Page 103 - Revista da Armada
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Biobibliografia do Almirante Teixeira da Mota
Biobibliografia do Almirante Teixeira da Mota
o ano em que passam vinte e cin- mirante Teixeira da Mota deixou uma he-
co anos do falecimento do Vice-Al- rança profunda na área cultural da Marinha.
Nmirante Avelino Teixeira da Mota Foto SAR FZ Pereira O livro agora publicado, com cerca de
(1920-1982), foi apresentado na Biblioteca 300 páginas, contém o inventário da biblio-
Central da Marinha no passado dia 22 de grafia de Teixeira da Mota, que se contam
Novembro um livro: “O Trabalho de uma por muitas centenas de títulos. A primeira
Vida. Biobibliografia de Avelino Teixeira da parte é reservada à sua Biografia, estando
Mota (1920-1982)”, da autoria do 1TEN Car- anexados os registos da sua vida militar e
los Manuel Valentim, Professor Efectivo da da sua actividade científica que foram en-
Escola Naval. contrados. A segunda metade do trabalho
A obra, com a chancela das Edições Cul- é dedicada por inteiro à bibliografia daque-
turais da Marinha, e Prefácio do Almirante le distinto oficial de Marinha, encontrando-
Ferraz Sacchetti, Presidente da Academia de Marinha, foi apresentada -se em forma introdução um comentário à
pelo Professor Doutor Francisco Contente Domingues, Professor Associa- totalidade da sua obra. Segue-se uma análise
do da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Vice-Presidente das correntes culturais e científicas que mais
da Academia de Marinha. influenciaram o Vice -Almirante Avelino Tei-
Avelino Teixeira da Mota (1920-1982) contribuiu de forma proeminen- xeira da Mota, autor e cientista reconhecido
te para a renovação da historiografia portuguesa na segunda metade do internacionalmente, e por fim a bibliografia
século XX. A sua produção escrita foi assinalável, em áreas tão diversas numerada e anotada.
como a História, a Cartografia, a Etnografia, a Geografia, a Antropologia Como referiu o Professor Francisco Contente Domingues na apresenta-
ou a Topografia, publicando dezenas de livros e opúsculos e deixando ção, este livro do 1TEN Carlos Manuel Valentim, sendo um instrumento
por um número infindável de periódicos milhares de artigos de reconhe- de trabalho, vem preencher uma lacuna que há muita se fazia sentir em
cida qualidade científica. Refira-se, ainda, que para além de co-fundador, relação à vasta obra do Almirante Teixeira da Mota. Z
com o Almirante Sarmento Rodrigues, da Academia de Marinha, o Al- (Colaboração da ESCOLA NAVAL)
O Ano de 1492
O Ano de 1492
O da Verdadeira Primeira Viagem
O da Verdadeira Primeira Viagem
azer História não é tarefa fácil. Não basta procurar as fontes, é páginas se têm escrito sobre este apaixonante assunto e as dúvidas
indispensável saber interpretá-las, o que nem sempre se con- mantêm-se. Uma das perguntas que se formulam e para a qual ainda
Fsegue fazer correctamente, sem paixão. A situação agrava-se, não se encontrou resposta é esta: qual a razão que levou D. João II a
especialmente, quando se trata de temas respeitantes à História do propor, e conseguir, a alteração do meridiano que veio a chamar-se de
nosso País, em que a paixão se transforma em nacionalismo, por ve- Tordesilhas, de 100 para 370 léguas, para oeste de Cabo Verde? Esta
zes, um nacionalismo doentio, exacerbado, de que o próprio investi- é uma questão que se manterá até, que um dia, surja uma prova, um
gador não se dá conta. documento fidedigno que possa trazer-nos a expli-
No passado século, muitos de nós assistimos a cação para esse grande empurrão de 270 léguas que
vários casos, que fizeram correr muita tinta e que o Príncipe Perfeito aplicou àquele famoso meridia-
deram origem a situações verdadeiramente lastimá- no. Até lá, o que devemos fazer é manter o assunto
veis. E tal aconteceu devido ao facto dos defensores em fogo brando e, recorrendo à ficção, imaginar his-
dessas novas teses, apesar de estarem convencidos tórias em que o assunto seja levantado e, portanto,
que se encontravam no caminho certo, não terem os não seja esquecido até que um dia…
conhecimentos indispensáveis para tratar dos temas Tudo o que acabamos de dizer vem a propósito
que escolheram. E o resultado foi serem confronta- quando lemos a obra agora publicada do Dr. Ireneu
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dos por especialistas que denunciaram os seus erros, Cruz , passada nas águas agitadas do passado, com
por vezes muitos, o que naturalmente desacreditava o título O ANO DE 1492 O DA VERDADEIRA PRI-
os seus autores. Assim, mesmo aquilo que diziam MEIRA VIAGEM. Trata-se de uma história muito
acertadamente passou a ser posto em dúvida por um bem arquitectada, que traduz, com muita realidade
leitor pouco conhecedor da matéria em causa. a vida a bordo dos navios portugueses dos fins do
Quem se não lembra da tentativa de fazer Cristó- século XV. E prevenimos o leitor que, ao terminar a
vão Colombo português, da confusa leitura da pedra sua leitura só lhe apetece atravessar rapidamente o
de Dighton ou da pré-descoberta da Austrália pelos Atlântico, dirigir-se à Cidade Velha, entrar na anti-
Portugueses? Não estamos a negar a boa intenção destes aventureiros e ga gafaria, hoje transformada em museu, subir apressadamente ao pri-
mais, acreditamos que, algumas destas ou de novas teses venham um meiro andar, correr para a vitrina oitocentista (ao lado do quadro de
dia a provar-se como válidas com o aparecimento dum documento Portinari, não há portanto que enganar) e contemplar a tal carta náu-
salvador. Foi o que aconteceu com Kenneth McIntyre, que tanto lutou tica de autor anónimo português. Prepare-se para apreciar uma prova
pela prioridade portuguesa da descoberta da Austrália, que atribuía a inequívoca da descoberta pré-cabralina do Brasil. E, quem sabe, se não
Cristóvão de Mendonça, e tanto foi atacado. E, agora, surge nos jornais antecipará, mesmo, a chegada de Colombo à América.
a notícia do aparecimento de uma carta náutica que garante a presença Z
dos Portugueses na Austrália no século XVI. Se se confirmar, que pena A. Estácio dos Reis
nos faz que Kenneth já não possa ter essa enorme satisfação. Nota CMG
Mas as dúvidas, na nossa História, não param. Teriam sido, Co- 1 Esta Revista, no seu nº 409, de Junho de 2007, já se ocupou de uma outra obra deste au-
lombo e Cabral, os primeiros a pisarem as terras da América? Muitas tor, intitulada Narração da Tormentosa Viagem dos Desterrados nos Mares das Índias.
REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2008 29