Page 22 - Revista da Armada
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BREVES APONTAMENTOS SOBRE MODELOS, EVOLUÇÃO E FABRICOS DO SÉCULO XVIII ATÉ AO RUMA

OBotão de Âncora, é um artigo de            Sá e Melo, então Secretário de Estado da                             1ªPARTE
          uniforme de grande simbologia     Marinha e dos Domínios Ultramarinos de
          na Marinha Portuguesa e tem uma   Dona Maria I (1777-1816). Esse Regulamento  do Rei Dom João VI, com uma espada ou
                                                                                        um sabre de Marinha cruzando um óculo e
                                                                                        sobrepondo a âncora, conforme atesta o por-
história e uma evolução muito interessan- que se baseia no Regulamento de 1806 para menor do Grande Uniforme trajado pelo Rei,
tes, tanto do ponto vista estético e emble- o Exército, abarca, além da Armada Real, os imortalizado na celebre Estátua de mármore
mático, como do ponto de vista formal e re- Uniformes da Brigada Real de Marinha e irá do escultor João José de Aguiar, colocada em
gulamentar. Assumem igualmente relevo manter-se ao longo de quase todo o reinado 1814 no Hospital da Marinha (Ver imagem
algumas questões ligadas ao seu fabrico, de D. João VI (1816-1826). O texto regulamen- nº7). Tal pormenor deve-se, certamente, à pe-
produção e comercialização.                 tar é acompanhado por uma vistosa estampa, rícia do escultor e não à sua fantasia criativa
Este apontamento destina-se a trazer a desdobrável, de grande interesse iconográfi- na reprodução deste botão.
lume um melhor conhecimento deste notá- co, composta por VII desenhos representan-      É claro que à semelhança dos botões
vel artigo de uniforme: o “Famoso Botão de do botões (Ver Figura nº6, Estampa anexa ao abrangidos pelo primeiro Regulamento de
Ancora” que deu nome a um livro do pres- Regulamento de 1807, Desenho II). Aqui re- 1793, os botões portugueses de 1807 inspira-
tigiado Comandante António Marques Es- produzimos alguns modelos de botões de an- vam-se em padrões Ingleses, ou seja, nos Bo-
parteiro, expressão que na gíria dos oficiais, cora de 1807. Destes exemplares raros que a tões da “Royal Navy”, com a qual, aliás, uma
se refere à corporação da Armada. Pretende voragem das fundições de metal foi destruin- Esquadra Naval Portuguesa dirigida pelo
ser somente uma pequena abordagem, para do, ainda existem hoje alguns exemplares em Marquês de Nisa participou em expedições
a qual tentámos trazer as fundamentais refe- colecções privadas ou públicas em Portugal: no Mediterrâneo contra a Marinha de Napo-
rências e fontes históricas.                Botão de Médicos ou Cirurgiões da Armada leão, entre 1788 e 1800, sob ordens de Lorde
Os sucessivos Planos de Uniformes e Re- Real - curioso botão enfeitado com uma ânco- Nelson. Assim com frequência, os fabricos
gulamentos da Armada constituem as prin- ra invertida, uma Cobra e uma Palma (Ver desses botões continuavam a ser ingleses,
cipais fontes, imprescindíveis para o estudo Figura nº 6, Desenho I), Botão de Oficiais de situação decorrente da forte influencia Bri-
da transformação do nosso Botão de Ancora. Pena e Fazenda das Embarcações Reais (Ver tânica em Portugal durante e após a Guerra
Um primeiro Alvará de Uniformes do tempo Figura nº 6, Desenho II e Figura nº 5), Botão Peninsular. Nesse contexto, uma Casa Lon-
de Dom José I (1750-1777), datado de 1764, de Chefe de Divisão ou de Capitão-de-Mar-e- drina: J. Shore and Sons exportou botões para
refere genericamente a existência de “Far- -Guerra e Botão de Capitão de Fragata e “to- Portugal até aos finais do Reinado de Dona
das” para “cada Regimento de Marinha” dos os mais” Militares da Armada Real (Ver Maria II, sendo extremamente curioso notar
prevendo o fornecimento de cerca de 4000 Figura nº 6, Desenho IV e Figuras nº3 e nº4). que essa casa terá fornecido botões, exclusi-
botões para “Cazacas , Vestias e Calções... em Um Alvará de Outubro 1823, adita o Regula- vamente, para a Armada Real Portuguesa,
conformidade com o Novo Regulamento”. mento de 1807, atribuindo aos Oficiais Gene- não sendo conhecidos outros clientes desse
O segundo texto legal que se conhece em rais e Capitães-de-Mar-e-Guerra um mesmo comerciante, presumindo-se que tenha sido
Portugal, é assinado em 1797 por D. Rodrigo e único botão, sendo que de Chefe de Divisão um exportador de botões para Portugal e não
de Sousa Coutinho, Ministro da Marinha. a Segundo-Tenente passou a usar-se o botão um fabricante.
Como o anterior, esse documento estipula o que até essa data correspondia ao posto de   Os anos das Guerras Liberais na Marinha
uso de botões nos uniformes de oficiais ou Capitão-de-Mar-e-Guerra (Figura nº8).        foram particularmente conturbados. Existem
de marinheiros, sem muitos pormenores. Fi-  Os botões Regulamentares de 1807, “ama- de facto dúvidas quanto aos tipos de Botões
camos a saber, no entanto, que os primeiros relos” de latão, ou dourados para oficiais, de Âncora usados durante o Reinado de Dom
botões usados pela Armada a partir de 1797, existiam em branco para concessões de pa- Miguel (1828-1834), pois ou eram usados bo-
correspondiam a um modelo liso, com anco- tentes sem soldo. A titulo de curiosidade, é tões e fardas não regulamentares ou se per-
ra gravada, eventualmente com reverso de interessante notar que poderá igualmente ter deram os regulamentos. Há a constatar que,
osso e argola de tripa, conforme figura que se existido um botão muito singular de Mare- de facto, chegaram aos acervos das colecções
reproduz na Figura nº1. O fabrico desse bo- chal General da Armada, para uso particular Portuguesas, escassos botões desses anos. Sa-
tão foi em Portugal, no Arsenal Real                                                    bemos no entanto, que o corpo expe-
do Exército, existindo também desde                                                     dicionário recrutado em Inglaterra e
1774 em Lisboa, uma Fábrica Régia                                                       em França por Dom Pedro IV, trans-
de Botões de Casquinha. Alguns lo-                                                      portado até aos Açores e desembarca-
tes dos primeiros botões de Ancora                                                      do em 1832, na Praia de Pampelido a
da Armada, foram também enco-                                                           Norte do Porto, terá usado um botão
mendados em Inglaterra, já que se                                                       de Marinha específico, cunhado em
inspiravam no Regulamento Britâni-                                                      Inglaterra. Temos factualmente co-
co de 1794. Contam-se alguns exem-                                                      nhecimento da venda em leilão, em
plares, muito raros, desses botões                                                      2007, dum Botão especificamente
de cobre, produzidos em Inglaterra                                                      fabricado pela Casa “Jennens” de
para a Armada de Portugal e nor-                                                        Londres, para os Oficiais da Royal
malmente marcados no reverso com                                                        Navy ao serviço de Dom Pedro e de
“Treble Gilt”, “Standart Colour” ou                                                     sua Filha (Figura nº 12).
“Warranted”, simplesmente referen-                                                      A situação torna-se mais clara
cias de qualidade.                                                                      após a Guerra Civil, pois a partir de
Em Maio de 1807, entra em vigor                                                         Setembro de 1835, e já durante o
um novo Plano para os Uniformes                                                         reinado de D. Maria II (1834-1853),
da Armada, assinado pelo Viscon-                                                        é aprovado o Decreto de Plano de
de de Anadia, João Rodrigues de                                                         Uniformes para as diferentes clas-

22 NOVEMBRO 2011 • REVISTA DA ARMADA
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