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PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL
COMANDANTE
QUIRINO DA FONSECA
N ascido em 4 de junho de 1868
na cidade do Funchal, Henrique de para que se tinha voluntariado. Termi- grafia que inclui não só livros como di-
Quirino da Fonseca frequenta nada mais uma comissão em África, passa versas monografias, conferências públicas
o Instituto Industrial e Comercial de Lis- a chefiar departamentos da Intendência e comunicações académicas. Cite-se o
boa, tendo terminado o respetivo curso do Arsenal da Marinha a que se seguem “Memorial dos Adjectivos da Língua Por-
em 1888, ano em que ingressa na Escola os da Superintendência dos Serviços da tuguesa”, em que mostra o seu profundo
Naval. Armada. Comanda o cruzador República conhecimento de textos literários, a “Re-
que, integrado na Divisão Naval Colonial, presentação Artística das Armadas da Ín-
Viviam-se então tempos conturbados efetua o périplo de África de outubro de dia” onde ressaltam as suas qualidades de
em África já que, de acordo com a Confe- 1924 a junho do ano seguinte. crítico de arte, como dramaturgo e nove-
rência de Berlim, a presença e ocupação lista escreve “Trinca-Fortes”, um relato da
por parte dos países colonizadores sobre- Embora possuidor de uma notável carrei- vida de Camões e as “Viagens Maravilho-
punham-se aos seus direitos históricos, ra militar é principalmente na área cultural sas de Aventureiros Portugueses dos Tem-
facto que leva a Marinha a reforçar que o Comandante Quirino da Fonseca se
a sua acção naquele continente. distingue e perdura na memória da Mari- pos Idos”. De entre os seus valiosos
nha. Em 1923 é nomeado para identificar trabalhos sobressai, sem dúvida,
Assim, a partir de 1893, o Guar- objetos existentes nos estabelecimentos “A Caravela Portuguesa e a Prio-
da-marinha Quirino da Fonseca do Estado e noutras situações que mere- ridade Técnica das Navegações
inicia a sua carreira militar na Divi- cessem fazer parte do Museu Naval. A Henriquinas”, obra magistral só
são Naval do Atlântico Sul, onde é partir desse ano, que marca o começo dos possível devido às excecionais
sucessivamente oficial imediato do trabalhos com vista ao desenvolvimento qualidades de historiador e ar-
navio transporte Salvador Correia, e modernização do Museu, participa ou queólogo do seu autor. Constitui
secretário do governador do distri- preside a todas as comissões relacionadas o estudo mais completo sobre o
to do Congo e em Novembro de com este projeto. navio que teve um papel decisi-
1897 tem o seu primeiro comando, vo na Época das Descobertas e
o da lancha-canhoneira Cacongo, Com a saída da Escola Naval para o Al- originou uma viva polémica, no
que desenvolve intensa atividade feite em novembro de 1936, o Museu e ponto de vista técnico, entre o
em águas de Angola. Após uma a Biblioteca tornam-se autónomos sendo Comandante Quirino da Fonse-
curta estadia na Metrópole, onde o Comandante nomeado, em março de ca e o Almirante Gago Coutinho.
exerce o cargo de capitão do por- 1937, diretor destes dois organismos. De salientar igualmente os artigos
to de Olhão, assume a função de do Comandante nos Anais do Clu-
ajudante de campo do Governa- Foi igualmente um ilustre arqueólogo, be Militar Naval, de que se desta-
dor Geral de Angola, sendo no- filólogo, ensaísta, novelista e historiador cam “Memórias da Arqueologia
meado residente em Cabinda. Em das navegações portuguesas dos séculos Naval Portuguesa” publicadas de
1901 comanda a corveta mista XV e XVI. É autor de uma extensa biblio- 1915 a 1920, trabalho que levou
Bartolomeu Dias, a que se segue a Associação de Arqueólogos Por-
a canhoneira Liberal. Termina a tugueses a elege-lo, em junho de
sua comissão em Angola em 1907 1920, seu sócio efetivo.
completando 14 anos de serviço
naquele território. A sua frutuosa atividade cultural
teve público reconhecimento com
Ajudante do Corpo de Marinhei- a atribuição, em 1930, do grau de
ros, em fins de 1915 é oficial ime- grande oficial das Ordens Militares
diato do cruzador Adamastor que larga de S. Tiago e Espada e de Avis e em dezem-
para Moçambique. Entretanto, em março bro de 1931, por deliberação da Academia
de 1916, a Alemanha declara guerra a de Ciências de Lisboa, de que era sócio
Portugal. Nesse mesmo mês o cruzador correspondente, foram-lhe concedidas as
apresa navios alemães surtos em portos Palmas Académicas de 1ª Classe de Altos
de Moçambique e em Maio participa Estudos em homenagem aos seus distintos
em operações de guerra na foz do Rio méritos. Era igualmente membro da Acade-
Rovuma. O Capitão-tenente Quirino da mia Nacional de História e sócio da Socie-
Fonseca, comandante da esquadrilha das dade de Geografia de Lisboa.
embarcações do navio, entra no rio e ata- Mesmo na situação de reforma conti-
ca os postos alemães. É-lhe concedida a nuou a dedicar-se a assuntos culturais
Medalha da Cruz-de-Guerra de 1ª Classe, sendo a sua última nomeação, em 1939,
pela decisão, coragem, espírito de sacrifí- para acompanhar a construção e o apare-
cio que mostrou durante as operações dos lhamento da nau S. Gabriel.
dias 21, 23 e 27 de maio de 1916. Em 6 de junho de 1939 falecia em Lisboa
o Capitão-de-mar-guerra Henrique Quiri-
Presta depois serviço na Direção Geral no da Fonseca, uma referência marcante
da Marinha e em Maio de 1918 parte para entre os Marinheiros que se distinguiram
Moçambique como 2º comandante do Ba- na área da Cultura.
talhão Expedicionário de Marinha, unida-
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 17