Page 2 - Revista da Armada
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Árvores classificadas de Interesse Público
no Jardim do Palácio do Alfeite
ABase Naval de Lisboa (BNL), localizada no Alfeite, compreende
uma área de cerca de 440 hectares, que se estende desde a Romei-
ra até à Ponta dos Corvos. Trata-se de uma vasta área cuja história
remonta a 1147, altura em que o território de Almada foi doado aos cru-
zados ingleses que auxiliaram D.Afonso Henriques na tomada de Lisboa.
Em 1186, D. Sancho I doou à Ordem de Santiago de Espada, entre outros,
o castelo de Almada, parte de uma série de bens que voltariam a ser inte-
grados na Coroa, por D. Dinis, em 1298.
AQuinta doAlfeite, assim chamada, manteve-se integrada nos bens da
Coroa até D. Fernando a incluir no dote de D. Leonor Teles. Estes bens, en-
tretanto doados a um judeu, David Negro, viriam a ser mais tarde confis-
cados por D. João, Mestre de Aviz e entregues a D. Nuno Álvares Pereira.
O Condestável doaria a Quinta do Alfeite à Ordem do Carmo, em 1404.
No final do Séc. XVII, os bens doAlfeite foram transferidos para os Tarou-
cas e posteriormente integrados, por D. Pedro II, na Casa do Infantado. O
património da Casa do Infantado foi enriquecido ao longo de diversos rei-
nados e em 1833, com D. Miguel, o Real Sítio doAlfeite compreendia já sete
quintas: Alfeite, Antelmo, Bomba, Outeiro, Piedade, Quintinha e Romeira.
A Casa do Infantado foi extinta por D. Pedro IV em 1834, tendo os res-
petivos bens revertido para a Fazenda Real. Ficaram de fora, para usufruto
régio, alguns dos palácios, entre eles o Palácio do Alfeite.
O Palácio do Alfeite foi desde meados do Sec. XVII até à República, re-
sidência de lazer da família real (“ O Rei está nas suas sete quintas…”, dizia-
-se). A sua versão atual resultou de uma remodelação levada a cabo por
D. Pedro V no antigo Paço Real do Alfeite e inclui um jardim que alberga
uma grande diversidade de vegetação de significativa importância a ní-
vel nacional, quer em termos de idade, quer em termos de singularidade.
Recentemente, deslocou-se à BNL uma equipa da Autoridade Florestal
Nacional, do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e do Ordenamen-
to do Território com o intuito de identificar e reconhecer espécies de flora
relevantes no que concerne à sua raridade. Tendo existido, já há cerca de
dez anos, uma visita com idêntico propósito, em que foram identificadas
outras espécies relevantes, só presentemente, e na sequência deste estudo,
foram identificadas duas árvores com características adequadas à atribui-
ção da classificação de Árvores classificadas de Interesse Público. Esta classi-
ficação destina-se, segundo o aviso nº4/2012 da entidade anteriormente
referida, a ser concedido a espécies que “ … por serem árvores centenárias,
consideradas como dos maiores exemplares das respectivas espécies existentes em
Portugal e por estarem implantados num jardim histórico, propriedade da Coroa
e actualmente do Estado Português, merecem a distinção de interesse público…”
As espécies distinguidas são:
–Jubaeachilensis(Mol.)Bailli, vulgarmenteconhecidaporcoquito-do-Chile;
– Ficus macrophylla Desf. Ex Pers., vulgarmente conhecida por árvore-
-da-borracha-australiana.
Aprimeira é referenciada pela Autoridade Florestal Nacional como “… bonito
exemplar de grande porte, centenário, que enobrece e valoriza o Palácio e o jardim do
Alfeite. Apalmeira está implantada num canteiro circular rodeado de buxo talhado de
grande efeito cenográfico. Apresenta bom aspecto vegetativo, com copa verde, redon-
da, equilibrada e com abundante frutificação. O nome Jubaea é a designação atribuída
pelo botânico alemão Karl Sigismund Kunth em honra de Juba II, rei da Numídia...”.
Quanto à segunda, é identificada como “… espécie originária da costa leste
da Austrália. Em Portugal é usada como ornamental e de sombra. As folhas
ficam aderentes durante todo o ano e sempre verdes. Os frutos asseme-
lham-se aos figos da nossa figueira portuguesa embora sejam mais peque-
nos e não sejam comestíveis. Esta espécie desenvolve uma seiva esbranquiçada
designada por lactex, cuja matéria-prima era usada para o fabrico de borracha. Uma
das características mais marcantes são as suas raízes aéreas, que ao atingirem o
solo lenhificam criando novos troncos que suportam a expansão da copa, servindo
igualmente para a planta captar a humidade do ar…”.
Aatribuição desta classificação vem dignificar todo o esforço desenvol-
vido na conservação da flora existente no perímetro da BNL e na preocu-
pação ambiental constante de todos os que lá prestam serviço.
Colaboração da BASE NAVAL DE LISBOA