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COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA
MUSEU DE MARINHA – 150 ANOS
ACESSIBILIDADES NO MUSEU DE MARINHA…
UM MUNDO DE DESAFIOS!
OMuseu de Marinha celebra 150
anos de vida e história - um per- propiciador/provocador de relações. porém esta foi a experiência embrionária
curso que atravessou gerações e Para que este desígnio se cumpra já não que permitiu posteriormente um passo
maior, em 2003.
basta existir dedicado a uma elite cultural,
regimes, modas e modos de pensar e fazer é preciso alargar e estar disponível para re- – O Museu de Marinha foi também uma
Museus, condicionalismos diversos que hoje ceber todas as pessoas na sua diversidade. das primeiras instituições museológicas na-
se traduzem nos alicerces do que somos e Daí a necessidade e insistência em usar- cionais a ter página na Internet; algo que
nos desafiam a questionar as futuras rotas. mos o nome colectivo “público” no plural hoje nos parece banal mas que em 1997 se
Quando em Julho de 1863 o Rei D. Luís (“públicos”), como forma de reforçar a sua apresentava inovador, permitindo a abertura
fez nascer em Portugal o Museu de Mari- importância, de assegurar e salvaguardar a de novas formas de divulgação, comunica-
nha, o conceito de museu, de matriz eu- abertura à multiplicidade. ção e relação com os públicos.
ropeia, seria seguramente – Em 2003 e no quadro
diverso daquele que co- Foto Fátima Alves do Ano Europeu das Pes-
nhecemos na actualidade. soas com Deficiência, o
Diferentes seriam também Museu de Marinha dis-
os objectivos e motiva- ponibiliza um “percurso
ções que legitimavam a táctil” destinado a cegos
criação de instituições e amblíopes, inserido na
desta natureza. sua exposição permanen-
Volvidos 150 anos, con- te, oferecendo a possibili-
ceitos, objectos e objec- dade de exploração táctil
tivos tornaram-se mais de 44 peças do seu acer-
abrangentes, a par das vo, representativas de 6
dinâmicas sociais e cultu- áreas temáticas distintas.
rais que contextualizam a Este percurso, suportado
fenomenologia em que os por legendas em braille e
museus se inscrevem, de- por dois catálogos: versão
senvolvida em dois pla- braille e versão a negro
nos (independentemente para amblíopes, ainda hoje
da época em que se encontram): Receber É neste cenário que emerge e se verifica existe (tendo sofrido ligeiras adaptações)
e dar – Os museus recebem o legado da pertinenteoconceitodeacessibilidade,aqui e constitui actualmente o ponto de partida
história e/ou testemunhos vivenciais de utilizado na acepção do Conceito Europeu.1 para acções específicas que desenvolvemos
uma dada realidade, para em sequência Na senda desta abertura à multiplicidade, o com pessoas cegas e de baixa visão.
dar: os museus dão garantias do estudo Museu de Marinha tem feito uma travessia Estamos cientes de que tudo o que foi
e preservação dos acervos, mas também de considerável relevância, a registar: feito até aqui não basta para fazer do Mu-
os dão a conhecer, dão a oportunidade de – Entre 1992 e 1994 foram desenvolvidos seu de Marinha um museu acessível, mas
partilha daquilo que é bem comum. projectos financiados pelo Secretariado congratulamo-nos pela travessia feita,
Nestes últimos 150 anos o mundo mudou para a Modernização Administrativa que pois dela retiramos a experiência funda-
e os museus não se excluem dessa mudan- dotaram o museu com condições de aces- mental que nos projecta nas acções pre-
ça social: dos museus elitistas, ao serviço sibilidade para portadores de deficiência sentes e futuras.
do mero diletantismo cultural, à moderni- motora: adaptação de instalações sanitá- Cabe ao Serviço Educativo do Museu,
dade que reivindica a democracia cultural, rias, instalação de rampas de acesso e uma por inerência de funções, mediar a re-
há toda uma miríade de vocações e utiliza- plataforma elevatória para cadeiras de ro- lação do Museu com os seus públicos e
ções destes espaços que conduzem neces- das e visitantes com mobilidade reduzida; responder às suas solicitações e neces-
sariamente à reformulação da sua missão e – Em 1995, na sequência de um proto- sidades. Os públicos com necessidades
ao seu reposicionamento social. colo estabelecido com o Centro Regional especiais têm por isso, da parte deste
Novos tempos trazem novos desafios, de Segurança Social de Lisboa e Vale do Serviço, uma atenção na mesma medida:
novas exigências, na expectativa de cor- Tejo, através do Instituto António Felicia- especial! Quando devidamente progra-
responder a outras necessidades. Não bas- no de Castilho, foi criada em Portugal a madas, o Serviço Educativo proporciona
ta reunir e dispor objectos numa sala que primeira adaptação com carácter perma- a estes visitantes, apoio e recursos com-
se abre ao público, porque os públicos nente de um percurso expositivo destina- plementares para suprir necessidades e
que hoje frequentam estes espaços recla- do a exploração táctil. A exposição teve colmatar lacunas do discurso expositi-
mam mais do que apenas contemplação. por título Salvaguarda da Vida Humana no vo, seja em virtude de restrições na per-
Encontrar os objectos no museu já não é Mar – Elementos Históricos, esteve insta- cepção sensorial (visual, auditiva), no
suficiente, é necessário encontrarmo-nos a lada no Pavilhão das Galeotas e constituiu processo cognitivo (nas designadas defi-
nós próprios na relação (ou na falta dela!) um trabalho pioneiro no panorama dos ciências mentais, que abrangem um es-
que estabelecemos com esses objectos. museus portugueses. Lamentavelmente pectro alargado de variações), restrições
O Museu tem pois também esse papel de o carácter permanente não foi garantido, em comunicar-se socialmente através da
22 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA