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REVISTA DA ARMADA | 502

RELEMBRAR A OPERAÇÃO

“MAR VERDE”

parte 2

O DOMÍNIO DO AR                                                     ria, igualmente, a responsabilidade de cortar a estrada principal
                                                                    que ligava este quartel ao da Guarda Nacional, e pela equipa “P”
Odomínio do espaço aéreo implicava a destruição das aerona-         que seria responsável por cortar a circulação rodoviária no istmo
     ves militares da Guiné-Conacri, de origem soviética, do tipo   que liga Conacri I a Conacri II, entre os quarteis de Samory e da
MIG-15 e MIG-17.                                                    Guarda Nacional. Estes dois cortes de circulação não chegaram
                                                                    a ser efetivados. Desfalcado dos 24 homens que desertaram, a
   Este objetivo não foi garantido, uma vez que nenhuma aero-       equipa que assaltou o aeroporto não teve condições de fazer o
nave militar se encontrava estacionada no aeroporto de Conacri,     corte da estrada junto ao campo Alpha YaYa. Durante a operação,
levando o comandante da operação a considerar que não po-           face à perceção de que alguns objetivos não seriam possíveis de
deria sustentar o ataque para além do nascer do sol, sob risco      atingir, foi decidido não desembarcar a equipa “P” que seria res-
dos navios nacionais poderem ser atacados e afundados, a partir     ponsável pelo corte da circulação no istmo. O facto de não terem
dessa hora. A equipa que foi encarregada de atacar o aeroporto      sido realizados estes dois cortes de estradas levou a que os quar-
perdeu 24 homens, por efeito da deserção iniciada por dois mili-    teis tomados pelas forças nacionais tivessem que ser defendidos
tares africanos. Um oficial da Companhia de Comandos tinha um       durante várias horas, contra as unidades militares da Guiné que
irmão militante no PAIGC e quando soube que o alvo da operação      se iam aproximando, vindos do campo Alpha Yaya. Estes reforços
incluía locais onde poderia estar o seu irmão, decidiu desertar,    do Exército Guineense surgiram sempre em posições muito des-
arrastando consigo um pelotão de praças que, eventualmente,         favoráveis e anunciadas, pelo que sofreram um número de baixas
não saberia desta sua intenção inicial, mas que não hesitou em      muito elevado e destruição de muitas das viaturas em que se fi-
segui-lo.                                                           zeram transportar.

O DOMÍNIO DA TERRA                                                    Para além do fator surpresa, habilmente usado na operação,
                                                                    para tentar garantir o domínio rápido dos três espaços de ação,
   O domínio do espaço terrestre implicava neutralizar o Exérci-    era necessário limitar qualquer capacidade de resposta ou organi-
to, a Polícia, a Guarda Nacional e a Milícia Popular, distribuídos  zação defensiva dos oponentes. Desta forma, os objetivos táticos
por vários quartéis. A Milícia Popular tinha sido criada pelo pre-  incluíram o corte da energia elétrica da cidade, para manter a di-
sidente Sékou Touré, com o objetivo de contrapor o poder do         ficuldade de deteção visual dos movimentos das forças atacantes
Exército e funcionar como força de sua defesa próxima. O presi-     e a confusão na organização da defesa. A figura 1 reconstitui es-
dente receava a realização de um golpe de Estado com origem no      paço-temporalmente o início do ataque a Conacri. As marcas cir-
Exército. Por isso, tomou ações que provocaram uma diminuição       culares verdes (dimensão mais reduzida) representam a posição
significativa das suas capacidades combatentes, a diminuição das    das diversas equipas de assalto às 01:40 do dia 22 de novembro
condições de vida dos militares e o acesso condicionado a arma-     de 1970, hora em que o comandante da operação deu a ordem
mento.                                                              de ataque. As marcas circulares amarelas (de maior dimensão) re-
                                                                    presentam a posição estimada das equipas de assalto às 02:15.
   Diversas forças mistas nacionais, constituídas por militares da  A esta hora vários objetivos estavam a ser atacados e dois deles
companhia de comandos africanos do Exército Português e da          estavam já alcançados: o afundamento ou destruição dos meios
FLNG, foram desembarcadas e assaltaram o quartel-general da         navais e o corte de eletricidade na cidade.
Polícia, Gendarmerie Nationale, o Quartel-General da Defesa Na-
cional de Samory e o Quartel da Guarda Nacional em Camayen-           O ataque aos objetivos estratégicos e operacionais no âmbito
ne.                                                                 do PAIGC foi realizado pelo Destacamento de Fuzileiros Especiais
                                                                    nº 21, comandado pelo 1TEN FZE Cunha e Silva. Este Destacamen-
   Um dos grupos de assalto, o GA2, do Destacamento de Fuzilei-     to estava organizado taticamente em 4 grupos de assalto (GA).
ros Especiais nº 21 atacou o campo da Milícia Popular. O quartel    Estes 4 GA formaram três forças de ataque distintas. Duas destas
de Alpha Yaya não seria diretamente atacado, por falta de efe-      forças eram constituídas por 1 GA (subequipas “Z1” e “Z2”) e a
tivos da força nacional atacante. O controlo da eventual reação     terceira por 2 GA (subequipa “Z3”). A equipa “Z3”, liderada por
do Exército Guineense a partir de Alpha Yaya seria realizado
pela equipa “S” responsável pelo assalto ao aeroporto, que te-

14 DEZEMBRO 2015
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