Page 318 - Revista da Armada
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atingida, de modo que os treze meses que   Notas                      J. Scofield e R. Sisson, da National Geography Socie-
         durou a erupção apenas causaram prejuízos   (1) A Missão do Centro de Estudos Geográficos,   ty e o vulcanólogo belga H. Tazieff. Posteriormente,
         materiais. E não foram poucos: pastagens e   do então Instituto de Alta Cultura, foi rapidamen-  pelo Ministério das Obras Públicas foi enviada uma
                                            te constituída  pelos Professores da Faculdade de
                                                                               Missão para estudar as primeiras medidas a tomar,
         campos de cultura, principalmente de mi-  Letras de Lisboa, Orlando Ribeiro, catedrático, e   na sequência dos prejuízos causados.
         lho então, base da alimentação local prestes   Raque l Soeiro de Brito, extraordinário, pelos alu-  (2) Embora o esbeiçamento da cratera fosse devi-
         a ser colhido, ficaram inutilizados pela cinza   nos do curso de Geografia J. Lucas e A. Ribeiro,   do  à acção dos jactos inclinados emitidos pelas fortes
         acumulada; água das cisternas impróprias   um meteorologista e o Sr. Salvador Fernandes,   explosões, o deslocamento das nuvens de cinza e la-
                                            fotó grafo e operador de câmara, sempre apoia-
                                                                               pilli fino era influenciado pela direcção e intensidade
         para consumo de pessoas e gados, devido a   dos, no Faial, por equipas decididas de Bombei-  dos ventos. É conhecida a persistência de ventos dos
         infiltrações de cloreto de amónio; casas da-  ros Volun tários locais. Esta Missão teve, desde o   quadrantes de Oeste nesta região; contudo, durante
         nificadas pelos abalos sísmicos e coberturas   início, a colaboração de várias autoridades civis e   os dias de permanência no Faial devido à ocorrência
         abatidas pelo peso das cinzas embebidas em   militares, sendo de destacar o interesse manifes-  do vulcão tal não aconteceu, facilitando a deposi-
         água; caminhos intransitáveis, não só quan-  tado pelo Ministério da Educação quanto às pes-  ção das camadas de cinza a Oeste, o que permitiu a
                                            quisas a rea lizar e, principalmente, o empenho
                                                                               obser vação dos fenómenos que ocorriam no interior
         do da passagem das cortinas de cinza húmi-  em conseguir a rápida deslocação à Ilha; por isso   do edifício vulcânico.
         da, por falta de visibilidade e pelo escorrega-  a Missão  foi transportada de Lisboa por um avião   (3) A existência de nuvens de vapor de água é de
         dio do piso, como, sempre que chovia, por   PV-2 (Harpoo n), e no Faial pode dispor, para  as   regra no caso dos vulcões submarinos ou de crate-
         as cinzas das encostas escorrerem em rios de   observações de estudo à volta da ilha, em várias   ra alagada.
                                            fases de formação, da cola boração dos Patrulhas
                                                                                 (4) Um dos que foi possível medir, no dia imedia-
         lama. Parte da população faialense acabou   P581 N.R.P. “Príncipe” e P587 N.R.P. “Maio”, sem   to, tinha 1,20 m de comprimento e 0,80 m de largura;
         por seguir para os Estados Unidos, clássico   a qual estas obser vações não se poderiam ter rea-  a altura, visível, era de 0,70 m – e não se sabe a pro-
         local de imigração açoreana, e para o Cana-  lizado. Na ilha contámos sempre com o apoio das   fundidade do afundamento... .
         dá, que rapidamente soube abrir as ”portas”   autoridades locais, nomeadamente os Serviços Me-  (5) A observação directa do vulcão, pela Missão
         a estas populações.                teorológicos e a Junta Autónoma, principalmente   de Geografia, terminara a 25 de Janeiro de 1958, ain-
                                            na pessoa do Eng. Frederico Machado, a quem se
                                                                               da com a erupção numa fase vulcaniana muitíssimo
                                        Z
                                            devem os levantamentos topográficos que per-  intensa; as referências que se seguem são obtidas
                          Raquel Soeiro de Brito  mitiram seguir os deslocamentos das crateras e a   pelos artigos publicados pelos vários especialistas
                                            evolução de conjunto do aparelho eruptivo; mas   que estudaram as fases strombolianas que se segui-
                              Catedrática Emérita
                         Universidade Nova de Lisboa  também a civis, como o Sr. Eduino Labescat, que se   ram praticamente até ao seu adormecimento, a 24
                                            prontificou a emprestar-nos o seu barco de recreio   de Outubro daquele ano, a maior parte das quais
                                            (com a condição de ir comnosco, acompanhado pe-  reunidas pelo Prof. Victor Hugo Forjaz (que realizou
                                            los seus amigos e ”homens de confiança” Carlos   vários estudos nomeadamente sobre a evolução dos
            No dia 16 de Outubro será passado na   Peixoto e Manuel Duarte), sem o que não podería-  materiais expelidos pelo vulcão, suas deformações
          Academia de Marinha, durante a Sessão   mos ter feito a primeira incursão ao ilhéu.   topográficas e degradação térmica) na obra “Vulcão
          Comemorativa evocativa do Vulcão dos   A esta  Missão seguiu-se outra dos Serviços Geo-  dos Capelinhos – retrospectivas”, em homenagem
          Capelinhos, um filme relativo aos primei-  lógicos de Portugal e observações várias de especia-  ao Eng. Frederico Machado.
          ros meses da erupção.             listas estrangeiros, entre os quais os americanos W.T.   (6) Fenómeno vulgar  devido quer ao assentamen-
                                            McGuinness, do Lamont Geological Observatory, e   to quer ao abatimento do material.
















































         28  SETEMBRO/OUTUBRO 2007 U REVISTA DA ARMADA
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