Page 228 - Revista da Armada
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         INTRODUÇÃO

               á cada vez mais a ideia de que se
               pode controlar remotamente tudo,
         Haté o mar. A ideia de efectuar re-
         motamente o seguimento de submarinos
         e navios não é nova. O sucesso do radar e
         os enormes avanços conseguidos na detec-
         ção submarina durante a Segunda Guerra
         Mundial estão na base de projectos práti-
         cos desde há mais de cinco décadas. Até
         há pouco tempo a compilação de um pa-
         norama de superfície era um exclusivo das
         Forças Armadas, nomeadamente da Mari-
         nha, obtido a partir de meios militares na
         área, nomeadamente navios de guerra e
         meios aéreos. A tecnologia, nos últimos
         anos, tem prometido muitas novidades e
         já apresentou vários novos sistemas, como   Fig. 1 – O mar de Lisboa num panorama AIS e numa imagem de um radar SAR (radar de abertura sintética)
         o VTS costeiro e portuário, o MONICAP, o   de um satélite da ESA (earth.esa.int) (Agência Espacial Europeia).
         AIS, o LRIT, os satélites SAR e veículos não  ric Administration) escutá-lo, de forma a  de vários navios.
         tripulados, que são capazes de fornecer re-  poderem detectar sismos no mar e outras   A utilização de comunicações baseadas
         motamente, com facilidade, muita informa-  acções geológicas escondidas nas profun-  em satélite, para além de tornar o siste-
         ção útil sobre a identificação, localização,  dezas. Também foi utilizado mais tarde por  ma mais fiável e assegurar uma cobertura
         previsão de movimentos, etc, de navios e  universitários para seguir baleias e outros  a nível mundial, também permite o envio
         embarcações.                       mamíferos marinhos. Em 1996, a Marinha  e recepção de mensagens entre navios e
           Em Portugal estão a ser implementados os  Americana começou a privatizar parte do  qualquer ponto de recepção, bem como o
         novos projectos GMDSS, VTS e MONICAP  sistema para que uma fundação pudes-  envio de faxes navio-terra em qualquer po-
         que deverão ser para a Marinha novas fontes  se construir um observatório acústico no  sição geográfica.
         de informação para a compilação do pano-  Atlântico para estudar sons naturais de sis-  O sistema tem capacidade para além da
         rama de superfície, o que será uma mais-va-  mos e animais marinhos.   monitorização, poder ser utilizado para a
         lia importante para a localização de navios                           inspecção e protecção das actividades da
         e embarcações, para a segurança marítima,   O CONTROLO DA SUPERFÍCIE  pesca, controlo do tráfego marítimo, aqui-
         para a salvaguarda da vida humana no mar                              sição, recepção e transmissão de dados me-
         e para a protecção da costa e do ambiente   O controlo dos navios de superfície tam-  teorológicos e localização rápida e precisa
         marinho.                           bém se iniciou no pós-guerra, vejamos al-  de navios e embarcações em perigo.
           Neste artigo serão apresentados sumaria-  guns sistemas, nomeadamente os referidos
         mente os novos sistemas referidos.  na introdução.                    O SISTEMA VTS

         A VIGILÂNCIA SUBMARINA             O SISTEMA MONICAP                    O primeiro sistema Vessel Traffic Service
                                                                               (VTS - Sistema de Vigilância de Tráfego Ma-
           O primeiro sistema que apareceu para   O projecto-piloto foi lançado em 1988  rítimo) apareceu em Liverpol em 1949. O
         controlar remotamente unidades navais no  e os resultados obtidos têm revolucionado  sistema consistia num radar em terra que
         mar deverá ter sido o SOSUS, abreviatura  as técnicas de fiscalização da actividade da  fornecia as informações necessárias para
         de SOund SUrveillance System (Sistema  pesca a nível mundial. O MONICAP (Siste-  coordenar os movimentos dos navios. Um
         de Vigilância Sonora). A Marinha Ameri-  ma de Monitorização Contínua da Activida-  sistema semelhante com mais estações ra-
         cana desenvolveu este sistema para poder  de da Pesca) utiliza o GPS (Global Positio-  dar foi montado pela Holanda em 1956
         ter a detecção antecipada e efectuar o se-  ning System) para a localização e o Inmarsat  para seguimento de tráfego marítimo no
         guimento dos submarinos balísticos sovié-  C para a comunicação satélite entre as em-  porto de Roterdão. O sistema espalhou-se
         ticos. A decisão sobre a sua edificação foi  barcações e um centro de controlo terrestre.  rapidamente por grande parte dos portos
         tomada em 1949 e terá ficado operacional  O sistema MONICAP foi industrializado e  da Europa Ocidental.
         em 1961. Consistia numa série de cadeias  está presentemente instalado, ou em fase   Os principais portos nacionais também têm
         de hidrofones passivos, fundeados a gran-  de instalação, em cerca de 800 navios de  um sistema portuário VTS que integra infor-
         de profundidade no Atlântico Norte junto  pesca que operam sob controlo de Portu-  mação de outros sensores nomeadamente do
         à Gronelândia, Islândia e Reino Unido, nas  gal, Espanha, França, Irlanda e Angola. Em  AIS (Automatic Identification System), que
         áreas por onde tinham de passar os subma-  cada um destes países foram criados vários  veremos mais à frente. Está previsto que em
         rinos soviéticos. No Pacífico também foram  Centros de Controlo que visualizam geogra-  2008 fique operacional o sistema VTS costeiro
         instaladas estações SOSUS. O sistema per-  ficamente os navios e controlam todos os  que vai permitir alargar o controlo do tráfe-
         mitia detectar navios e submarinos a dis-  seus movimentos e actividades.   go marítimo até às 50 milhas, abrangendo as
         tâncias de centenas de milhares de milhas   O sistema é instalado como uma “caixa  águas territoriais e a nova Zona Contígua até
         tirando partido dos canais de som.  negra” que permite o acesso remoto a partir  à ZEE. Estruturante do ponto de vista da segu-
           O seu custo total ascendeu a 16 mil  de um centro de controlo em terra.   rança marítima, a decisão encontrava-se pen-
         milhões de dólares. Em 1993, a Marinha   Num Centro de Controlo, através de um  dente desde 1999, tendo a ausência do VTS
         Americana permitiu aos cientistas civis do  computador e da ligação satélite, é possí-  em Portugal sido amplamente criticada por
         NOAA (National Oceanic and Atmosphe-  vel monitorizar em tempo real a actividade  ocasião do acidente do petroleiro Prestige.

         10  JULHO 2007 U REVISTA DA ARMADA
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