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REVISTA DA ARMADA | 484

África

UM CONTINENTE, AGORA,
a olhar o mar

Em 2002, na cimeira de Durban, África do Sul, é formalmente cons-            Em dezembro de 2012, na 2ª reunião de ministros da UA ligados
    tituída a União Africana (UA), na continuidade da anterior Organi-     aos assuntos do mar, foi realçada a iniciativa levada a cabo pela Co-
zação de Unidade Africana (OUA), formada em 1963 e que entretanto          missão da UA para desenvolver a Estratégia Marítima Integrada para
deixou de existir, mantendo-se a sua sede em Adis Abeba, Etiópia.          África 2050 (2050 AIMS3), sendo também destacada a preocupação
                                                                           com os riscos crescentes ao desenvolvimento sustentável associados
   Da leitura do ato constitutivo da UA, verifica-se uma vertente mui-     com ameaças e vulnerabilidades ao domínio marítimo africano.
to continental, não havendo alusão aos recursos marítimos africa-
nos, quando este continente tem uma linha de costa de aproxima-              Em maio de 2013 decorreu em Adis Abeba a cimeira de celebração
damente 26.000 km.                                                         dos 50 anos da OUA/UA. Aqui, os Chefes de Estado e de Governo ex-
                                                                           pressaram o seu compromisso de preservar, proteger e utilizar os es-
   A 1ª década do século XXI revelou o aprofundamento de alguns            paços e os recursos dos oceanos em benefício do continente africano
fenómenos nas zonas marítimas de África, entre eles os crimes de           e das suas populações, com vista a alcançar a segurança alimentar sus-
carater ambiental, como o despejo de resíduos tóxicos e a pesca ile-       tentável. Nesta cimeira reconheceu-se que África se tornou num im-
gal, não declarada e não regulamentada (IUU1), as atividades ilícitas      portante polo para as atividades ilícitas anteriormente descritas, onde
ligadas ao tráfico de droga, de pessoas e de armas, a pirataria e os       o terrorismo também foi considerado. Assim, identificou-se a necessi-
atos de assalto à mão armada no mar, bem como o roubo e refina-            dade de uma nova abordagem estratégica para África, considerando-
mento ilegal de combustíveis.                                              -se a segurança marítima como fundamental para o seu desenvolvi-
                                                                           mento e que o futuro de África passaria pela sua economia azul.
   Em junho de 2009, na 13ª Sessão Ordinária da Assembleia da UA,
foi manifestada uma preocupação com a crescente insegurança no es-           Ainda nas comemorações do Jubileu dourado da fundação da
paço marítimo africano, bem como foram enaltecidas as iniciativas to-      OUA, em 1963, foi apresentada a Agenda 2063, que é uma iniciativa
madas pela Comissão da UA no sentido de se desenvolver uma estra-          estratégica global visando a utilização dos recursos de África em pro-
tégia abrangente e coerente para lidar com os desafios e oportunida-       veito dos africanos.
des relacionados com a área marítima de África. Aqui foram ainda con-
denadas todas as atividades ilegais que ocorriam nas zonas marítimas,        Neste mesmo ano, em junho, decorreu em Yaoundé, Camarões, a
incluindo a pirataria, a pesca ilegal e o depósito de resíduos tóxicos.    cimeira dos Chefes de Estado e de Governo das organizações regio-
Em junho de 2010, na sua 15ª Sessão, em Kampala, Uganda, foi reafir-       nais do Golfo da Guiné (CEDEAO CEEAC e CGG)4 dedicada à seguran-
mado o apoio aos esforços no domínio marítimo levados a cabo pela          ça marítima no Golfo da Guiné.
Comissão, incluindo a necessidade de desenvolver uma Estratégia Ma-
rítima Integrada para a gestão do domínio marítimo do continente.            Neste evento estiveram representados 25 estados membros da UA,
                                                                           bem como muitos países ocidentais, o que permite demonstrar a rele-
   No que diz respeito ao Atlântico, e atendendo ao aumento das ativida-   vância que o Golfo da Guiné tem na cena internacional atual. Esta cimei-
des ilícitas no Golfo da Guiné, foram aprovadas 2 Resoluções do Conse-     ra constitui-se como um marco pela representação presente5, destacan-
lho de Segurança das Nações Unidas sobre esta temática, UNSCR2 2018        do-se observadores da grande maioria dos antigos países colonizadores
(2011) e UNSCR 2039 (2012). Destas, releva-se a importância de se encon-   daquela zona de África (Alemanha, Bélgica, Espanha, França e Reino Uni-
trar uma solução regional para fazer face às ameaças nesta zona do globo.  do) e de países com forte influência na cena internacional (Brasil, China,

4 ABRIL 2014
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