Page 289 - Revista da Armada
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Setting Sail
                                   Setting Sail








              16. LUGRE-ESCUNA


              A denominação lugre-escuna é utilizada para classificar o veleiro cujo   Galindréu – Chapa que abraça o calcês do mastro com a finalidade de
            aparelho acomoda três ou mais mastros, sendo que no de vante – traque-  nela engatar a adriça do pique da carangueja. No caso das pequenas embar-
            te – se encontram dispostas vergas redondas, mas que apenas cruzam o   cações, este mesmo nome qualifica uma peça circular de metal que abraça
            respectivo mastaréu. Nelas enverga pano daquele feitio, ao passo que   o mastro na bancada que este atravessa (enora), mantendo-o vertical.
            nos demais mastros larga pano latino quadrangular, por norma arma-
            do com retranca e carangueja. Além das velas referidas, esta armação   Mão – Designação pela qual é conhecida a alça obtida por intermédio
            conta ainda com pano latino que enverga nos estais de proa, podendo   de costura de mão, feita no chicote de um cabo. Pode, para tal, e quando
            igualmente dispor de velas de entremastro e/ou gavetopes, recebendo   necessário, abraçar um sapatilho ou bigota.
            as últimas designação idêntica à do respectivo mastro.  Mastros – Gurupés (A), traquete (B), grande (C) e mezena (D).
              A exemplo do verificado aquando da nossa análise ao aparelho co-
            nhecido como lugre-patacho, também a presente armação surge a partir   Mastaréus – Mastaréu de velacho (E), mastaréu de gavetope do
            da justaposição de dois termos – lugre e escuna –, caracterizando cada   grande (F) e mastaréu de gavetope da mezena (G).
            um deles, singularmente, como vimos, aparelhos de veleiro distintos. É   Meter vela dentro – Expressão sinónima de carregar e ferrar uma vela.
            pois sem surpresa que verificamos que o navio desta maneira apelidado   O mesmo que apagar a vela.
            agrega especificidades inerentes àquelas que encontramos em ambas
            as armações da qual este nome resulta. Por outras palavras, herda da   Painel – Designação utilizada para denominar o conjunto de panos
            escuna a existência de pano redondo que enverga nos paus que cruzam   que, cosidos uns aos outros pela sobreposição das respectivas ourelas,
            o mastaréu de proa, ao passo que por influência do lugre ostenta pano   dão forma à vela.
            latino quadrangular e gavetopes, espalhado pelos demais mastros.  Saia de vela – Pano que se acrescenta na esteira de uma vela latina
              Como se pode inferir pelo acima exposto, a armação designada de   com vista a aumentar a sua superfície, nomeadamente quando se navega
            lugre-escuna apenas se distingue da escuna pelo facto de a segunda   com ventos fracos. Este mesmo termo pode ainda ser entendido como
            contar apenas com dois mastros, ao passo que o aparelho em análise   sinónimo de esteira de uma vela latina.
            dispõe de três ou mais antenas.
                                                               Tirador – Chicote ou parte livre de um cabo do aparelho de laborar
              Archote – Nome dado ao chicote de um cabo fixo, como é o caso do   pelo qual se ala com vista a tirar o respectivo brando.
            ovém, que é abotoado para o seu vivo, formando uma mão ou alça.
                                                               Traquete – Nome dado ao primeiro mastro real a contar de vante, à verga
              Bastardos – Designação pela qual são conhecidos os dois cabos   de papafigo que nele cruza e ainda à vela que aí enverga. Com o mesmo
            que servem para atracar para os mastros as bocas-de-lobo existentes   significado, mas de utilização pouco frequente, podem também ouvir-se as
            nas retrancas.
                                                              denominações traquete de proa ou traquete d’avante. A expressão traquete
              Bigota (1) – Peça de poleame surdo feita em madeira, regra geral de   de correr caracteriza uma vela cuja superfície é de menores dimensões do
            forma circular e chata, dispondo de três furos dispostos sob a forma de   que a vela normalmente envergada, vulgarmente usada em situações de
            triângulo equilátero. Através destes orifícios passa e trabalha o cabo do   mau tempo. O mesmo que traquete de capa. Por outro lado, a locução «tra-
            colhedor, cuja função visa atracar e tesar os ovéns. Estes últimos, por   quete nos calções» é utilizada quando esta vela é carregada, ficando com
            seu turno, alojam na goivadura que rodeia a bigota, sendo o respectivo   os respectivos punhos livres e formando pequenos bolsos entre os b rióis.
            archote abotoado ou preso com grampos. No primeiro caso, o archote   A expressão dar ao traquete é habitualmente utilizada para indicar que se
            e abotoado são revestidos com uma forra.          largou e caçou este pano, com o intuito de navegar à vela.
              Boca-de-lobo (2) – Designação que identifica a peça que termina de   Vela dependurada – Diz-se da vela caída por falta de vento.
            forma semicircular existente na extremidade de algumas vergas – retran-  Velas de proa – Polaca (4), bujarrona de dentro (5), bujarrona de fora
            cas e caranguejas –, como se fora uma enorme chave-de-bocas. Esta   ou contrabujarrona (6) e giba (7).
            envolve parcialmente o mastro por ante a ré e com o qual se articula,
            podendo correr ao longo deste no caso de se tratar de uma carangueja.   Velas do traquete – Velacho (8), joanete (9) e traquete latino (10).
            No sentido de evitar que esta escape, normalmente das extremidades
            da boca-de-lobo saem dois cabos que a amarram por ante a vante do   Velas do grande – Vela grande (11) e gavetope do grande (12).
            mastro, mantendo a verga em posição.               Velas da mezena – Mezena (13) e gavetope da mezena (14).
              Cabo fixo – Denominação pela qual são conhecidos os cabos que   Velas de entremastro – Formosa ou vela de estai do galope do gave-
            servem para tesar o aparelho de um veleiro, como são os casos das en-  tope do mastro grande (15).
            xárcias, ovéns, coroas, estais, cabrestos, patarrazes, etc.
                                                               Veleiro – Palavra utilizada para qualificar o navio que anda bem à vela,
              Carro da carangueja – Nome dado à parte da carangueja que não   podendo para o efeito também ser utilizado o termo andejo.
            dispõe de boca-de-lobo, e que encosta por ante a ré do mastro. Neste
            caso, os dois cabos denominados burros, guiam-na ao longo do mastro   Vivo – Nome pelo qual é conhecida a parte de um cabo que suporta
            ou do frade, tanto na manobra de içar como no respectivo arriar.  o esforço a que este se encontra sujeito.
              Colhedor (3) – Nome dado ao cabo que se encontra gornido en-  Zarros (16) – Espécie de aros feitos de cabo que amarram e guiam a
            tre duas peças de poleame surdo, no caso vertente entre duas bigo-  tralha da testa do pano latino quadrangular ao longo do mastro, durante
            tas, que por intermédio do respectivo tirador permite tesar os ovéns   as manobras de içar e arriar a respectiva carangueja. Nos casos em que
            e a enxárcia.                                     estes são substituídos por peças de poleame feitas de madeira ou metal,
                                                              estas podem ser apelidadas, respectivamente, de arcos ou garrunchos.
              Frade – Nome dado à vara, carril, calha ou trilho, por vezes existen-
            te por ante a ré do mastro e na vertical, com a finalidade de servir de         António Manuel Gonçalves
            guia à boca-de-lobo da carangueja, ou, noutras situações, aos garrun-                         CTEN
            chos cosidos na tralha da testa da vela, aquando das manobras de içar               am.sailing@hotmail.com
            e arriar o respectivo pano.                                                          Desenho: Aida Colaço
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