Page 98 - Revista da Armada
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nas em terra onde possa recomeçar os traba-  Marinhas para o Brasil tem grande importân-  criaram a nação brasileira dependiam exclusi-
         lhos. Provisoriamente será instalada no quartel  cia, em larga medida devido à notável acção  vamente das ligações por mar. Nestas circuns-
         da Rua do Ouvidor, logo em Março de 1808,  do seu comandante, José Maria Dantas Pereira.  tâncias, foi essencial o estabelecimento no Rio
         mas passa a seguir para o mais amplo e nobre  Ela será nomeadamente:   de uma das mais notáveis instituições de en-
         mosteiro de S. Bento, instalações onde se vai   O berço da marinha do Brasil, que é já uma  sino científico ligada à Marinha da Europa, a
         manter até 1835.                   realidade em 1822;                 única do seu género em Portugal.
           Dantas Pereira ordena que a pre-                                                                    Z
         ciosa biblioteca seja aberta à consul-                                           Prof. Doutor António José Telo
         ta geral e, com este passo, cria a pri-                                               Professor na Academia Militar
         meira biblioteca pública do Brasil,
         que deu origem à biblioteca do Rio                                           Bibliografia sumária
                                                                                       AAVV – Os Primeiros Cem Anos da Escola
         de Janeiro. É de salientar que a Aca-                                        Naval, Edição Escola Naval, s.d.
         demia Real dos Guardas-Marinhas                                               Albuquerque, Luís – Para a História da
         foi à única instituição académica que                                        Ciência em Portugal, Lisboa, Livros Horizon-
         se transferiu por completo de Por-                                           te, 1973.
         tugal e tinha a melhor colecção de                                            Amaral, Manuel – Olivença, 1801 – Portu-
         cartas náuticas da América Latina.                                           gal em Guerra do Guadiana ao Paraguai, Lisboa,
                                                                                      Tribuna da História, 2004.
         Em 1810, completando a sua acção,                                             Barata, Manuel Themudo e Teixeira, Nuno
         cria-se no Brasil a Academia Militar                                         Severiano – Nova História Militar de Portugal,
         do Rio de Janeiro, vocacionada para                                          vol. 3, Lisboa, Círculo de Leitores, 2004.
                                                                                       Black, Jeremy – The British Seaborne Empire,
         escola dos oficiais de engenharia e                                           Londres, Yale University Press, 2004.
         artilharia do Exército. Está repro-                                           Brandão, Raul – El-Rei Junot, Lisboa, Im-
         duzido do outro lado do Atlântico                                            prensa Nacional, s.d.
         o esquema básico da formação dos                                              Chaby, C. Bernardo Pereira de – Excertos
         oficiais das Forças Armadas existen-                                          Históricos e Colecção de Documentos Relativos à
         te em Portugal, com a importante di-                                         Guerra Denominada da Península e às Anteriores
                                                                                      de 1801, do Roussilon e da Catalunha, 5 vols., Lis-
         ferença que ambas as escolas se vão                                          boa, Imprensa Nacional, 1863-1882.
         abrir ao mundo civil dentro em bre-                                           Esparteiro, António Marques – Três Séculos
         ve, formando um dos mais impor-                                              no Mar, 30 vols., Lisboa, Ministério da Mari-
         tantes pilares do ensino superior no                                         nha, 1974-1987.
                                                                                       Gotteri, Nicole – Napoléon et le Portugal, Pa-
         Brasil por muitas décadas.                                                   ris, Bernard Giovannangeli, 2004.
           Os cursos da Academia Real de                                               Hall, C. – Wellington’s Navy – Sea Power
         Guardas-Marinhas recomeçam no                                                and the Peninsular War 1807-1814, Londres,
         Brasil ainda em 1808, tendo passa-                                           Chattam, 2004.
                                                                                       Junot, Laure – Mémoires de Mne la Duches-
         do por uma reformulação curricular                                           se d’Abrantes ou Souvenirs Historiques sur Na-
         também ela concebida por José Ma-                                            poléon, la Révolution, Le Directoire, Le Consulat,
         ria Dantas Pereira, com o reforço do                                         l’Empire et la Restauration, 18 vols., Paris, Lad-
         ensino da Matemática. Em 1810, o seu notável   O berço da Armada portuguesa do século   vocat, 1831-1835.
                                                                                 Maia, Prado – A Marinha de Guerra do Brasil na Colónia e
         comandante dá mais um passo inovador: abre  XIX, que funciona no Rio, até 1822, e em Lis-  no Império, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio, 1965.
         o ensino a civis que o queiram frequentar. Mui-  boa depois dessa data;   Macedo, Jorge Borges de Macedo – O Bloqueio Con-
         tos dos futuros oficiais da marinha de guerra   Um imenso incentivo para o desenvolvi-  tinental – Economia e Guerra Peninsular, Lisboa, Del-
         e mercante do Brasil passam por estes bancos,  mento do ensino superior no Brasil, que rece-  fos, 1962.
         como é o caso, para citar só dois exemplos, do  be uma das poucas instituições portuguesas   Mathias, Herculano Gomes – História do Brasil, Lis-
         Almirante Barroso e do Visconde de Inhaúma.  vocacionadas para a matemática, a náutica e   boa, Verbo, 1972.
                                                                                 Monteiro, Armando Saturnino – Batalhas e Comba-
         José Maria Dantas Pereira é promovido a Che-  as ciências exactas;    tes da Marinha Portuguesa, 8 vols., Lisboa, Sá da Costa,
         fe de Esquadra em 1817 e regressa a Portugal   A origem da primeira biblioteca pública   1993-1997.
         em 1819, integrando então o Conselho do Al-  do Brasil.                 Norton, Luís – A Corte no Brasil, S. Paulo, Companhia
         mirantado.                                                                   Editora Nacional, 1979.
                                                                                       Oliveira, João Brás de  Marinha Portuguesa
           A independência do Brasil, pro-                                            no Tempo dos Franceses, Lisboa, Clube Militar
         clamada em 1822 e reconhecida por                                            Naval, 1909.
         Portugal em 1825, levou a uma divi-                                           Oliveira, Joaquim da Mata – O Poder Ma-
         são da Academia Real dos Guardas-                                            rítimo na Guerra Peninsular, Lisboa, Coopera-
         Marinhas no Rio, a única existente                                           tiva Militar, 1914.
                                                                                       Pereira, José Rodrigues – Campanhas Na-
         nos “reinos unidos”. Os seus lentes                                          vais 1807-1823, 2 vols., Lisboa, Tribuna da
         e estudantes tiveram de optar entre                                          História, 2005.
         as duas nacionalidades. Em 1825,                                              Serrão, Joaquim Veríssimo – História de Por-
         quando se compreendeu que a in-                                              tugal vol. VI, Lisboa, Verbo, 1982.
                                                                                       Soriano, Simão José da Luz – História da
         dependência do Brasil é irreversível,                                        Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Par-
         foi criada uma nova Academia Real                                            lamentar em Portugal, Primeira Época, Tomo II,
         dos Guardas-Marinhas em Lisboa,                                              Lisboa, Imprensa Nacional, 1867.
         que reocupa as instalações originais                                          Telo, António José e Torre, Hipólito de La
         no Terreiro do Paço. A Academia do                                           – Portugal e Espanha nos Sistemas Internacionais
                                                                                      Contemporâneos, Lisboa, Cosmos, 2000.
         Brasil dará origem à Escola Naval da                                          Telo, António José – História da Marinha
         nação irmã. Também a Academia portuguesa   Este passo é especialmente importante para   Portuguesa – Homens, Doutrinas e Organização 1824-1974,
         receberá essa designação em 1845, por decre-  o Brasil, pois este não podia existir sem uma ar-  Lisboa, Academia de Marinha, 1999.
                                                                                 Thiébault, Baron de – Relation de l’Expedition du Portu-
         to da Rainha D. Maria II, mantendo-se no Ter-  mada e uma marinha comercial minimamente   gal Faite en 1807 et 1808 par le 1º Corps d’Observation de la
         reiro do Paço até 1936, quando passou para as  desenvolvida. Estamos a falar de um território   Gironde, Devenue Armée du Portugal, Paris, 1817.
         instalações no Alfeite.            onde não existiam ligações terrestres entre as   Wilcken, Patrick – A Corte à Deriva, Lisboa, Livraria
           A mudança da Academia Real dos Guardas-  principais regiões e, logo, onde as redes que   Civilização, 2005.

         24  MARÇO 2008 U REVISTA DA ARMADA
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