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SAÚDE PARA TODOS                                                                                  29

PRESBIACUSIA

  Segundo dados da Direção-geral da Saúde, existem atualmente em todo o mundo cerca de 360 milhões de pessoas a sofrer de
problemas auditivos. As causas são diversas: doenças infeciosas, questões genéticas, trauma, uso de fármacos ototóxicos, excesso
de ruído e envelhecimento. A perda de capacidade auditiva que cursa com o processo de envelhecimento e, tal como ele, surge de
forma lenta e tem evolução gradual, denomina-se presbiacusia. Como ocorre progressivamente, é muitas vezes desvalorizada, não se
procurando ajuda médica. Estima-se que a sua prevalência seja de 30%, na população com mais de 65 anos de idade. Dado que causa
dificuldades na comunicação oral, bem como na interação familiar e social, cada vez mais os estudos científicos apontam para uma
associação entre a presbiacusia e o desenvolvimento/agravamento da depressão e demência.

  Como ouvimos                                   que foram submetidas a mais fatores de risco       Tratamento
  As ondas sonoras que se propagam pelo ar       ao longo da vida, tais como: poluição sonora       A presbiacusia é irreversível pois não existe
são captadas pelo pavilhão auricular (orelha),   ambiental ou laboral, medicação tóxica para      nenhum tratamento capaz de restabelecer a
percorrem o canal auditivo e, quando che-        o ouvido (ototóxica), inflamações crónicas ou    audição normal da pessoa. Contudo, é possí-
gam ao fim, batem no tímpano. O tímpano          história de trauma do ouvido, doenças sisté-     vel retardar a sua progressão, através da elimi-
é uma membrana rígida e fina que vibra com       micas tais como diabetes ou aterosclerose.       nação/redução dos fatores de agravamento,
estas ondas sonoras, fazendo mexer uns ossos     Pode, em alguns casos, existir uma compo-        bem como é possível atenuar o défice auditivo
muito pequenos – primeiro o martelo, depois      nente hereditária. Torna-se, assim, difícil de   através do uso de próteses de amplificação
a bigorna e, por último, o estribo. Os ossos     definir a proporção de perda auditiva em cada    sonora (vulgarmente conhecidos como apare-
transportam a vibração pelo ouvido médio até     pessoa que se deve a cada um dos fatores in-     lhos auditivos).
à cóclea (ou caracol, devido à sua forma), que   dividuais. Já em 1966 o Dr. Rosen concluiu no      A primeira meta é tratar todas as possíveis
não é mais que um tubo ósseo preenchido          seu estudo epidemiológico que a presbiacusia     causas que estejam a contribuir para acelerar
com líquido, enrolado em espiral, com células    tem origem multifatorial.                        o processo de envelhecimento. O controlo dos
ciliadas sensitivas no seu interior (semelhan-                                                    fatores metabólicos (ex: diabetes, hipercoles-
tes a pequenos pêlos). Através da vibração do      Sintomas e sinais                              terolemia, hiperuricemia, alterações hormo-
líquido, as células ciliadas responsáveis pela     É uma perda simétrica, bilateral e lentamen-   nais) e fatores vasculares (ex: hipertensão ar-
sensação da audição vão-se movimentar e en-      te progressiva. Inicialmente apenas se perdem    terial e aterosclerose) deve ser realizado.
viar impulsos nervosos para o cérebro, através   as frequências mais agudas, nomeadamente           A reabilitação auditiva por meio de próteses
do nervo auditivo, ao qual estão ligadas. O cé-  acima de 2000Hz (ex: campainhas e apitos).       de amplificação sonora é a medida fundamen-
rebro transforma esses impulsos nervosos nos     Com a evolução da doença vai haver pertur-       tal para a manutenção da sociabilidade do
sons que ouvimos.                                bação da conversação, por dificuldade na         indivíduo. Deve ser proposta precocemente
                                                 compreensão da fala, particularmente se exis-    durante o curso evolutivo da perda auditiva
  O que é a presbiacusia                         tir ruído de fundo. Também o falar num tom       (imediatamente após o diagnóstico de uma
  A presbiacusia corresponde à perda da ca-      mais elevado que o normal e colocar o som        perda auditiva de grau leve e/ou moderado),
pacidade auditiva que se produz gradualmen-      do televisor/rádio/telemóvel excessivamente      pois é mais eficaz quando ainda existe alguma
te com a idade, normalmente a partir dos 50      elevado são característicos deste problema e     função auditiva residual. Com a idade avança-
anos, como consequência do envelhecimento        devem ser valorizados para se poder fazer um     da também se perde a plasticidade cerebral,
progressivo do órgão da audição.                 diagnóstico precoce. A longo prazo, a perda      pelo que a adaptação à prótese é mais difícil
                                                 auditiva não tratada pode levar a isolamento     acima dos 80 anos.
  Epidemiologia                                  social e depressão. Recentemente surgiram es-
  Estima-se que a presbiacusia afete aproxi-     tudos que associam a surdez com a demência.                                          Ana Cristina Pratas
madamente 30% da população com mais de                                                                                                             1TEN MN
65 anos de idade. Esta prevalência sobe para       Diagnóstico
60-75% acima dos 75 anos de idade. Afeta           Quando a perda auditiva é detetada pelo                   www.facebook.com/participanosaudeparaodos
igualmente homens e mulheres.                    próprio, ou por familiares (já que os doentes
                                                 muitas vezes desvalorizam esta situação e                                          saudeparatodos@outlook.pt
  Causas                                         criam resistência à procura de ajuda especiali-
  Com a passagem dos anos, os elemen-            zada), deve ser marcada uma consulta no mé-
tos responsáveis pela audição localizados na     dico de família ou médico otorrinolaringolo-
cóclea do ouvido interno sofrem uma subtil       gista. Além da história clínica e da observação
e progressiva atrofia, com uma contínua per-     médica, o exame de eleição para o diagnóstico
da de células sensoriais. Também o tímpano       é o audiograma. Contudo, é crucial excluir ou-
e os ossículos se tornam mais rígidos. Isto vai  tras causas de surdez, por isso, se necessário,
determinar uma diminuição da capacidade          podem ser pedidas análises e exames de ima-
auditiva, embora com diferentes níveis de        gem, como a tomografia computorizada ou a
repercussão na população. O défice auditivo      ressonância magnética.
habitualmente é mais marcado em pessoas

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