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REVISTA DA ARMADA | 502
Piratas nigerianos (Fonte:www.ideastream.org) ses vizinhos, nomeadamente às do Togo
e do Benim. Este último, situado entre
tão acentuado como no “Corno de África”, onde a comunidade a Nigéria e o Togo, e com uma costa de
internacional tem feito um esforço permanente para controlar apenas 120 km, registou em 2011 20 atos
este tipo de prática. de pirataria, o maior surto dos últimos 20
anos. Existem fortes indícios de que os pi-
A pirataria nas águas do Golfo está, sobretudo, orientada para ratas que atuam nestas águas possam não
o roubo da carga dos navios petroleiros e/ou para o sequestro de ser só de origem beninense, mas também
tripulantes com vista à obtenção de resgates. O roubo de com- nigeriana. Em outubro de 2011, para com-
bustível – bunkering –, normalmente já refinado e que pode che- bater a pirataria nas águas da Nigéria e do
gar aos milhares de toneladas por ataque bem-sucedido, permite Benim, foi criado um sistema de patrulhas
obter, com a sua venda no mercado paralelo, avultadas quantias marítimas conjuntas, entre estes 2 países,
de dinheiro. Por outro lado, o sequestro de marítimos vem pos- designado por operação PROSPERIDADE
sibilitar também aos piratas embolsar elevados montantes finan- (PROSPERITY). Esta cooperação bilateral
ceiros resultantes do pagamento dos resgates. Quer um tipo de foi a primeira do género na região e es-
ato quer o outro obrigam a alguma complexidade logística, no pera-se que futuramente, na sequência
primeiro caso para descarregar e vender a carga, no segundo desta, as marinhas do Togo e do Gana
para assegurar a capacidade de negociação. também possam vir a associar-se a estas
patrulhas, tendo em vista o aumento da
Os Estados deste Golfo não têm presentemente qualquer polí- vigilância e da segurança nas suas costas.
tica marítima efetiva e as suas forças navais estão mal equipadas, No que se refere à pirataria nas águas do
pouco treinadas e subfinanciadas para poderem assegurar a au- Togo, país com apenas 56 km de costa, lo-
toridade do Estado no mar. Como consequência desta situação, a calizado entre o Gana e o Benim, houve o registo de 15 ataques
pirataria marítima tem vindo a crescer, principalmente nas águas piratas durante o ano de 2012, o maior quantitativo das últimas
da Nigéria, na região do delta do rio Níger, onde se tem registado 2 décadas.
um considerável número de atos de pirataria desde o início deste
século. O ano de 2007, com 42 ilícitos deste género, foi o pior das ALGUMAS REFLEXÕES
últimas duas décadas.
O crime organizado no Golfo da Guiné atingiu uma dimen-
A pirataria nesta região esteve muitos anos confinada às águas são tal que dificilmente algum Estado dessa região conseguirá
da Nigéria, contudo, ultimamente, tem-se alastrado às dos paí- combatê-lo de forma isolada. É, pois, necessário que as políticas
de cooperação já adotadas, apesar de ainda estarem numa fase
muito embrionária, sejam acompanhadas por um esforço de in-
vestigação, planeamento e coordenação ao nível regional e inter-
nacional. No entanto, é também indispensável que se assegure
uma boa cooperação, no âmbito da segurança regional, entre as
3 organizações sub-regionais existentes - CEDEAO, CEEAC e CGG
-, quer através da definição de estratégias comuns quer da par-
tilha de informações, com vista a criar e fortalecer sinergias por
forma a estas poderem dar uma boa resposta à criminalidade or-
ganizada transnacional.
Compete, sem dúvida, em primeira instância, aos Governos da
região, a definição e implementação de medidas conducentes à
redução das atividades ilícitas que vêm ocorrendo nos seus paí-
ses. Essas medidas, entre outras possíveis, terão de passar pela
aplicação de reformas nos seus estilos de governação, para que
as políticas sociais sejam, de facto, efetivas e permitam reduzir o
desemprego e a pobreza, dificultando assim o aliciamento e o re-
10 DEZEMBRO 2015