Page 10 - Revista da Armada
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ESCOLA DE FUZILEIROS

50 ANOS A FORMAR FUZILEIROS, AO SERVIÇO DA MARINHA E DE PORTUGAL

A Escola de Fuzileiros (EF) foi criada em 3 mamento, explosivos, minas e armadilhas,                       Quanto a cursos de natureza comple-

de Junho de 1961, integrada no então recém- operações anfíbias e educação física militar. mentar vocacionados para fuzileiros, o

-criado Grupo Nº2 de Escolas da Armada.        As pistas de lodo e de combate, as longas primeiro foi de Aperfeiçoamento em Socor-

As Instalações Navais de Vale de Zebro caminhadas e os exercícios de sobrevivên- rista, em 1969, seguindo-se o curso de Es-

foram escolhidas para a sua implantação, por cia e nomadização completavam a forma- pecialização em Condutor de Automóveis

se situarem junto à confluência do Rio Coina ção psico-física dos futuros fuzileiros.      (FZV), em 1972.

com a Ribeira do Zebro e já disporem de al-    As experiências colhidas em combate                         Em 3 de Fevereiro de 1969, o crescente

guns edifícios facilmente disponíveis, conjun- pelos primeiros Destacamentos de Fuzi- desenvolvimento e importância da EF,

tamente com um cais que facilitava a forma- leiros foram aproveitadas para introduzir levaram à sua classificação como unida-

ção e treino com botes de assalto                                                                          de independente.

e lanchas de desembarque.                                                                                  Também nesse mesmo ano,

As zonas lodosas envolventes                                                                               foi criada a Força de Fuzileiros

e a sua proximidade da Mata da                                                                             do Continente, actualmente

Machada propiciavam excelentes                                                                             designada Base de Fuzileiros,

condições para a aprendizagem                                                                              Unidade que passou a ter a res-

de progressões tácticas e para o                                                                           ponsabilidade de constituir e

desenvolvimento de capacidades                                                                             aprontar as Unidades de Fuzi-

psico-físicas dos instruendos.                                                                             leiros que partiam para África e

A existência, no seu interior,                                                                             receber as que dali provinham,

de árvores de grande porte fa-                                                                             no termo da sua comissão de

cilitou a construção de pistas de                                                                          serviço. Deste modo, ficou a EF

combate e a caldeira que alimen-                                                                           exclusivamente dedicada à sua

tava o chamado “Moinho D’El                                                                                missão fundamental, ou seja,

Rei”, o maior moinho de maré                                                                               à formação militar, técnica,

da região, foi aproveitada para    Vista panorâmica da Escola de Fuzileiros.                               moral e física dos seus alunos,
construção de uma pista de lodo.                                                                           preparando-os para o desem-

Anteriormente, em Outubro de 1960, a Ma- correcções nos planos de curso, incremen- penho das tarefas específicas dos fuzileiros.

rinha tinha enviado a Inglaterra o 2º Tenente tando-se o treino de combate nocturno,                       Em 1974 com a criação do Corpo de Fuzi-

Pascoal Rodrigues, acompanhado pelos mari- combate na selva, combate corpo a corpo, leiros a EF passou à sua dependência directa.

nheirosLudjeroSilva,BaptistaClaudinoeSan- fogo e movimento, técnicas de guerrilha                          Com o fim da Guerra de África, o con-

tos Santinhos, a fim de frequentarem o Com- e contra-guerrilha e acção psico-social. A ceito de emprego dos fuzileiros foi recon-

mando Course, no Infantry Training Centre dos produção de manuais de elevada qualida- textualizado no ambiente estratégico que se

Royal Marines, em Lympstone, familiarizando- de e as lições aprendidas, baseadas na expe- vivia na altura, no qual a principal ameaça

-se com as técnicas e práticas de actuação                                                                 militar era o Bloco de Leste e o seu po-

daquele corpo de tropas. Foi com os co-                                                                    derio convencional.

nhecimentos então adquiridos, e seguin-                                                                    Foi desactivado o curso de Fuzileiro

do o modelo inglês, que se formaram os                                                                     Especial e os fuzileiros, mantendo o seu

primeiros fuzileiros em Portugal.                                                                          carácter anfíbio, viraram-se, gradual-

O curso inicial foi ministrado por                                                                         mente, para o emprego em cenários de

aqueles militares, no Corpo de Mari-                                                                       guerra convencional.

nheiros, a pessoal oriundo das fileiras                                                                    A formação do fuzileiro sofreu

da Armada. Estes efectivos constituíram                                                                    as necessárias evoluções, quer do

o Destacamento de Fuzileiros Especiais                                                                     ponto de vista organizacional, quer

n.º1 (DFE 1), que partiu para Angola em                                                                    doutrinário, acompanhando a apos-

10 de Novembro de 1961.                     O 2º Tenente Pascoal Rodrigues e os marinheiros Santinhos,     ta estratégica de aproximação aos
   Em Junho de 1962, o DFE 2 seguiu         Silva e Claudino. Os quatro militares da Marinha que frequen-  “Marines” americanos com quem,
                                            taram o curso de Royal Marine Commando em Inglaterra.          durante o final da década de 70 e
para a Guiné com fuzileiros já for-                                                                        toda a década de 80, se realizaram,
mados na EF, sucedendo-se outras

unidades, Destacamentos e Companhias riência recolhida nas campanhas em África, regularmente, treinos e exercícios con-

para os três teatros de operações: Guiné, foram sendo integradas nas matérias dadas juntos. Simultaneamente, vários oficiais

Angola e Moçambique.                           em curso, o que continuamente beneficiou fuzileiros frequentaram cursos de opera-

O recrudescer da guerra naqueles territó- a formação.                                      ções anfíbias em escolas do United States

rios reforçou as necessidades urgentes e sem-  Nesta fase, até ao fim da Guerra de Marine Corps.

pre crescentes de formar fuzileiros, prepara- África, a ideia-força do fuzileiro era a de                  Manteve-se a tradição de trabalho

dos para enfrentar uma guerra de guerrilha um militar de elite, dominando as técnicas técnico no terreno, trazida da Guerra de

e vocacionados para acções essencialmente de combate individual e colectivo adap- África e herdada dos fuzileiros especiais,

ofensivas, de limitada duração e de restrita tadas à guerra de guerrilha, com grande e juntaram-se-lhe as aplicações tácticas

profundidade, a partir da orla ribeirinha.     resistência física e psíquica, expedito e há- da doutrina contemporânea. Foram anos

Tentando corresponder a estas necessi- bil na resolução de situações complexas e marcados pela interacção com a doutrina

dades, a formação englobava aulas teóricas e inesperadas, disciplinado, cumpridor, or- americana e de exercícios internacionais

práticas de táctica, infantaria de combate, ar- gulhoso, corporativo e solidário.          no âmbito da Aliança Atlântica.

10 MAIO 2011 • REVISTA DA ARMADA
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