Page 17 - Revista da Armada
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prossegue, no âmbito da sua Missão, Funções        dado e protegido, não só por via das atividades  área. Exemplo disso será o de atribuir objeti-
e Tarefas superiormente delineadas pelo Chefe      tradicionais da Armada, mas também através       vos de identificação concretos aos meios da
de Estado-Maior da Armada através da Diretiva      das vertentes de estimular o envolvimento e a    Armada em missão, em particular no treino
de Política Naval de 2011, a sua já longa ligação  participação dos cidadãos na sua salvaguarda.    de unidades de mergulhadores ou dos meios;
com o Património Cultural Marítimo nas seguin-
tes vertentes: Fiscalização, preservação da He-     Vertente essa que tem a vantagem de não          b) Apoiar, com meios humanos e materiais,
rança Cultural e Investigação Científica.          estar limitada ao espaço sob jurisdição na-      projetos desta área;
                                                   cional, em consonância com as intenções
 Destas três faces, todas importantes, vou         do Estado português, conforme está estabe-        c) Sensibilizar os meios humanos que fis-
apenas abordar aquela à qual o Centro de           lecido no regime de proteção e valorização       calizam as águas de jurisdição nacionais so-
Investigação Naval (CINAV) está diretamente        do património cultural português (Lei nº         bre esta problemática, nomeadamente sobre
ligado – a da investigação científica.             107/2001, de 8 de setembro) que no seu nº 2      as ameaças que este património incorre por
                                                   do Artigo 5º (Identidades Culturais) estabele-   parte dos designados caçadores de tesouros,
 Este centro, formalmente criado pelo Despa-       ce que “o Estado Português contribui, ainda,     através de palestras e exposições;
cho do CEMAnº4/2010 de 2 de fevereiro,             para a preservação e salvaguarda do patrimó-
mas cujas raízes são bastante anteriores, é        nio cultural sito fora do espaço lusófono que           d) Sensibilizar os futuros oficiais das
uma unidade orgânica de investigação               constitua testemunho de especial importância          Marinhas amigas, cujos cadetes são
científica, desenvolvimento tecnológico            de civilização e de cultura portuguesas”.             formados na Escola Naval portuguesa e
e inovação, de índole multidisciplinar,                                                                  cujo património já foi ou é ainda hoje
integrado na Escola Naval e que atual-              Paralelamente a estes projetos, o CINAV              pilhado, também sobre este assunto;
mente tem as seguintes Linhas de Inves-            pode servir, para além de parceiro habilitado,
tigação, conduzidas pelos membros do               de elo de ligação entre a restante estrutura da         e) Promover a ligação e o diálogo entre
CINAV: Estratégia Marítima, Saúde Na-              Marinha e as entidades externas, nesta área,          aqueles que realizam a investigação cien-
val, Gestão da Manutenção, Robótica                nomeadamente através de:                              tífica desse património e os que têm dia-
Móvel, Processamento de Sinal, Sistemas                                                                  riamente a responsabilidade de fiscalizar
de Apoio à Decisão e História Marítima.             a) Difundir, partilhar e coordenar a utiliza-        e velar pela integridade do mesmo no ter-
                                                   ção dos meios da Marinha e objetivos ligados          reno, de modo a maximizar as sinergias
 Nesta última linha de investigação, o             ao Património Cultural Marítimo identifica-           daí resultantes, nomeadamente através
expoente máximo tem sido o Mestrado                dos por aqueles que conduzem projetos nesta           da realização de ações conjuntas.
em História Marítima (que se prevê bre-
vemente passar a Doutoramento) e que                                                                       Assim, e tendo em consideração que
é ministrado em associação com a Facul-                                                                  já passaram quase quatro anos após
dade de Letras da Universidade de Lisboa.                                                                a entrada em vigor da Convenção da
E, mais recentemente, está previsto dar-se                                                               UNESCO para a Proteção do Património
início ao Mestrado em História Militar                                                                   Cultural Subaquático, ainda há muito
(ministrado em parceria com cerca de 9                                                                   por fazer. A Marinha, através dos seus di-
instituições universitárias civis e militares).                                                          versos órgãos, pode e deve ter um papel
                                                                                                         muito importante na sua preservação, e
 Mas, querendo a Linha de investigação                                                                   a Escola Naval, através do CINAV, con-
em História Marítima expandir a sua atua-                                                                sidera que pode contribuir para a con-
ção, preferencialmente com outras linhas                                                                 textualização científica do património
e com outros centros de investigação, o                                                                  cultural subaquático, deixando estes de
CINAV deu início ou passou a integrar                                                                    ser considerados como meros salvados
projetos relacionados com o Património                                                                   de mar.
Cultural Marítimo, nomeadamente:
                                                                                                           Tudo isto porque apesar de todas as
 Projeto ARCHINAVES – base de dados                                                                      leis e convenções existentes para pro-
(português/inglês) dos navios portugueses                                                                teger este património, o facto de “haver
de 1497 a 1808 (nesta primeira fase).                                                                    tesouros na costa” suscitará a cobiça e
O objetivo deste projeto é permitir uma                                                                  obrigará a medidas de segurança para
consulta direta e automática das relações                                                                evitar a pilhagem. E só há pilhagem do
entre as centenas de navios portugueses                                                                  património quando há pouco conheci-
que andaram no mar durante os séculos                                                                    mento sobre a sua importância.
XV a XVIII, relacionando-os com as cen-
tenas de milhares de pessoas que neles                                                                                                 A. Alves Salgado
navegaram, permitindo conhecer de                                                                                                                  CMG
imediato todas as ocorrências em que
estiveram implicados.                                                                                     Legendas das figuras:

 Projeto ARCHIMARIA – Considerando                                                                        1 - O casco de um navio naufragado do tempo das
que a melhor forma de salvaguardar o                                                                      Descobertas, pela sua raridade, permite tentar com-
Património Cultural Marítimo, em particular o                                                       preender essa máquina complexa, que era o navio.
Subaquático, e impedir que seja destruído ou                                                        2 - Um naufrágio é uma verdadeira cápsula do tempo, que
pilhado é estudá-lo e divulgá-lo, está a ser ela-                                                   ao contrário do que ocorre à superfície, permite ao arqueó-
borado um Sistema de Informação Geográfica                                                          logo “recuar” no tempo com poucas interferências. O estu-
(SIG) com duas vertentes: uma como ferramen-                                                        do da carga, neste caso um dos diversos almofarizes encon-
ta de trabalho para os arqueólogos e outra para                                                     trados, permite compreender e comprovar, por exemplo, as
divulgação ao público em geral, possivelmen-                                                        rotas comerciais da época.
te através de sistemas disponíveis na internet,                                                     3 - Para além das “riquezas” em termos de conhecimento,
como por exemplo o Google Ocean.                                                                    nos naufrágios a prata e o ouro por vezes também estão
                                                                                                    presentes, acabando por atrair interesses “alheios” ao Pa-
 Estes projetos, ligados às teses de Mestrado                                                       trimónio Cultural Marítimo. Uma moeda “real de 8” após
Integrado dos cursos da Escola Naval, vão no                                                        cerca de 500 anos no mar.
sentido de garantir que o valioso património                                                        4 - Adivulgação e a criação de espaços visitáveis, é uma das
cultural marítimo e em particular o subaquático                                                     formas mais importantes de preservar o Património Cultural
do mar português seja devidamente salvaguar-                                                        Marítimo, como acontece no Algarve, nos destroços do na-
                                                                                                    vios francês L’Ocean.

                                                                                                      REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 17
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