Page 364 - Revista da Armada
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MENSAGEM DE NATAL
“E NASCEU A VIDA”
“E NASCEU A VIDA”
“Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo:
Hoje na cidade de David, nasceu-vos um Salvador” (Lc. 2,10-11)
esta quadra natalícia à qual ninguém fica indiferente e em amor sincero. Não como estranha forma de vida, mas como senti do
que se faz memória de mo mentos e princípios salutares e para a vida.
Ncongregadores – a paz, a família, o diálogo, a sinceridade, a No exercício pleno da nossa liberdade, no uso da máxima liberdade
partilha … – gostaríamos de trazer a esta reflexão uma abordagem que está em nós, esta desenvolve-se no pleno dom de si mesmo.
diferente: E se nós pensássemos na “vida”? Amar é… amar a vida como um dom.
É verdade: antes de pensar na “nossa vida”, pensar na “minha vida”. Amar a sua própria vida como um carreiro através do mundo.
E fazê-lo sem ponta de narcisismo mas como um exercício salutar: E de um modo mais efectivo, a partir do primeiro Natal histórico, o
sem grandes dilemas existenciais, sem dramatismos nem espécie al- crente sabe que é convidado a fazer este “caminho” com a marca espe-
guma de morbidez. cial da solidariedade divina.
Fazê-lo com a nossa disponibilida- Mesmo que este “Deus companhei-
de de caminhantes e alicerçados numa ro de jornada” tenha uma maneira às
serenidade tatuada no nosso interior. vezes estranha de estar presente.
Gostávamos que fixássemos a nossa Num dos últimos encontros pro-
atenção neste preciosismo de um tem- movidos por Bento XVI, em que se
po de paragem. propunha ouvir os jovens nas suas
Um tempo de paragem para reflec- angústias e desencantos, foi interpe-
tirmos sobre o que somos. lado por um deles acerca dos gran des
Não somente aquilo que vamos problemas do mundo e de um “certo
realizando, ou deixando por reali- silêncio de Deus”.
zar, mas na natureza mais intrínseca Esta abordagem não incomo dou
que nos constitui, o que somos cha- minimamente o Sumo Pontí fice por-
mados a ser: o que representa e vale que ele próprio em recente visita ao
a nossa vida. campo de extermínio de Auschwitz
Há em todo o ser humano uma rezou assim: ”Senhor, porque silen-
orientação vital e que nesta quadra ciaste?”.
natalícia exerce em nós uma maior De facto, hoje Deus continua a fa lar
aproximação, pese, embora, a vora- tão alto como um dia em Belém.
gem de consumismo que nos envol ve Lá, alguns tentaram que a sua voz
ou as diferentes crises que assolam a fosse controlada. Hoje, muitos assu-
“Aldeia global”, sendo essa orien tação mem o direito de O mandar calar.
mais um horizonte de vida e que po- Deus, e disso temos a certeza, vai
deríamos designar por: “Amar – um continuar a respeitar a nossa liber-
momento ou um projecto que nos dade.
envolve?” O mais grave é que quanto mais
Esta quadra é dedicada à espe rança silenciamos Deus, mais vamos silen-
que não desilude, por isso nos reuni- ciando os outros e os muros entre as
mos com aqueles que nos estão mais pessoas vão-se tornando cada vez me-
ligados por razões do coração. nos virtuais.
As gerações que continuamente se E isso é que é trági co. Isso não é
renovam têm necessidade de tal es- O Menino Jesus Salvador do Mundo. Natal.
perança. Têm sempre mais necessi- Josefa de Ayala, cerca de 1660-1670. Amar a vida será assim um desa fio
dade dela. Lisboa – Museu Nacional de Arte Antiga. e uma vocação universal.
Somente o amor, na sua mais genu ína e pura formulação, consegue No dia sete de Julho de 2007 foram proclamadas as “Sete Maravilhas
alimentar a esperança. do mundo da Era Moderna” e segui damente foram também eleitas as
É pertinente a pergunta: Nas encruzilhadas da vida, onde podemos sete “Maravilhas Nacionais”.
encontrar a esperança? Recordamos este acontecimento pelo seu enorme mediatismo, mas
Muitas vezes andamos á procura, mas procuramos normalmente também para afirmarmos que antes dessas “ maravilhas”, a primeira
muito longe… maravilha verdadeiramente grande, é o milagre da vida.
Talvez o sentido da busca deva inverter-se: no nosso íntimo, no nosso É o milagre de existirmos. Todos concordarão connosco.
coração é onde devemos buscar as razões mais válidas. Em tempo de Natal pensar um pouco nas razões da nossa exis tência
Não será, porventura, uma opção fácil. faz, concerteza, descobrir a verdade, a beleza e o sentido do amor ge-
Para isso é necessário, muitas vezes, remar tão somente pela ver- nuíno.
dade que liberta. Para todos os militares, militarizados e civis da Marinha bem como
Existe por isso em nós, uma sede, uma vontade, um desejo de vi- para todos os familiares votos de um Santo Natal com muito Amor,
vermos a vida a plenos pulmões, de a respirar sempre com plena in- Verdade e Vida!
tensidade. Z
Somos peregrinos da vida, peregrinos unidos para amar. José Ilídio Fernandes da Costa
E aqui mesmo, na vida, se descobre o porquê da sublimação do CMG, Capelão