulhas que  portugueses da profissão militar e dos seus dis-  Tenho confiança no futuro da Marinha e
         em breve irão ser aumentados ao efectivo da  tintos predicados tem evoluído, positivamente,  do País. Estou certo de que, juntos, seremos
         Armada. Estes novos meios vão representar  nos últimos anos. Algumas sondagens assim  capazes de vencer tormentas e continuar a
         um novo passo tecnológico e uma acrescida  o indicam e isso é motivo de orgulho para to-  obra dos nossos ilustres antecessores, servin-
         motivação para a corporação no seu todo,  dos nós. Temos portanto que exercer continu-  do Portugal e os Portugueses no mar.
         e irão induzir uma onda de modernização  adamente um esforço de auto-contenção e de   VIVA A MARINHA!
         nas restantes áreas da Marinha. É imperioso  afirmação de valores éticos que caracterizam a   VIVA PORTUGAL!
         aproveitar esta maré para procurar soluções  profissão militar, já que o reconhecimento pú-            Z
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2006  7
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