Page 8 - Revista da Armada
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vido à ameaçadora e crescente presença das forças aero-navais Senhor Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada
adversárias, não tiveram qualquer hesitação chegado o momen- Senhores Almirantes, Oficiais, Cadetes, Sargentos e Praças
to supremo da decisão pelo confronto com aquelas forças, pese Meus Senhores e Minhas Senhoras
embora, pela sua flagrante desproporção, saberem no seu ínti- É com o testemunho dos acontecimentos vividos a bordo de um
mo que o combate, inevitavelmente, implicaria o sacrifício das desses navios que posso afirmar, embora passado meio século, que
suas vidas e, mais importante, dos homens que comandavam. E os marinheiros do NRP “Afonso de Albuquerque” e do NRP “Vega”,
foi esse acto sublime assumido de forma terrivelmente solitária, na defesa dos territórios de Goa e de Diu, honraram a sua Pátria.
tendo sempre presente o imperativo “Honrai a Pátria que a Pá- Para todos esses marinheiros, a gratidão da Pátria, consubstan-
tria vos contempla”, que galvanizou as guarnições dos seus na- ciada nesta cerimónia, representa apenas e muito singelamente,
vios e fez com que o seu comportamento, até reconhecido e ad- o poder afirmar perante a vossa ilustre presença, o orgulho que
mirado publicamente pelos seus adversários de então, passasse sentem por ter tido a rara oportunidade de ter participado com de-
a figurar no longo e prestigiante acervo dos combates navais da nodo nos combates navais na Índia Portuguesa e, principalmente,
História de Portugal. por pertencerem à Marinha de Guerra de Portugal.
ALOCUÇÃO DO ALMIRANTE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA
Senhor vice-almirante Vice-CEMA Quero também dirigir uma palavra muito especial e muito sen-Foto CAB FZ Carmo
Senhor presidente da Liga dos Combatentes, tida aos militares que participaram na Índia nos acontecimentos
Distintos convidados, que hoje evocamos, designadamente aos que puderam estar hoje
Senhores Almirantes e Senhores Comandantes, connosco e aos seus familiares. Podemos ainda contar, felizmente,
Militares, militarizados e civis da Marinha, com muitos dos que, naquele dia 18 de Dezembro de 1961, vive-
Minhas senhoras e meus senhores, ram acontecimentos trágicos que mudaram a Marinha e o país, e os
Dirijo-me hoje, em primei- marcaram para sempre. O senhor
ro lugar aos familiares dos almirante Mendes Rebelo, como
militares falecidos na Ín- militar mais antigo desse grupo,
dia em 1961 para agradecer, em fez-nos um precioso relato, na pri-
nome da Marinha, a vossa presen- meira pessoa, que nos permitiu,
ça nesta cerimónia militar, singela de forma tão breve quanto pro-
mas de grande significado para to- funda, entender as circunstâncias
dos nós que envergamos o mesmo desse dia e as consequências que
uniforme daqueles que, com a sua daí advieram. Em nome da Mari-
vida, escreveram a última página nha, quero expressar-vos a minha
da história das batalhas do oceano gratidão pela vossa presença que
Índico, após mais de quatro sécu- muito enobrece esta cerimónia de
los e meio de presença portuguesa homenagem àqueles que convos-
ininterrupta. co serviram.
O juramento de bandeira é um A todos os militares, militariza-
acto do cerimonial militar que dis- dos e civis que participaram nesta
tingue quem o faz de todos os de- cerimónia, espero que o que aqui
mais cidadãos. Distingue porque testemunharam tenha contribuído
aos militares são exigidas condi- para um melhor conhecimento de
ções extremas que os tornam es- uma data que a história por vezes
peciais, ao assumirem, voluntaria- ignorou, mas que a distância dos
mente, pela sua honra, defender a acontecimentos hoje permite en-
Pátria mesmo com o sacrifício da tender.
própria vida. Os marinheiros que
hoje homenageamos foram conse- Quero terminar lembrando que
quentes no seu juramento: deram a vida militar se faz essencialmen-
a vida pela Pátria! te de valores, deles sobressaindo a
honra e a coragem. É do conjunto
Mas por serem militares não dos actos de honra e de coragem
foi menor a perda para as suas que se forja a história das institui-
famílias. Ao partirem, deixaram ções e a Marinha está deles reple-
um sofrimento que exigiu muita ta. Este, que hoje evocamos, mar-
coragem aos que ficaram e hoje ca o fim do império português na
se juntaram a nós aqui no Alfeite Índia, a que tantos actos heróicos
para esta justa homenagem. Na podemos associar. Por isso, a Ma-
nossa mão está apenas a possibili- rinha tem um fundado orgulho do
dade de mitigar essa perda através seu passado e eu a subida honra
do reconhecimento público. Por isso lhes dedicamos o memorial de hoje aqui a representar na ce-
que foi colocado, simbolicamente, nesta praça da Estação Naval, rimónia evocativa dos acontecimentos ocorridos na Índia há pre-
a casa mãe dos navios, para que todos os marinheiros de hoje e cisamente 50 anos.
de amanhã possam conhecer os seus nomes e os dos navios que
serviram, perpetuando a sua dádiva e a sua grandeza.
8 JANEIRO 2012 • REVISTA DA ARMADA
José Saldanha Lopes
Almirante