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Protocolo entre a Marinha e o Instituto Superior
            Protocolo entre a Marinha e o Instituto Superior
                       de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP)
                       de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP)

                                                                   Foto 1SAR FZ Pereira
               o passado dia 24 de Julho foi assinado                          isenção de propinas para oficiais da Marinha e
               um protocolo de cooperação entre a                              estágios na Marinha para alunos do ISCSP
         NMarinha e o ISCSP tendo como fina-                                      O protocolo foi assinado pelo Almirante Che-
         lidade genérica a colaboração de docentes e es-                       fe do Estado-Maior da Armada e pelo Presiden-
         pecialistas, o intercâmbio de documentação pe-                        te do Conselho Directivo do ISCSP, Professor
         dagógica e informação cultural e a prossecução                        Doutor João Bilhim. Assistiram ao acto por parte
         de projectos de interesse comum.                                      do ISCSP, o Presidente do Conselho Científico,
           O protocolo tem subjacente uma relação cen-                         Professor Doutor Sousa Lara, o Presidente do
         tenária entre as duas Instituições, que remon-                        Conselho Pedagógico, Professor Doutor Mar-
         ta às origens do ISCSP, então Escola Colonial.                        ques Bessa e o docente Professor Doutor Borges
         De facto, ao longo dos tempos foram muitos                            Graça. Por parte da Marinha testemunharam, o
         os oficiais da Armada que contribuíram para  seguintes: actividade docente na Escola Naval  Presidente do GERE, VALM Lopo Cajarabille
         a evolução do ISCSP, tal como muitos docen-  por professores do ISCSP; actividade docen-  (professor convidado do ISCSP), o Superinten-
         tes do ISCSP ensinaram gerações de oficiais da  te no ISCSP por oficiais da Marinha; projectos  dente dos Serviços do Pessoal, VALM Vilas Boas
         Armada, nomeadamente no âmbito do ISNG,  pedagógicos comuns, bem como seminários,  Tavares, o Comandante da Escola Naval, CALM
         recentemente extinto.              conferências e eventos similares; permuta de co-  Saldanha Junceiro, o Director do Serviço de For-
           Pretendendo-se dar continuidade à citada  municações e orientação de trabalhos de alunos;  mação, CALM Macieira Fragoso e o Chefe de
         relação, embora em novos termos, o protoco-  acesso a vários tipos de instalações de ambas as  Divisão de Planeamento do EMA, CMG Silva
         lo prevê, entre outras realizações concretas, as  partes; mestrados em estratégia no ISCSP com  Ribeiro (professor convidado do ISCSP).  Z


            ALÉM DO HORIZONTE                                                                            1


              A ZEE e a Plataforma Continental Portuguesas
              A ZEE e a Plataforma Continental Portuguesas

               o que respeita à dimensão da área terri-  controvérsias, alguns dos conceitos chave e conse-  não detectados, à escassez ou abundância de cer-
               torial, de acordo com os dados recolhi-  quentes postulados merecem atenção e reflexão.  tos recursos vivos, à possível exploração de ener-
         Ndos na “wikipédia”, a enciclopédia livre   A relação entre a actividade humana e o espaço  gia, a um vasto conjunto de actividades económi-
         e gratuita disponível na Internet, Portugal ocupa  é o cerne da Geopolítica. O controlo de um espaço  cas, podendo a lista aumentar indefinidamente.
         no mundo a 108ª posição entre 193 países, sendo  terrestre ou marítimo representa poder ou, no mí-  Perante tais perspectivas fará bem lembrar a
         ligeiramente maior do que a Jordânia (109ª) e um  nimo, potencial para obter poder. Quanto maior  noção de poder funcional que nos foi legada pela
         pouco menor do que a Hungria (107ª).  for o espaço maior poder se pode alcançar.  autoridade do Prof. Adriano Moreira, fazendo
           Relativamente ao PIB per capita, o nosso país co-  Mais ainda, as conhecidas fórmulas do poder  notar que esse poder constitui um “activo rodea-
         loca-se no 35º lugar e na lista do índice de desen-  (poder percebido) propostas por estrategistas, de  do de perigo, porque a falta de mobilização por
         volvimento humano aparece na 28ª posição.  que é exemplo a famosa equação de Cline (Prof.  quem o tem pode implicar que seja confiscado
           Porém, existe também uma tabela com as maio-  Ray S. Cline, da Universidade de Georgetown,  por quem dele necessita”.
         res Zonas Económicas Exclusivas (ZEEs) mun-  Washington), valorizam sempre o espaço geo-  É também sabido que qualquer modalidade
         diais somadas às águas territoriais respectivas,  gráfico, a sua localização e as potencialidades  estratégica recomenda o fortalecimento das po-
         onde Portugal se encontra situado no 11º lugar,  identificadas.        tencialidades e a redução das vulnerabilidades.
         sendo superado apenas por países muitíssimos   No mundo moderno e para os efeitos que im-  Todas as oportunidades para o fazer devem ser
         maiores em área territorial.       porta considerar, o poder traduz-se essencialmen-  exaustivamente aproveitadas.
           Feitas as contas, o nosso “pequeno país” com  te no grau de influência na sociedade internacio-  Do complexo de vertentes mencionadas pare-
         pouco mais de 92.000 Km2 de território tem uma  nal para ser ouvido e para obter benefícios, que  ce deduzir-se não ser aconselhável que os facto-
         ZEE que excede 1.700.000Km2, sendo por isso o  de outro modo não serão aceites.  res de poder que derivam de uma enorme ZEE
         país do mundo com a maior ZEE em termos pro-  Uma ZEE, apesar de não ter um estatuto ter-  e não menos farta plataforma continental, sejam
         porcionais ao seu território, excluindo eventual-  ritorial, não deixa de ser um espaço que confere,  partilhados com outrem (atentas as sujeições que
         mente alguns micro estados insulares.  entre outros, direitos especiais sobre a energia e  derivam da qualidade de membro da UE), sob
           Daqui se retiram de imediato algumas con-  os recursos vivos e não vivos da coluna de água  pena de enfraquecimento do nosso potencial es-
         clusões, a começar pela vastidão de um bem que  e consequentemente, responsabilidades nacionais  tratégico e de se hipotecarem capacidades de de-
         muito promete em termos de recursos. O desenho  e internacionais. Por outro lado, a plataforma con-  senvolvimento futuro de Portugal.
         destes espaços no mapa mostra à evidência um  tinental, que no caso português coincide pratica-  Há que conhecer cientificamente os espaços
         posicionamento estratégico invejável no Oceano  mente com a ZEE, confere importantíssimos direi-  em causa, exercer o seu controlo e vigilância com
         Atlântico. A liberdade de acção do Estado e a con-  tos sobre os recursos existentes no solo e subsolo  meios próprios suficientes e adequados e cum-
         sequente influência externa encontram aqui trun-  marinhos. De acordo com o direito internacional,  prir a estratégia nacional para o mar nos demais
         fos de peso, a não desprezar.      há a possibilidade de a ampliar até às 350 milhas  aspectos, conforme já delineado em documenta-
           Valerá a pena recordar algumas noções teóricas  da costa, em determinadas zonas, se os estudos  ção governamental.
         que nos ajudem a compreender melhor os valores  em curso comprovarem as características físicas   Nada do que se passa no Atlântico nos deve ser
         em causa e o panorama geral onde se inserem.   exigidas para o efeito.  indiferente. E muito menos na vizinhança atlânti-
           A importância do espaço foi teorizada no seio   Estamos, assim, perante uma riqueza talvez  ca que a geografia nos impõe.
         da Geografia Política e, mais tarde pela Geopolí-  não inteiramente percebida por muitos, tanto mais   Z
         tica, a ciência da vinculação geográfica dos acon-  que será difícil calcular o seu valor no futuro, face   (Colaboração do Grupo de Estudos e Reflexão Estratégica
         tecimentos políticos. Com as suas variantes e  aos avanços das tecnologias, aos materiais ainda   (GERE))

         4  SETEMBRO/OUTUBRO 2007 U REVISTA DA ARMADA
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