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A MUSEALIZAÇÃO DO BARRACUDA

E m 2 de agosto de 2010 terminou a       tente museológica. A título de exem-      Fotos 1SAR A Diasvio em Cacilhas, na doca seca contí-
       vida operacional dos submarinos   plo refira-se o Gil Eannes, navio com     gua àquela onde se encontra a Fragata
       da classe Albacora e, por conse-  uma ligação fortíssima à pesca do         D. Fernando II e Glória. Esta situação
quência, da 4ª Esquadrilha de Subma-     bacalhau, e que atualmente pode ser       «permitiria diversificar e aprofundar
rinos. A fim de não perder a memória     visitado em Viana do Castelo; o Santo     a dinamização cultural e turística da
viva da Esquadrilha que constituiu,      André, um arrastão que pertence ao        zona de Cacilhas, em ligação ao mar
verdadeiramente, o primeiro grupo de     Museu Marítimo de Ílhavo, ou ainda        e à Marinha». Nascia assim o «Núcleo
submarinos de que a Marinha Portu-       a Fragata D. Fernando II e Glória, em     Museológico Naval de Cacilhas» do
guesa dispôs, foi colocada a hipótese    exibição numa das docas secas do an-      Museu de Marinha.
de musealizar um dos seus navios.        tigo estaleiro da Parry & Son, cuja ati-
                                         vidade cessou há vários anos. Podem        O passo seguinte foi a constituição
  Um pouco por todo o mundo exis-        ainda ser considerados verdadeiros        de um Grupo de Trabalho (GT-MU-
tem submarinos musealizados, em          museus muitas das embarcações típi-       SUBCUDA) destinado a desenvolver
exibição. Pode mesmo afirmar-se que      cas, nomeadamente nos nossos rios,        as ações necessárias «tendo em vista
a vontade de preservar para a poste-     que procuram manter os desenhos           a docagem permanente e a prepara-
ridade alguns submarinos é grande.       originais e que navegam regularmen-       ção técnica do Submarino Barracuda
No dia 1 de fevereiro de 1851,           te, de modo a transmitir uma pequena
o Brandtaucher afundou-se no             ideia daquilo que era a azáfama nos                  para exposição e abertura
porto de Kiel, tendo a bordo             estuários.                                           ao público». O despacho
o seu inventor, o engenheiro                                                                  de criação do GT-MUSUB-
alemão Wilhelm Bauer, junto               Com a imobilização dos submarinos                   CUDA definia que o mesmo
com outros dois companheiros.            da 4ª Esquadrilha surgiram diversas                  deveria funcionar na depen-
Conseguiram escapar nadando              propostas, por parte de povoações do                 dência do Diretor da Co-
para a superfície. No final do           litoral, para a sua exibição pública.                missão Cultural da Marinha,
século XIX este submersível foi          Nascia, deste modo, a possibilidade                  sendo presidido pelo Diretor
retirado do fundo e colocado             de perservar a recordação viva de um                 do Museu de Marinha e in-
em exibição, podendo hoje ser            desses navios, concretizando, igual-                 tegrando representantes do
visitado em Dresden. Durante             mente, um desejo da Marinha.                         Estado-Maior da Armada, da
a Guerra da Secessão dos EUA,                                                                 Superintendência dos Ser-
os confederados usaram o sub-             A ideia de colocar o submarino Barra-               viços do Material, do Co-
marino Hunley para atacar um             cuda em Almada teve a sua génese em                  mando Naval, da Comissão
navio inimigo, o Housatonic. O           outubro 2010. Na apresentação de                     Cultural de Marinha, assim
nome do submarino derivava               cumprimentos do Diretor da Comis-                    como o Comandante da fra-
do seu inventor: Horace Law-             são Cultural de Marinha na Câmara                    gata D. Fernando II e Glória.
son Hunley. O ataque foi bem             Municipal de Almada foi sugerida a                   O referido despacho previa
sucedido, mas a carga explosi-           possibilidade de colocação deste na-                 ainda que o Grupo de Tra-
va utilizada levou também ao                                                                  balho poderia incluir outros
afundamento do Hunley, em                                                                     elementos que pudessem
Charleston, no dia 17 de feve-                                                                contribuir para os seus ob-
reiro de 1864. Recuperado em                                                                  jetivos, tendo integrado di-
2000, o navio encontra-se em                                                                  versos especialistas de áreas
exibição em Charleston. Em                                                                    técnicas.
Cartagena pode observar-se o
Peral, assim batizado em vir-                                                                  Trabalhando em conjunto
tude do nome do seu inventor                                                                  com uma equipa de técnicos
Isaac Peral. Lançado à água em 8 de                                                           da Câmara Municipal de Al-
setembro de 1888, realizou diversas                                                           mada, o GT-MUSUBCUDA
provas com algum sucesso, mas nun-                                                 foi desenvolvendo todas as tarefas
ca chegou a ter empenhamento ope-                                                  necessárias à colocação do Barracu-
racional.                                                                          da em Cacilhas. Inicialmente apon-
                                                                                   tou-se como desejável que o navio
  Aos exemplos acima apontados, to-                                                estivesse na doca seca nº 1 da Parry
dos referentes a submarinos do século                                              & Son por ocasião do Dia da Marinha
XIX, poder-se-iam juntar algumas de-                                               2012, cujas comemorações principais
zenas de navios do século XX, muitos                                               ocorreram em Almada. No entanto,
deles navios que tiveram utilização                                                com o decorrer dos trabalhos verifi-
operacional após a II Guerra Mundial.                                              cou-se que os mesmos apresentavam
Este interesse particular por subma-                                               um grau elevado de complexidade,
rinos em exibição constitui um forte                                               tornando impossível o cumprimento
incentivo para se realizar algo seme-                                              desse objetivo. A principal dificul-
lhante em Portugal.                                                                dade residiu na preparação da doca
                                                                                   seca para receber o submarino. Estan-
  No nosso país, conhecem-se alguns                                                do a mesma abandonada há mais de
casos de navios que podem ser visi-                                                20 anos, o estado de degradação era
tados, apesar de não existir uma forte                                             elevado. A porta-batel estava bastan-
tradição de preservar navios, na ver-                                              te corroída, tornando-se necessário

14 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
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