Page 217 - Revista da Armada
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Instalações da Marinha
Instalações da Marinha
6. O MUSEU DE MARINHA
O Museu de Marinha tem as suas raízes mais profundas no decreto dá acesso ao 1º piso, onde se situam as Salas Seixas e D. Luís, áreas
real de 22 de Julho de 1863 assinado por D. Luís, o único monarca por- destinadas a exposições temporárias. Na varanda da primeira destas
tuguês que como oficial da Armada comandou um navio de guerra. O salas podemos observar o Pátio Interior, larga área relvada pertença
seu acervo, cujas primeiras peças pertencem à colecção de modelos de do Museu, onde se planeia criar um pólo museológico dedicado prio-
navios dos séculos XVIII e XIX, oferecidos pela rainha D. Maria II à Ma- ritariamente à artilharia naval. A nascente estão instalados, em áreas
rinha, tem sido enriquecido ao longo dos tempos através de aquisições e restritas, o Departamento do Património, o Gabinete de Imagem e as
doações, salientando-se o valioso legado de Henrique Maufroy de Seixas, Reservas do Museu.
em 1948, constituído por um avultado número de modelos, desenhos, Descendo ao piso térreo e continuando pela ala norte, após a já ci-
aguarelas e planos de navios, além de chapas e cópias fotográficas. tada Sala do Tráfego Fluvial, entramos na Sala da Pesca Longínqua, sala
Instalado desde 1962 nas alas poente e norte do Mosteiro dos Jeróni- dedicada à árdua gesta dos pescadores portugueses – a pesca do baca-
mos, em Belém, num espaço de 50.500 m2 dos quais 10.000 m2 de área lhau nos mares do Norte -, nela estão expostos modelos que represen-
expositiva, tem a particularidade, em relação a outros seus congéneres, tam navios bacalhoeiros protagonistas das mais importantes campanhas
de representar para além da Marinha Militar as Marinhas de Comércio, de pesca. Seguidamente surge a Sala da Pesca Costeira onde se exibem
da Pesca, de Recreio e a indústria de Construção Naval, encontrando- modelos de embarcações de pesca de uma ampla diversidade tipológi-
-se também expostas embarcações de águas interiores, nomeadamente ca, numa relativa homogeneidade de dimensões. Finalmente, no termo
as de tráfego fluvial. deste piso térreo da ala norte, encontramos a Sala das Camarinhas Reais
Fazendo seguidamente uma descrição das actuais instalações do Mu- onde são apresentadas camarinhas utilizadas por D. Carlos e D. Amé-
seu, especialmente as abertas ao público, constata-se que elas se esten- lia, preservadas após o desmantelamento do iate real Amélia em 1938,
dem por 13 salas, uma galeria e um pavilhão anexo. bem como louças, cristais e faqueiros que fizeram parte da palamenta
A primeira sala localizada no piso térreo do topo sul da ala nascente, deste navio e do iate Sirius.
é a Sala de Entrada, espaço considerado de preparação para a visita, Retornando à ala nascente do piso térreo e saindo para o exterior, po-
onde uma estátua do Infante D. Henrique ladeada pelas dos navegado- demos visitar a Galeria, espaço dedicado a embarcações tradicionais
res portugueses que sob a sua orientação iniciaram a aventura atlântica, portuguesas e a peças de artilharia naval dos séculos XVI a XIX. A meio
conferem-lhe uma atmosfera de sobriedade convidativa à contempla- desta Galeria situa-se a entrada para o Planetário Calouste Gulbenkian
ção e à aprendizagem. Atravessando depois a ala nascente, à esquer- e para o Serviço do Pessoal/Secretaria, Serviço Administrativo e Finan-
da, deparamos com uma escada que dá acesso, no piso intermédio, à ceiro, Departamentos de Investigação e de Extensão Educativa, Arquivo
Sala do Oriente com um conjunto heterogéneo de objectos, de fontes Fotográfico e a Biblioteca do Museu. Para norte deste imóvel existem,
e épocas variadas, desde modelos de embarcações orientais, peças de em áreas restritas, as oficinas (carpintaria, modelismo e pintura) aloja-
mobiliário, exemplares de pintura e porcelana chinesa, entre outros, mentos e refeitório da guarnição do Museu.
todos eles, porém, com uma origem comum: o Oriente. Subindo para Percorrida a Galeria entra-se no Pavilhão das Galeotas assim chama-
o 1º piso encontramos, à esquerda, a Sala da Marinha de Recreio onde do por albergar o bergantim e as galeotas construídos para a família real
se exibem modelos de embarcações de lazer que documentam sobre- portuguesa. Este amplo espaço exibe ainda diversas peças históricas en-
tudo as construídas no século XIX. À direita do patamar de acesso ao tre as quais originais de embarcações de pesca e de recreio portuguesas,
1º piso localiza-se a Sala da Marinha Mercante, espaço dedicado à bem como três hidroaviões, sendo um deles o “Santa Cruz”a bordo do
actividade comercial marítima portuguesa, onde para além da exibi- qual Gago Coutinho e Sacadura Cabral concluiram a primeira travessia
ção de diversos modelos de navios, se assinala igualmente a história aérea do Atlântico Sul. À saída deste pavilhão o público visitante tem
e evolução das principais companhias de navegação nacionais. No ao seu dispor uma Loja e uma Cafetaria com esplanada.
topo deste espaço entra-se na Sala da Construção Naval, já situada na O Museu tem necessidade de expandir-se e por isso tem em revisão
ala norte do 1º piso, sala essencialmente consagrada à acti vidade do o seu Plano Director, tendo em vista preparar com dignidade as come-
antigo Arsenal da Marinha sito na Ribeira das Naus, que foi o maior morações, no ano de 2013, dos seus 150 anos.
pólo português de construção naval. Para além das instalações em Belém, o Museu dispõe, nas infraestru-
Regressando à anterior sala e descendo, entramos na área nobre da turas da antiga Fábrica Nacional de Cordoaria, na Junqueira, uma ala
exposição permanente, a Sala dos Descobrimentos onde estão expos- – a Nave da Cocha – espaço utilizado para exposições temporárias e
tos os principais elementos que concorreram para a prioridade por- outros eventos.
tuguesa nas viagens atlânticas e nos descobrimentos de novas terras Também está na dependência do Museu a fragata “D. Fernando II e
e gentes, destacando-se os progressos verificados na construção na- Glória”, lançada à água em 1843 em Damão e reconstruída para partici-
val, bem como os instrumentos de navegação astronómica e alguns par na Exposição de Lisboa de 1998. O navio encontra-se presentemente
exemplares de cartografia naútica. Segue-se a Sala do Século XVIII, na doca seca nº 2 do antigo estaleiro Parry & Son em Cacilhas.
dedicada à actividade naval portuguesa nesse século e no seguinte, Constituem pólos museológicos do Museu de Marinha, o Museu Ma-
merecendo especial destaque o modelo da fragata”D. Fernando II e rítimo Almirante Ramalho Ortigão, sedeado no edifício da Capitania do
Glória”, o último navio da Carreira da Índia. No mesmo piso térreo, Porto de Faro assim como, nos termos do protocolo firmado entre a Mari-
já na ala norte, temos a Sala dos Séculos XIX e XX núcleo composto nha e a Câmara Municipal de Cascais, o Farol-Museu de Santa Marta.
por cerca de 60 modelos que documentam a evolução da Marinha Nos tempos de mudança que vivemos, em que o processo de globa-
de Guerra Portuguesa, bem como as acções em combate e as diversas lização vem subtraindo poder aos Estados, limitando as soberanias, a
actividades por si realizadas. No fundo desta sala encontra-se um pe- identidade dos povos impõe-se cada vez mais como valor a preservar.
queno espaço onde estão expostos modelos de galeotas e bergantins A memória colectiva que o Museu de Marinha reaviva, contribui para
provenientes do espólio doado por Henrique Maufroy de Seixas. Con- a motivação e o reforço de afirmação dos valores que desenvolveram a
tígua, fica a Sala do Tráfego Fluvial espaço consagrado à diversidade Nação Portuguesa e foram determinantes na sua individualidade.
tipológica e funcional das embarcações utilizadas nas vias fluviais de
penetração no interior. Nesta sala, à esquerda, existe uma escada que (Colaboração do MUSEU DE MARINHA)