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HIERARQUIA DA MARINHA                                                                         10

CAPITÃO-DE-TERRA-E-MAR
No Brasil não existia a divisão de
          funções entre os capitães-de-ter-     go de comissário régio nos negócios           meçado naquela colónia a fase das ca-
          ra e os capitães-do-mar. Como         de pau-brasil, visto que não existem          pitanias-de-terra-e-mar, que durou até
foi referido no artigo anterior, Cristóvão      elementos para afirmar, com funda-            ao princípio do século XVIII, quando
Jaques e Martim Afonso de Sousa eram            mento, se teve a seu cargo uma arma-          foi finalmente instituída, de forma per-
capitães-do-mar e governadores em ter-          da, ou se apenas exerceu o comando            manente, a actividade de guarda-costa,
ra. A mesma pessoa exercia os dois car-         de um único navio. Tão pouco parece           com a chegada do seu primeiro navio, a
gos, dando assim corpo a uma função             admissível que Cristóvão Jaques tenha         fragata “N. Senhora da Penha de Fran-
que poderá ser designada por capitão-           exercido as funções de capitão-do-mar         ça”, comandada pelo capitão-de-mar-
-de-terra-e-mar, pouco conhecida e ainda        na expedição de 1521-1522 ao Brasil. É        -e-guerra Amaro José de Mendonça.
menos estudada na história da Marinha.          altamente possível que só tenha sido
                                                capitão-mor das duas caravelas que               Em face do exposto e, relativamente
    A função de capitão-de-terra-e-mar          teve às suas ordens e com as quais rea-       ao Brasil, não parece certo falar separada-
está intrinsecamente ligada à necessi-          lizou uma viagem de exploração e não          mente de capitães-do-mar e de capitães-
dade de conter o comércio e o corso             um cruzeiro de guarda-costa.                  -de-terra, enquanto não se conhecerem
estrangeiro ilegal no Brasil, que amea-                                                       documentos que justifiquem a divisão de
çava perigosamente o domínio portu-                Embora o comércio ilegal praticado         poderes e funções.
guês dessas terras e mares.                     pelos franceses tenha aparecido muito
                                                cedo na costa brasileira, não se revestiu        O que parece sem dúvida irrefutável,
    Jaime Cortesão, (História do Brasil         de grande importância, nem colocou            é que o tema das capitanias-de-terra-e-
nos velhos mapas, Rio de Janeiro, Insti-        em perigo a soberania portuguesa, até         -mar e dos capitães-de-terra-e-mar do
tuto Rio Branco, Vol. 1, 1965, pág. 320),       à deflagração da guerra entre a França        Brasil, entronca directamente na questão
sustenta que Cristóvão Jaques desem-            e a Espanha, em consequência da qual          da segurança dos mares e da estraté-
penhou o cargo de capitão-do-mar ou,            Portugal tentou manter a neutralidade         gia naval portuguesa nos séculos XVI a
simplesmente, capitão-mor no perí-              relativamente a ambos os contendores,         XVIII, que carece de uma nova reflexão
odo de 1516-1519. Porém, parece que             o que desagradou ao governo francês.          global, feita por especialistas em estra-
tal não aconteceu nesta expedição ao            Por isso, a primeira armada guarda-           tégia, com base em documentos e factos
Brasil. Na realidade, de acordo com os          -costa enviada ao Brasil deverá ter sido,     hoje conhecidos.
dados conhecidos, só se pode inferir            apenas, a de Cristóvão Jaques, no pe-
que, no período citado, exerceu o car-          ríodo de 1527-1528. Com ela teria co-                           António Silva Ribeiro
                                                                                                                                  CALM

VIGIA DA HISTÓRIA                                                                             37

CORVETA "VOADOR"

Os elementos que seguidamente se in-            que, juntamente com os anteriores, com ex-    xada por D. João VI e regressaram a Lisboa,
          dicam destinam – se a clarificar um   cepção de Rafael Florêncio, haviam jurado     tendo largado a 2 de Outubro com instru-
          aspecto relacionado com este navio e  fidelidade à Constituição em Março desse      ções rigorosas para, à saída, não içarem a
que na obra do comandante Esparteiro, Três      mesmo ano.                                    bandeira portuguesa.
Séculos no Mar, não se encontra referido.
                                                   A corveta terá entrado no Rio de Ja-          Quase certamente a corveta foi conside-
    O navio largou de Lisboa, com destino       neiro no dia 17 de Setembro, arvorando        rada, em tribunal, como boa presa pois pas-
ao Brasil, em 30 de Julho de 1823 com uma       a bandeira portuguesa e salvando a terra      sou a integrar a marinha brasileira.
missão parlamentária cujos objectivos deve-     não tendo sido correspondido. O Governo
riam estar relacionados com a situação dos      brasileiro ordenou que o navio fundeasse         Faziam parte da guarnição do 13 de
portugueses na Baía e em Montevideu que         debaixo da fortaleza e que o leme fosse en-   Maio
não haviam aderido a independência do           viado para terra já que o navio havia entra-
Brasil, sendo ainda portadores de uma carta     do fazendo uso da bandeira de uma nação          Capitão Tenente João José Fernandes de
pessoal para D. Pedro.                          com quem estavam em guerra. Apesar das        Andrade, comandante
                                                explicações prestadas pelo chefe da missão,
    Faziam parte da guarnição:                  o Conde de Rio Maior, os brasileiros, consi-     1º Tenente Francisco Duarte da Silva
    Capitão de fragata José Gregório            derando que a corveta não havia entrado       Franco, imediato
Pegado, comandante                              com a bandeira parlamentária ( bandeira
    Capitão tenente Rafael Florêncio da         branca ) içada, ordenaram a saída dos par-       1º Tenente João Francisco da Fonseca
Silva Vidigal                                   lamentários no prazo de 48 horas recusan-        Joaquim Ribeiro de Morais, cirurgião
    1º Tenente João Maria Petra Bettencourt     do, inclusive, receber a carta para D.Pedro.     João José Constantino de Sousa, escrivão
    Sendo provável que igualmente fi-           A comitiva embarcou no bergantim 13 de           Félix José Moreira, 1º piloto
zessem parte da guarnição:                      Maio, que se encontrava com uma outra            Romão José de Freitas, 2º piloto
    Frei Manuel Ferreira Botelho, capelão       missão parlamentária e havia levado, en-         José Lopes, carpinteiro
    Joaquim Faustino Cordeiro, cirurgião        viado por D. Miguel, parte da herança dei-       Marcelino José, mestre
    António Pereira de Lima, escrivão
da Armada                                                                                                              Com. E. Gomes

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                                                                                              Nação Portuguesa

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