Page 316 - Revista da Armada
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Repuxo stromboliano (Dezembro,1957; foto gentilmente Lavas escoriáceas caindo para o mar (Dezembro,1957; foto Setembro,1979: aspecto da península formada pela erupção,
cedida, então, pelo eng. F. Machado). gentilmente cedida, então, pelo eng. F. Machado). vendo-se o que então restava do cone central stromboliano
e do anel surtseyano de cinzas.
zes magmáticos com a configuração de couve- de vulcânica recomeça (terá mesmo sofrido mou um cordão de “areia” negra ligando o
-flor que, após terem rolado pelos flancos da uma paragem total ou só um hiato nas gran- edifício vulcânico em construção, ao antigo
nova ilha, alastravam pela superfície do mar. des explosões?) retoma o grau de intensida- embarcadouro de Porto Comprido; aumen-
Tudo manifestações pseudo-vulcanianas. Rara- de inicial. Ao analisar a sua evolução, nas co- tando rapidamente o seu volume, pouco a
mente funcionava uma só boca; três e quatro memorações do Ano Geofísico Internacional pouco, deixou de ser atravessado pelo mar
simultâneas era frequente, como frequente (1958, em Paris) os especialistas foram unâ- e formou um largo promontório triangular,
era também o seu funcionamento alternado. nimes ao declararem que este fora o vulcão com a nova cratera como vértice.
A altura a que o material sólido expelido su- mais impetuoso dos últimos anos. Na noite de 16 de Dezembro, após um dia
bia não era afectada pelo vento – variava, sim, Tendo regressado do Faial na tarde de 22 de intensos paroxismos, de forte queda de
conforme a intensidade da explosão – e atingiu de Outubro, não pudemos presenciar estas cinzas e de lamas, ocorreram, pela primeira
o máximo de 1400 m, nesta fase, enquanto as ocorrências importantes na evolução do vul- vez com notoriedade, pequenas emanações
brancas nuvens de vapor de água, ultrapas- cão: o abatimento do ilhéu e o ressurgimento de lava fluida, emitidas por várias bocas
sando em muito os 2000 m que o clinómetro da erupção. Mas tinhamo-nos cruzado com o actuan do ora simultâneamente ora em al-
podia medir, se dissipavam lentamente impe- Dr. Georges Zbyszeweski, geólogo dos Ser- ternância, actividade que se prolongou até
lidas pelos ventos. Sensíveis aos ventos eram viços Geológicos, que as presenciou e, mais ao dia 20; era uma lava de basalto olivínico,
também, de certo modo, as “chuvas” de cinza tarde, teve a amabilidade de no-las transmi- de solidificação rápida, que escorria para o
e lama que, em enormes extensões, se esten- tir: violentas e sucessivas explosões fizeram mar em grandes blocos de superfície rugosa
diam como cortinas cinzento-azuladas, ora abrir duas locas laterais, uma no dia 24, logo – episódios de caracter stromboliano, símbolos
sobre o mar, ora atingindo a terra antes de en- no dia seguinte colmatada pelos materiais de mudança de comportamento da activida-
trarem na circulação da atmosfera; a primei- expelidos, outra a 26; as explosões, violentas, de vulcânica, devida a variações de tensão
ra queda de cinza em terra (noite de 5 e parte sucediam-se muito próximas umas das ou- no interior da câmara magmática. Novos e
do dia 6 de Outubro), abrangeu mais de 1100 tras; ao começo da tarde do dia 29 iniciam-se mais intensos episódios deste tipo repetir-
ha, tendo sido medidos 29 cm de espessu- os desabamentos do ilhéu, em ”fatias suces- -se-iam em Maio.
ra sobre um telhado das casas dos faroleiros, sivas”; parecia que o vulcão se ia extinguir. Ao regressarmos ao Faial a 2 de Janeiro,
contíguas ao farol o aspecto da extre-
e 5 cm a uns 2 km. midade oeste da
Num dos dias de Ilha era totalmen-
grande intensidade te diferente: estava
de queda, às 1100 consolidado o pro-
da manhã, apesar montório que liga-
do sol radiante, foi va o “velho” Faial
necessário acender à nova cratera (que
a luz eléctrica na entretanto havia
nossa casa-vigia... migrado para Les-
e algumas pessoa s te, aproximando-
sentiram-se mal se de terra cerca de
devido ao cheiro in- 500 m), podia-se
tenso a gás sulfídri- descer de jeep pelo
co e a outros com- Após uma forte explosão, cinzas e fumos elevam- Violenta explosão cipressoide com grande queda de cinzas e emanação Porto Comprido e
postos de enxofre. se ainda a grande altura (11-10-57; foto tirada a de gases (17-10-57). aproximarmo-nos
bordo do navio-patrulha “Príncipe”).
Um vento intenso da base do cone
acompanhava a passagem destas nuvens; era Mas passadas umas horas, iniciava-se o re- vulcânico, de onde filmei várias erupções
um ambiente sinistro e inquietante, mais do novo da erupção, exactamente com as mes- de grande intensidade. Logo recomeçámos
que aquando das grandes explosões, porque mas características do início; os fenómenos a observação sistemática, envolvendo de
estas se desenrolavam um pouco mais longe de abatimento e recomeço eruptivo reprodu- novo longos períodos ininterruptos. Num
de nós, e, ao mesmo tempo, de uma beleza ziram-se por três vezes, até restarem apenas deles ocorreu uma das explosões mais lon-
dantesca. “dois fragmentos” do edifício primitivo; só gas e violentas que nos foi dado ver: durou
No fim dos primeiros dois meses de in- no dia 7 de Novembro começa a emergir o das 0905 às 1435, com várias crateras a fun-
tensíssima actividade vulcânica, as cinzas que viria a ser a base do aparelho vulcânico cionar em simultâneo, lançando jactos ci-
cobriam uns 2500 ha de terras, antes de mi- ainda existente. O material dos abatimentos pressoides que chegaram aos 1400 m, sempre
lho e de pastagens. (devido à falta de apoio do anel construído, acompanhados pela expulsão de materiais
E a vida da erupção seguia nestas alterna- em conseqüência do esvaziamento parcial grosseiros (4) que ora caiam dentro da cra-
tivas, até ter ocorrido, de 29 para 30 de Ou- da câmara magmática e dos ataques das va- tera ou rolavam pelas encostas (os maiores
tubro, o afundamento do ilheu; e quando, gas a um material muito pouco consistente), e mais densos), ora caiam no mar, forman-
logo nos princípios de Novembro, a activida- impelido pelas correntes litorais, logo for- do bancos flutuantes de lapilli e crivando-o
26 SETEMBRO/OUTUBRO 2007 U REVISTA DA ARMADA