Page 349 - Revista da Armada

PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL

D. Rodrigo de Sousa Coutinho
D. Rodrigo de Sousa Coutinho

asceu D. Rodrigo de Sousa Coutinho Teixeira de Andra- Martinho de Mello mandou constituir o Dique do Arsenal da Marinha,
de Barbosa em Chaves, a 3 de Agosto de 1755, sendo fi- D. Rodrigo mandou educar engenheiros e construtores, sem os quais o di-
Nlho de D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho e de D. que não seria utilizado. De salientar, da sua autoria, um vasto plano
Ana Luísa Joaquina Teixeira de Andrade Barbosa. de desenvolvimento para os domínios ultramarinos portugueses,
Afilhado de baptismo de Sebastião José de Carvalho e Melo, fu- especialmente no referente ao Brasil, estudo que foi considerado o
turo Marquês de Pombal, a sua educação é marcada pelos concei- mais completo e objectivo feito até à data.
tos que presidiam às luzes, de que seu padrinho foi um importante A sua notável acção na área financeira e económica é am-
divulgador e executor. plamente reconhecida e
Frequentou o Real Co- por esse facto, em 1801,
légio dos Nobres a que se nomea do Ministro e Se-
seguiu, a partir de 1773, o cretário de Estado da Fa-
curso jurídico na então re- zenda e Presidente do
estruturada Universidade Real Erário. O impulso
de Coimbra, onde adqui- dado à sistemática explo-
riu uma formação intelec- ração em bases científicas
tual muito próxima das do Ultramar, é um dos
ideias marcantes do sécu- exemplos das inúmeras
lo XVIII europeu, carac- e importantíssimas refor-
terizando-as como sendo mas realizadas por D. Ro-
o doce caminho da filosofia e drigo até 1803, data em que
da ciência e manifestando, pediu a demissão por não
desde logo, a sua admira- aceitar ser conivente com
ção pela Inglaterra. as medidas promovidas
Iniciou a carreira diplo- por influência dos políticos
mática como Ministro jun- francófilos.
to da Corte de Turim, ten- Atravessa então um pe-
do sido, em 1796, nomeado ríodo de afastamento polí-
para o cargo ocupado ante- tico mas acompanha a Fa-
riormente por Martinho de mília Real na ida para o Rio
Mello e Castro que, como de Janeiro, desígnio de que
Ministro e Secretário do foi um incansável defen-
Estado da Repartição da sor, e é no Brasil, quando
Marinha e do Ultramar, ganha novamente a con-
durante duas décadas e fiança política do Príncipe
meia, tinha realizado, com Regente e se torna o seu
assinalável êxito, uma pro- principal conselheiro polí-
funda reestruturação e mo- tico, que este o nomeia, em
dernização da Marinha. 1808, Ministro da Guerra e
Da notável actividade dos Negócios Estrangeiros
legislativa de D. Rodrigo é de mencionar: a instituição da Junta da e concede-lhe, em Dezembro desse mesmo ano, em reconhecimen-
Fazenda da Marinha e a nomeação de comissários para assegurar a to pelos altos serviços prestados, o título de Conde de Linhares.
bordo dos navios a administração da fazenda real; a regulamenta- Compete-lhe então a complexa missão, que cumpre com assina-
ção do Conselho do Almirantado; a criação da Escola de Constru- lável êxito, de iniciar a criação de um Estado a partir de um vice-
ção Naval e do Corpo de Engenheiros; a fundação do Observatório -reinado colonial, alicerçado no sistema feudal das donatarias e
da Marinha; a constituição da Brigada Real da Marinha e a edifica- das capitanias gerais. Elabora e põe em execução vários projectos
ção do Hospital Real da Marinha. Também muito importante foi a entre os quais se devem destacar os relativos à Administração da
acção no sentido de aumentar o efectivo dos navios da Armada. É Fazenda Real do Reino e o seu Restabelecimento, à Política Relati-
durante o seu ministério que, em 1797, uma força naval portugue- va aos Domínios Espanhóis na América e aos Tratados de Aliança
sa colabora no bloqueio de Cádis e no ano seguinte a esquadra do e Comércio com a Inglaterra.
Marquês de Niza apoia o Almirante Nelson no bloqueio a Malta e D. Rodrigo de Sousa Coutinho veio a falecer no Rio de Janei-
no ataque a Tripoli. Em 1798, por iniciativa de D. Rodrigo, é criada ro, em 26 de Janeiro de 1812. Termina os seus dias um verdadeiro
a Sociedade Real Marítima, que tinha como finalidade recuperar Homem de Estado e um político das luzes que procedeu com êxito
a produção de cartas náuticas e geográficas assim como o fabrico a profundas reformas administrativas e financeiras, tendo a sua
de instrumentos náuticos, actividades que se encontravam inacti- acção governativa incindido na mudança das mentalidades e das
vas. Conforme escrito pelo Marquês do Funchal: Martinho de Mello instituições, particularmente na Marinha.
organizou as esquadras, D. Rodrigo organizou a sua administração [....] Z
REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2007 23