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REVISTA DA ARMADA | 492 8
Stratεgia
ESTRATÉGIA DA UE PARA A SEGURANÇA MARÍTIMA
INTRODUÇÃO ESTRATÉGIAS DE SEGURANÇA MARÍTIMA
OConselho da União Europeia (UE) aprovou em 24 de junho de Foi, assim, com naturalidade que o Conselho Europeu anun-
2014 a Estratégia da União Europeia para a Segurança Marí- ciou em 26 de abril de 2010 a intenção de elaboração de uma
tima (abaixo designada pelo acrónimo EUESM ou, simplesmente, “estratégia de segurança para o domínio marítimo global (…) no
por Estratégia), a qual reconhece que o mar é uma valiosa fonte contexto da Política Externa e de Segurança Comum / Política Eu-
de crescimento e prosperidade para a UE e para os seus cidadãos. ropeia de Segurança e Defesa”.
Alguns dados estatísticos evidenciam bem essa realidade: Importa referir que os EUA já possuem uma estratégia de se-
● Mais de 70% das fronteiras externas da UE são marítimas, to- gurança marítima (intitulada The National Strategy for Maritime
talizando cerca de 70 000 km de linha de costa; Security) desde setembro de 2005, a qual reconhece que a se-
● As regiões marítimas representam cerca de 40% do PIB e da gurança do país depende da utilização segura dos oceanos. Este
população da UE; documento alinha todos os programas do governo americano re-
● Cerca de 3 a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) europeu é gera- lacionados com a segurança marítima, num esforço abrangente e
do pelas indústrias e serviços do setor marítimo, não contando com coerente que envolve departamentos federais, agências estatais
o valor de matérias-primas como o petróleo, o gás ou o pescado; e entidades do setor privado.
● A UE possui, no total dos seus Estados Membros, a maior fro-
ta de navios mercantes do Mundo; Entretanto, após o início dos trabalhos para a elaboração da
● Cerca de 90% do comércio externo da União e mais de 40% EUESM, vários Estados Membros encetaram esforços no sentido
do comércio interno é transportado por via marítima; da elaboração das suas próprias estratégias de segurança marí-
● A UE é o 5° maior produtor e o 3° maior importador de peixe tima, até como forma de influenciar o documento europeu. Por
no Mundo. exemplo: a Espanha apresentou em 2013 a sua Estrategia de Se-
No entanto, os espaços marítimos são um ambiente cada vez guridad Marítima Nacional, assinada pelo Presidente do Gover-
mais sujeito a riscos e permeável a ameaças, como a proliferação no Mariano Rajoy, o que evidencia a importância dada a esta ma-
de armamento, o terrorismo (que pode assumir a forma de ata- téria; e o Reino Unido aprovou The UK National Strategy for Ma-
ques cibernéticos às redes ou aos sistemas de informação essen- ritime Security em maio de 2014, com a chancela dos responsá-
ciais às atividades marítimas), a criminalidade organizada trans- veis das pastas dos Negócios Estrangeiros, dos Assuntos Internos,
nacional (manifestada nos tráficos de drogas, de armas e de seres da Defesa e dos Transportes.
humanos), a pirataria (que ameaça a disrupção de vias de trans-
porte marítimo vitais), as ameaças ambientais, a sobre-explora- A nível europeu, o processo viria a culminar em junho de 2014,
ção dos recursos do mar, etc. com a apresentação da EUESM. Cabe aqui referir que, na UE
Nesse quadro, não é de estranhar o empenhamento crescente (como normalmente acontece a nível nacional), existe uma sepa-
da UE em operações de segurança marítima, nomeadamente de ração entre os assuntos do mar e os de segurança e defesa – os
combate à pirataria, na bacia da Somália (em que a UE está empe- primeiros decorrendo no âmbito da Política Marítima Integrada
nhada desde dezembro de 2008, por via da operação ATALANTA) e e os segundos da Política Comum de Segurança e Defesa. Ora a
de controlo de fronteiras / combate à imigração ilegal / salvamen- segurança marítima (além de ter implicações em muitas outras
to marítimo, no Mediterrâneo (em que a UE se vem empenhando áreas) é uma matéria transversal a esses dois domínios, o que
desde 2005, através, entre outras, das operações GUANARTEME, significa que este documento representa um esforço de compro-
HERA, HERMES, AENEAS, INDALO e TRITON). misso e de articulação, procurando maximizar as sinergias entre
ambas as políticas setoriais. Aliás, a própria Estratégia assume o
seu alinhamento com a Política Marítima Integrada e com a Es-
tratégia de Segurança Europeia.
Empenhamento da UE em operações de segurança marítima [à esquerda Fuzileiros Portugueses abordam embarcação suspeita de pirataria na operação ATALANTA em 2011; à direita
operação da UE de combate à imigração ilegal no Mediterrâneo (Foto: AFP - Getty Images)]
4 JANEIRO 2015