Page 14 - Revista da Armada
P. 14
A MUSEALIZAÇÃO DO BARRACUDA
E m 2 de agosto de 2010 terminou a tente museológica. A título de exem- Fotos 1SAR A Diasvio em Cacilhas, na doca seca contí-
vida operacional dos submarinos plo refira-se o Gil Eannes, navio com gua àquela onde se encontra a Fragata
da classe Albacora e, por conse- uma ligação fortíssima à pesca do D. Fernando II e Glória. Esta situação
quência, da 4ª Esquadrilha de Subma- bacalhau, e que atualmente pode ser «permitiria diversificar e aprofundar
rinos. A fim de não perder a memória visitado em Viana do Castelo; o Santo a dinamização cultural e turística da
viva da Esquadrilha que constituiu, André, um arrastão que pertence ao zona de Cacilhas, em ligação ao mar
verdadeiramente, o primeiro grupo de Museu Marítimo de Ílhavo, ou ainda e à Marinha». Nascia assim o «Núcleo
submarinos de que a Marinha Portu- a Fragata D. Fernando II e Glória, em Museológico Naval de Cacilhas» do
guesa dispôs, foi colocada a hipótese exibição numa das docas secas do an- Museu de Marinha.
de musealizar um dos seus navios. tigo estaleiro da Parry & Son, cuja ati-
vidade cessou há vários anos. Podem O passo seguinte foi a constituição
Um pouco por todo o mundo exis- ainda ser considerados verdadeiros de um Grupo de Trabalho (GT-MU-
tem submarinos musealizados, em museus muitas das embarcações típi- SUBCUDA) destinado a desenvolver
exibição. Pode mesmo afirmar-se que cas, nomeadamente nos nossos rios, as ações necessárias «tendo em vista
a vontade de preservar para a poste- que procuram manter os desenhos a docagem permanente e a prepara-
ridade alguns submarinos é grande. originais e que navegam regularmen- ção técnica do Submarino Barracuda
No dia 1 de fevereiro de 1851, te, de modo a transmitir uma pequena
o Brandtaucher afundou-se no ideia daquilo que era a azáfama nos para exposição e abertura
porto de Kiel, tendo a bordo estuários. ao público». O despacho
o seu inventor, o engenheiro de criação do GT-MUSUB-
alemão Wilhelm Bauer, junto Com a imobilização dos submarinos CUDA definia que o mesmo
com outros dois companheiros. da 4ª Esquadrilha surgiram diversas deveria funcionar na depen-
Conseguiram escapar nadando propostas, por parte de povoações do dência do Diretor da Co-
para a superfície. No final do litoral, para a sua exibição pública. missão Cultural da Marinha,
século XIX este submersível foi Nascia, deste modo, a possibilidade sendo presidido pelo Diretor
retirado do fundo e colocado de perservar a recordação viva de um do Museu de Marinha e in-
em exibição, podendo hoje ser desses navios, concretizando, igual- tegrando representantes do
visitado em Dresden. Durante mente, um desejo da Marinha. Estado-Maior da Armada, da
a Guerra da Secessão dos EUA, Superintendência dos Ser-
os confederados usaram o sub- A ideia de colocar o submarino Barra- viços do Material, do Co-
marino Hunley para atacar um cuda em Almada teve a sua génese em mando Naval, da Comissão
navio inimigo, o Housatonic. O outubro 2010. Na apresentação de Cultural de Marinha, assim
nome do submarino derivava cumprimentos do Diretor da Comis- como o Comandante da fra-
do seu inventor: Horace Law- são Cultural de Marinha na Câmara gata D. Fernando II e Glória.
son Hunley. O ataque foi bem Municipal de Almada foi sugerida a O referido despacho previa
sucedido, mas a carga explosi- possibilidade de colocação deste na- ainda que o Grupo de Tra-
va utilizada levou também ao balho poderia incluir outros
afundamento do Hunley, em elementos que pudessem
Charleston, no dia 17 de feve- contribuir para os seus ob-
reiro de 1864. Recuperado em jetivos, tendo integrado di-
2000, o navio encontra-se em versos especialistas de áreas
exibição em Charleston. Em técnicas.
Cartagena pode observar-se o
Peral, assim batizado em vir- Trabalhando em conjunto
tude do nome do seu inventor com uma equipa de técnicos
Isaac Peral. Lançado à água em 8 de da Câmara Municipal de Al-
setembro de 1888, realizou diversas mada, o GT-MUSUBCUDA
provas com algum sucesso, mas nun- foi desenvolvendo todas as tarefas
ca chegou a ter empenhamento ope- necessárias à colocação do Barracu-
racional. da em Cacilhas. Inicialmente apon-
tou-se como desejável que o navio
Aos exemplos acima apontados, to- estivesse na doca seca nº 1 da Parry
dos referentes a submarinos do século & Son por ocasião do Dia da Marinha
XIX, poder-se-iam juntar algumas de- 2012, cujas comemorações principais
zenas de navios do século XX, muitos ocorreram em Almada. No entanto,
deles navios que tiveram utilização com o decorrer dos trabalhos verifi-
operacional após a II Guerra Mundial. cou-se que os mesmos apresentavam
Este interesse particular por subma- um grau elevado de complexidade,
rinos em exibição constitui um forte tornando impossível o cumprimento
incentivo para se realizar algo seme- desse objetivo. A principal dificul-
lhante em Portugal. dade residiu na preparação da doca
seca para receber o submarino. Estan-
No nosso país, conhecem-se alguns do a mesma abandonada há mais de
casos de navios que podem ser visi- 20 anos, o estado de degradação era
tados, apesar de não existir uma forte elevado. A porta-batel estava bastan-
tradição de preservar navios, na ver- te corroída, tornando-se necessário
14 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA