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REVISTA DA ARMADA | 503
2015, mantendo o título da anterior e acrescentando-lhe o sub-
título: “Forward, Engaged, Ready”. Este documento, além de ser
assinado pelos Comandantes da Marinha, da Guarda Costeira e
dos Fuzileiros, conta também com um prefácio do Secretário da
Marinha Ray Mabus, o que evidencia o comprometimento da li-
derança política americana.
BREVE APRECIAÇÃO a grande novidade é a introdução do conceito de “global network
of navies”, ou “rede global de marinhas”. Esta é uma reciclagem do
Gostaria de começar esta apreciação com dois comentários, conceito da “1000 ship Navy”, ou “Marinha de 1000 navios”, lan-
antes da análise do conteúdo propriamente dito. çado pelo Alm. Mike Mullen em 2005, quando disse almejar “uma
«1000 ship Navy» (…) composta por todas as nações amantes da
O primeiro comentário tem a ver com a extensão do documen- liberdade, guardando os mares e fazendo-o em conjunto”. Agora,
to. Com efeito, enquanto a estratégia de 2007 tinha 20 páginas, esse mesmo conceito ganha esta nova designação de “rede global
o texto agora aprovado tem exatamente o dobro. Por um lado, de marinhas” – a qual vai certamente ter grande protagonismo no
isso pode dificultar a sua divulgação pública pois haverá menos léxico naval, nos tempos mais próximos.
predisposição para ler e digerir um documento que é significati-
vamente mais extenso. Por outro lado, permite incluir mais infor- CONSIDERAÇÕES FINAIS
mação, sendo que, neste caso, uma das novidades é uma secção
com as ações concretas a desenvolver, qual verdadeiro plano de Como foi referido acima, o grande foco da estratégia de 1994
ação. era a presença avançada e o da estratégia de 2007 era a coope-
ração. Este novo documento – ao eleger a presença avançada e
O segundo comentário tem a ver com a existência de versões as parcerias como ideias fortes da estratégia marítima america-
oficiais desta nova estratégia em sete línguas, além do inglês, o na – faz, de algum modo, uma síntese entre os dois anteriores,
que mostra como as autoridades americanas estão a valorizar a repescando os seus conceitos nucleares.
cooperação com as marinhas e outros departamentos marítimos
estrangeiros. As línguas em apreço são o japonês, o mandarim, Para finalizar, gostaria de referir que encontrar o adequado
o árabe, o espanhol, o coreano, o francês e o português (http:// equilíbrio entre “ends, ways and means”, num documento estru-
www.navy.mil/local/maritime/). A tradução para a língua de Ca- turante, é sempre bastante difícil, pois é raro os autores de uma
mões (sendo que, por exemplo, a língua de Goethe não mereceu estratégia controlarem todos os dados relativos ao seu empre-
a mesma distinção, apesar do protagonismo da Alemanha na are- go, organização e edificação. Contudo, a mais recente estratégia
na internacional) evidencia a importância fulcral da lusofonia nos marítima americana consegue-o de forma bastante aceitável,
assuntos do mar e da segurança marítima. ao elencar as funções essenciais do poder marítimo americano
(ends) e ao apontar a organização (ways) e o sistema de forças
Voltando agora a atenção para o conteúdo, esta é uma estra- (means) necessários para cumprir as referidas funções. Esse
tégia muito mais virada para o “hard maritime power” do que elenco de funções do poder marítimo americano é, aliás, um dos
a anterior, cujo acento tónico era o “soft maritime power”. Isso aspetos mais interessantes do documento, justificando discussão
espelha a evolução do ambiente de segurança global. Com efeito, mais detalhada no próximo mês.
é um lugar-comum referir que o mundo se tornou mais instável
e perigoso, nomeadamente com o aumento da assertividade da Sardinha Monteiro
China no Pacífico ocidental e o envolvimento da Rússia na Ucrâ- CFR
nia, além da ascensão do autodenominado Estado Islâmico.
Além disso, duas ideias fortes presidem a toda esta nova estra-
tégia marítima: presença avançada e parcerias.
Relativamente à presença avançada, o documento advoga que
o pré-posicionamento de forças navais, pelo mundo fora, é a me-
lhor forma de moldar o ambiente de segurança mundial, prote-
ger os interesses americanos e promover a prosperidade global,
defendendo a liberdade de navegação. A partir desta ideia forte,
parte-se para um dos aspetos mais interessantes do documento,
que é a dedução do número e do tipo de plataformas necessárias
para cumprir com os propósitos definidos na própria estratégia.
Assim, é estabelecido o objetivo de, em 2020, possuir 120 na-
vios destacados fora dos EUA (neste momento são 97), daí se
deduzindo a necessidade de a Marinha manter uma esquadra
de mais de 300 navios (atualmente compreende 275 unidades).
Adicionalmente, o documento também estabelece os objetivos
genéticos para os Fuzileiros (33 navios anfíbios, operados pela
Marinha) e para a Guarda Costeira (91 navios).
Relativamente às parcerias, este documento reitera a importân-
cia de os serviços marítimos de todo o mundo atuarem de forma
concertada na proteção e salvaguarda da segurança global. Esta era
uma ideia que já estava bem presente na versão de 2007, sendo que
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