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NRP ÁLVARES CABRAL NA OPERAÇÃO ATALANTA
A PRIMEIRA PATRULHA ses anteriores, ambas as semi-rígidas foram para 2ª PARTE
NO GOLFO DE ÁDEN a água, embarcaram o pessoal e colocaram a
equipa de boarding a bordo da embarcação, pulação da “Dhow”, que de imediato mostra-
No período de 4 a 6 de abril a Álvares Cabral numa rápida sucessão de ações, às quais não ram de modo entusiástico e com evidente boa
esteve atracada no porto do Djibuti para parti- faltaram os rigorosos cuidados de segurança na disposição a camisola número 7 da Seleção
cipar na cerimónia de entrega de comando da aproximação final à “Dhow”, e a proteção pró- Nacional de Futebol.
EUNAVFOR (Força Naval da União Europeia), xima proporcionada pelo navio.
onde a Marinha Portuguesa assumiu o comando Apesar do navio estar a conduzir uma opera-
da força naval. A tripulação da embarcação visitada adotou ção é fundamental dar continuidade às ações de
desde o início uma atitude cooperante, o mes- treino da guarnição, com o objetivo de manter
Nos próximos 4 meses, o NRP Álvares Cabral tre convidou a equipa de boarding a subir a os padrões de prontidão e o adestramento do
será o navio-almirante da Força Multinacio- bordo e durante a condução da ação apenas pessoal. Nesse âmbito, no primeiro período de
nal e irá embarcar o comandante da força foram identificados artefactos de pesca, não patrulha foram realizadas sessões de tiro com
naval e o respetivo Estado-Maior multina- tendo sido detetado qualquer tipo de material
cional composto por 24 militares de Portu- associado à pirataria. armamento portátil para os elementos do
gal, Bélgica, Alemanha, Espanha, Finlândia, pelotão de abordagem (PELBOARD) em-
França, Grécia, Letónia, Holanda e Suécia. Esta foi a primeira ação de muitas que se segui- barcado e para elementos da guarnição
ram e têm como objetivo a troca de informação com funções específicas de segurança e, de
No dia 6 de abril, após a cerimónia de e o contacto com a comunidade marítima local. forma inopinada, foram realizados exercí-
passagem do comando, o navio largou cios de tiro de reação rápida para testar e
do Djibuti e iniciou a sua primeira patru- Com a primeira abordagem, o navio iniciou incrementar a eficácia da ação do navio em
lha dirigindo-se para o Corredor Interna- a divulgação da atividade da EUNAVFOR e da situações de ameaça imprevista. Por fim, foi
cional de Tráfego Recomendado (IRTC), EUROMARFOR no âmbito da União Europeia também possível exercitar tiro com a peça
no Golfo de Áden. (EU) para a proteção da liberdade de circulação de 100mm, especialmente para treino de
no Golfo de Áden, mas não menos importante, tiro desviado, situação muito plausível de
O IRTC está localizado entre a costa do Ié- este primeiro contacto com a comunidade local ocorrer caso haja necessidade de efetuar
men e a costa norte da Somália e é um cor- permitiu iniciar a divulgação da presença da tiros de aviso com grande calibre.
redor para tráfego marítimo, com cerca de 500 nossa Marinha e o empenhamento de Portugal
milhas de comprimento por 11 milhas de largura. nestas águas, como contributo para a estabili- Antes da primeira paragem logística pre-
Tendo em conta que anualmente cerca 22.000 dade, segurança e desenvolvimento da região. vista para o porto de Salalah, em Omã, o navio
navios cruzam o Golfo de Áden, tornando esta Neste âmbito, podemos dizer que o nosso país rumou para a zona leste do IRTC, assumindo a
área uma das mais apetecíveis para ataques pi- foi reconhecido de imediato, pois à aproxima- responsabilidade de patrulhar a área de apro-
ratas, este corredor foi implementado de forma ção do navio e das duas embarcações semi- ximação ao Golfo de Áden, caracterizada pela
a concentrar o trânsito dos navios anteriormente -rígidas, todas com a bandeira das quinas bem confluência de todo o tráfego marítimo oriundo
disperso por todo o Golfo de Áden, permitindo à vista, foi rápida a reação dos elementos da tri- da Índia, Ásia, Golfo de Omã e África na de-
assim maior facilidade de controlo e proteção manda do Mar Vermelho.
da navegação mercante. Estabelecido o IRTC, a
EUNAVFOR e outras forças internacionais O PORTO DE SALALAH
mantêm ali, em permanência, diversos na-
vios de guerra que asseguram a passagem Ahlan wa salan! Welcome!
em segurança de toda a navegação. Foi desta forma cordial que os habitan-
tes de Salalah receberam a guarnição da
Na missão de patrulha do IRTC é mui- Álvares Cabral durante uma estadia de 3
to importante a utilização do helicóptero dias no porto desta cidade, cujo principal
embarcado para garantir maior eficácia na objetivo, a par do descanso da guarnição,
cobertura da área de responsabilidade do foi o reabastecimento do navio com ali-
navio. Numa base diária, são realizados mentos frescos, combustível, sobressalen-
voos que se iniciam aos primeiros alvores, tes e permitir as condições de estabilidade
para recolha de informação da navegação necessárias a algumas reparações nos siste-
e para deteção de embarcações que pos- mas de bordo.
sam revelar indícios relacionados com a Salalah, capital da província de Dhofar, é
atividade da pirataria. uma cidade subtropical, caracterizada por
um fenómeno climatérico designado por
A existência de motores fora-de-borda Khareef que ocorre no período de meados
de grande potência, o elevado número de junho a meados de setembro. Este fe-
de bidons de combustível, escadas metá- nómeno meteorológico, que envolve toda
licas compridas ou a inexistência de artefactos a província num mar de nuvens, traz à região
de pesca a bordo, são exemplos de indícios que milhares de visitantes que assim podem usufruir
podem associar determinadas embarcações a de um clima mais ameno, em contraste com o
atividades de pirataria e devem ser cuidadosa- calor extremo que, por essa altura, se faz sentir
mente analisados. no resto do país.
Este movimentado porto, na localidade
No dia 9 de abril, no decurso da patrulha, de Raysut, é um catalisador da vida social e
ocorreu a primeira oportunidade para efetuar económica da cidade, não só pela presença
uma “Friendly Approach” a uma embarcação constante dos navios mercantes e de guerra, mas
do tipo “Dhow”, com 19 pessoas a bordo. Esta também devido à visita amiúde de inúmeros na-
ocasião não poderia ser, nem foi desperdiçada, vios de cruzeiro que trazem à cidade cada vez
e com o à-vontade proporcionado pelo intenso mais visitantes.
treino a que as equipas foram sujeitas nos me-
8 JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA