Page 9 - Revista da Armada
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Um Pequeno Comando em Goa

                              L/F “Sírius” – 27.10.61/15.12.61
Em Junho de 1960 chegou o N.R.P.
     “Afonso de Albuquerque “ (AA) a Goa  tretanto terminavam as sua comissões e re-  era preciso que interinamente fosse nomea­
     vindo de Lisboa através do Canal do  gressariam a Lisboa com os seus navios de   do para o comando outro oficial até que o
                                          origem, foram os 2ºten Seixas Serra para    Ten Marques da Silva se pudesse apresentar,
Panamá, Pacífico, Mar da China, Estreito de a “Sírius”, 2ºten Brito e Abreu para a “An- depois de ir buscar o novo navio ao Brasil.
Malaca e Índico, com os 48 cadetes do cur- tares” e 2º ten Oliveira e Carmo para a De Lisboa foi então dada a ordem para o
so “D. Lourenço de Almeida“, respectivos “Vega”.                                      Comando Naval de Goa indicar um oficial
instrutores e director de instrução da Escola Em meados de Agosto de 1961, já os para esse fim. Por sua vez, o CNG pediu
Naval, embarcados em viagem de instrução jornais de Karachi (então ainda Capital do para o Comandante do “Afonso de Albu-
do 2º ano. Estes passariam                                                                              querque” o designar. Su-
para o N.R.P, “Bartolomeu                                                                               cede que o AA só tinha 2
Dias”, igualmente um Avi-                                                                               se­ gundos tenentes, um dos
so de 1ª classe e “irmão”                                                                               quais era ajudante de or-
do A.A. e que regressaria a                                                                             dens do Governador Geral
Lisboa pelo Canal do Suez                                                                               e simultaneamente Coman-
e assim completariam a sua                                                                              dante da força de desembar-
volta ao mundo.                                                                                         que, pelo que não podia ser
Para o “Afonso de Albu-                                                                                 dispensado a não ser com
querque” seria apenas uma                                                                               autorização do Governador,
volta ao mun.. já que o seu                                                                             o que o Comodoro CN não
destino seria o de “morrer”                                                                             queria pedir. Sobrava então
e ficar em Goa, fazendo jus                                                                             apenas um, mas que era o
ao nome que ostentava.                                                                                  chefe do Serviço de Nave-
Em Goa encontravam-                                                                                     gação do navio, a quem o
-se, além do “Bartolomeu                                                                                Comandante António da
Dias”, os Avisos de 2ª clas-                                                                            Cunha Aragão não queria
se N.R.P.” Gonçalves Zarco”                                                                             dispensar por ser a bordo o
e N.R.P. “João de Lisboa”,                                                                              elemento mais conhecedor
pois que nesse tempo esta-                                                                              e prático das águas do Indi-
vam atribuídos ao Coman-                                                                                co e que já tinha feito toda
do Naval de Goa (CNG)                                                                                   a navegação desde Lisboa,
três ou quatro navios dos                                                                               pelo que o Comandante de-
quais um estacionaria em                                                                                positava nele total confian-
Macau, deslocando-se a                                                                                  ça. É conveniente lembrar
Timor quando necessário.                                                                                que o “Ba­ rtolomeu Dias”
Para além destes, estavam                                                                               já tinha anteriormente en-
também atribuídas três pe-                                                                              calhado na aproximação a
quenas lanchas: a “Sírius”,                                                                             Karachi e noutra comissão,
a “Vega” e a “Antares”, duas                                                                            feito um rasgão enorme no
das quais durante a Mon-                                                                                casco num penedo existen-
ção do NE (tempo bom no                                                                                 te a sul da ilha de Angediva.
Índico) iam estacionar res-                                                                             Nestas condições o Com.te
pectivamente em Diu e em                                                                                Aragão indicou, justifican-
Damão, ficando a terceira                                                                               do ao CN, o 1º ten. Martins
em Goa.                                                                                                 Gonçalves, chefe do Servi-
Estas lanchas costuma-                                                                                  ço de Armas Submarinas,
vam ser comandadas por segundos tenentes Pakistão) onde o ”Afonso de Albuquerque” que em virtude do navio não ter virtual-
das guarnições dos navios, voluntários para fora mais uma vez reabastecer de nafta, mente nem sensores nem armamento anti-
tal e ansiosos por tal sorte. Inscreviam-se no como periodicamente fazia, noticiavam -submarino e a União Indiana não ter sub-
Comando Naval (C.N.) quando os navios que o tráfego ferroviário na União Indiana marinos, era o que lhe fazia menos falta.
chegavam à Índia e o C.N. é que os nomea­ estava muito afetado e desregulado devido O CN em resposta e sem qualquer palavra
va quando vagava um comando. Quando o à deslocação de blindados e tropas da fron- nem explicação ao comandante do navio,
“Afonso de Albuquerque” chegou, logo al- teira com a China no Nepal e no Sikim em nomeou-me mesmo comandante interino
guns dos seus oficiais se deslocaram cheios direcção à fronteira com Goa.             da L/F “Sírius”.
de esperança ao C.N. mas rapidamente o Em Outubro o Comandante da “Sírius”, 2º Confesso que não gostei. Era o meu pri-
entusiasmo se esfumou com a informação tenente Seixas Serra conseguiu ser colocado meiro comando, para o qual no início da
de que as regras tinham mudado e agora em Macau e para o substituir no comando comissão tinha sido voluntário e era agora
era de Lisboa que eram feitas as escolhas da Lancha foi designado o 2º tenente Mar- já quase no fim que me nomeavam e ainda
e as nomeações, além de que o dispositi- ques da Silva. Contudo, como este oficial por cima interinamente! Mas o militar esta-
vo ia ser retraído e ficaria apenas um navio estava colocado no Navio Escola “Sagres” va habituado a calar o que lhe fosse no ín-
atribuído ao CNG, o que já não permitiria e este estava destinado a ser abatido e subs- timo e cumprir sempre. Em 27 de Outubro
a dispensa de oficiais.                   tituído pela “nova Sagres” cedida pelo Go- de 1961 assumi o comando da L/F “Sírius”
Os primeiros três comandantes a serem verno Brasileiro mas que ainda se encontra- atracada nos Estaleiros Navais, onde se en-
nomeados para render os oficiais que en- va no Brasil sob o nome de “Guanabara”, contrava à espera de substituir um veio que

                                                                                      REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2012 9
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