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REVISTA DA ARMADA | 492
ACADEMIA DE MARINHA
PERSPETIVAS DO MAR PORTUGUÊS
Em 11, 18 e 25 de novembro, decorreu na Academia de Mari- vidades marítimas obrigam à sua análise sectorial, mas que pos-
nha um ciclo de palestras denominado “Perspetivas do Mar teriormente devem ser tratados de uma forma holística”.
Português”, visando a abordagem, por renomados especialistas,
das vertentes geográfica, económica e biológica do território ma- Na segunda comunicação, “Perspetiva económica do Mar Por-
rítimo de Portugal. tuguês”, o doutor Nuno Lourenço disse que a Estratégia Nacional
para o Mar 2013-2020 passa pela oportunidade de aproveitar o
Com este ciclo, disse o Presidente da Academia de Marinha, potencial de desenvolvimento tecnológico dos sistemas de ob-
pretende-se dar a conhecer aos Portugueses “este enorme es- servação e monitorização do oceano, pela aquicultura offshore e
paço ainda pouco conhecido – e que certamente virá a ser muito pela biotecnologia azul. “As potencialidades tecnológicas do país
ampliado por decisão da Organização das Nações Unidas – para encontrarão diferentes oportunidades de concretização”, referiu
que o possam considerar sua pertença, e como tal o utilizem.” o especialista em ciências marinhas, que acrescentou: “É neces-
Nas suas palavras introdutórias, o almirante Nuno Vieira Matias sário enquadrar os principais marcos da política marítima inter-
sublinhou que “cabe a nós, cidadãos de Portugal, zelar pelo que nacional, a narrativa dos cenários e as potencialidades tecnoló-
é legitimamente proclamado como nosso pela ONU, começando, gicas e de desenvolvimento associadas aos sectores abordados.”
para isso, por conhecer bem esse mar, um verdadeiro oceano de
oportunidades, para depois o podermos aproveitar em favor do No final, o doutor Nuno Lourenço disse que “os cenários consi-
interesse nacional”, e alertou para a possibilidade real de países derados implicam esforços acrescidos de cooperação e proximi-
mais fortes se quererem apropriar dos vastos recursos de uma dade para as empresas de base tecnológica, por forma a permitir
área que consideram “desproporcionada face à dimensão de um a identificação clara de oportunidades e promover desenvolvi-
pequeno país”. A tarefa dos conferencistas, enfatizou o Presiden- mentos concretos das necessidades específicas de investigação
te, “assume um papel valiosíssimo no âmbito da promoção do e produção. A sua consumação terá de estar ancorada na capaci-
saber no seio desta Academia, onde cada um de nós, depois, as- tação de uma força de trabalho especializada e procurando o ob-
sumirá o papel de mensageiro, retransmitindo informação eivada jectivo de exploração de mercados internacionais que sustentem
do gosto inerente àquilo que se conhece”. uma escala comercial aos produtos e serviços desenvolvidos.”
A terminar, agradeceu à Presidente da Classe de Artes, Letras e Na terceira comunicação, “Perspetiva biológica do Mar Portu-
Ciências, professora doutora Raquel Soeiro de Brito, que organi- guês”, a doutora Ana Hilário começou por afirmar que “o mar pro-
zou o ciclo, e aos conferencistas, que “deram corpo às perspecti- fundo representa a última fronteira do conhecimento do planeta
vas do mar português, o mar sem fim”. e o seu estudo tem quebrado alguns dos maiores paradigmas das
ciências biológicas”. Os fundos oceânicos apresentam uma enor-
Na primeira comunicação, “Perspetiva geográfica do Mar me heterogeneidade de habitats, albergam uma extraordinária
Português”, o académico Bessa Pacheco salientou que a loca- biodiversidade e importantes recursos vivos, minerais e energéti-
lização geográfica de Portugal, conjugada com o seu passado cos, acrescentou a investigadora. Portugal, com uma vasta ZEE da
histórico, lhe dá uma identidade marítima de relevância que é qual grande parte é mar profundo com uma enorme variedade de
fonte de inspiração para a utilização e exploração sustentada habitats, está numa posição privilegiada para desenvolver inves-
dos seus recursos. tigação neste domínio. Tal circunstância reflete-se no número de
descobertas e estudos realizados na ZEE portuguesa, bem como
Comparou dimensões, profundidades e orografia dos diver- na posição cimeira que Portugal ocupa no ranking de países com
sos oceanos, caracterizou os tipos de espaços marítimos – des- mais publicações nesta área de investigação, disse a oradora.
de as águas interiores até à plataforma continental, e referiu as
questões de soberania e jurisdição que se lhes aplicam à luz do Fundamental para o sucesso da investigação portuguesa neste
direito marítimo internacional. Evidenciou a extraordinária im- domínio, tem sido a oportunidade de utilizar os navios oceano-
portância da ZEE e da plataforma continental para o nosso país gráficos da Marinha, dispondo em simultâneo de um ROV capaz
face à dimensão do território, falou das áreas marítimas pro- de alcançar os 6 mil metros, bem como a crescente colaboração
tegidas e ainda das regiões de busca e salvamento marítimo. com áreas de investigação tecnológica.
Relativamente à orografia dos fundos marinhos, o comandante
Bessa Pacheco deu exemplos de canhões, montes submarinos, A terminar, a doutora Ana Hilário referiu que “a biologia em Portu-
bancos, fontes hidrotermais e de misteriosos, porque ainda não gal está pronta para desenvolver trabalhos de manipulação e expe-
explicados, “ovos estrelados”. rimentação in situ que podem trazer respostas locais e globais para
questões relacionadas com a exploração sustentável dos recursos
A valorização do mar português, disse, “é um processo fun- do mar profundo, da conservação e da recuperação de habitats”.
damental para influenciar o retorno de Portugal ao mar, que se
idealiza como um factor benéfico de diferenciação na vida na- Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA
cional e perante a comunidade internacional”, salientando que a
“complexidade e variedade dos fenómenos oceânicos e das acti-
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