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REVISTA DA ARMADA | 510
Submarino da classe Borey, em testes.
permitiu, aliás, demonstrar as potencialidades desses mísseis. No domínio espacial, os russos efetuaram o primeiro teste
Por exemplo, em 7 de outubro de 2015 (dia do aniversário de bem-sucedido de um míssil anti-satélite (Nudol) em novembro
Putin), quatro navios de guerra russos dispararam 26 mísseis de de 2015. Este míssil constitui uma séria ameaça para as redes
cruzeiro a partir do Mar Cáspio até alvos na Síria, a uma distância de satélites que sustentam as comunicações, a navegação e as
de cerca de 1500 km. Tratou-se de uma evidente demonstração informações dos países ocidentais.
de força, que levou Putin a afirmar que “uma coisa é os peritos
estrangeiros saberem que supostamente temos estas armas e No domínio ciberespacial, importa destacar as capacidades ci-
outra coisa é eles verem pela primeira vez que elas efetivamen- bernéticas ofensivas russas. No quadro do conflito na Ucrânia,
te existem”. Acresce que os russos também têm vindo a insta- as autoridades ucranianas têm atribuído à Rússia a responsabi-
lar, tanto em Kaliningrado como na Crimeia, o moderno sistema lidade por ciberataques, desvio de tráfego da internet e ataques
de defesa costeira Bastion, constituído por um veículo móvel de físicos a infraestruturas dos sistemas de comunicação e informa-
lançamento, equipado com dois mísseis anti-navio Yakhont, que ção. Em 23 de dezembro de 2015, ocorreu mesmo um ataque
podem atingir alvos no mar até cerca de 250 km. cibernético de elevada sofisticação à rede elétrica ucraniana, que
levou a uma interrupção do fornecimento de eletricidade duran-
Estas medidas e ações deixam subentender a intenção de difi- te várias horas. Esta foi a primeira vez que um ciberataque atri-
cultar o eventual acesso de forças consideradas hostis ao Báltico buído a grupos sedeados ou ligados à Rússia teve como alvo uma
e ao Mar Negro. Para esse objetivo, muito contribui também a infraestrutura física, conseguindo afetar o fornecimento elétrico
edificação e modernização de capacidades com elevado poten- a dezenas de milhares de pessoas.
cial para negar o uso do mar, do ar, do espaço, do ciberespaço e
do espectro eletromagnético. No domínio do espectro eletromagnético (que começa a ser
entendido, cada vez mais, como um ambiente autónomo da
No domínio marítimo, tem-se verificado uma aposta decidi- guerra), os russos dispõem de ótimas capacidades para a guerra
da na arma submarina que é, por excelência, a arma de eleição eletrónica. Neste âmbito, cabe destacar os veículos móveis Kra-
empregue para tentar negar o uso do mar. Após o fim da Guer- sukha, que têm a capacidade de empastelar plataformas inimi-
ra Fria, a Rússia esteve cerca de década e meia sem aumentar gas, sobretudo aéreas (mísseis, drones ou aviões), mas também
qualquer submarino ao seu efetivo. Isso mudou há pouco mais radares terrestres e satélites de baixa altitude.
de 5 anos, com o desenvolvimento de novos projetos de subma-
rinos nucleares balísticos (SSBN) da classe Borey e de submarinos Antes de terminar, gostaria de fazer uma breve referência às
nucleares de ataque (SSN) da classe Yasen. Além disso, as auto- armas nucleares táticas, que a Rússia tem vindo a desenvolver
ridades russas têm vindo a modernizar vários submarinos mais no seu arsenal atómico. Embora elas possuam uma natureza e
antigos, como os das classes Kilo e Akula, tornando as respetivas um propósito que extravasam largamente o âmbito do A2/AD,
unidades mais silenciosas e mais difíceis de detetar. Porém, esta constituem também um poderosíssimo instrumento para condi-
aposta nos submarinos não se cinge à vertente genética, incidin- cionar a liberdade de ação de qualquer contendor que tenha que
do também na vertente operacional, com um aumento muito enfrentar a Rússia ou atuar na sua periferia.
significativo das patrulhas submarinas (que cresceram 50% só no
último ano, de acordo com o anterior Comandante da Marinha Para concluir, parece-me que o progressivo rearmamento da
Russa, Almirante Viktor Chirkov). Rússia – com um foco particular em capacidades muito vocacio-
nadas para a negação do acesso (mísseis balísticos e de cruzeiro)
No domínio aéreo, os russos dispõem, desde os tempos da e a negação do uso (do mar, do ar, do espaço, do ciberespaço
Guerra Fria, de excelentes mísseis anti-aéreos, como os das sé- e do espectro eletromagnético) – evidencia uma modalidade de
ries S-300 (com alcances que podem ir aos 200 km) e S-400 (com ação de A2/AD, visando condicionar seriamente a liberdade de
alcances até aos 400 km). Não obstante, têm vindo a desenvolver ação de outros atores estratégicos (como os EUA e a NATO) na
uma nova geração de mísseis (série S-500) que, segundo fontes sua periferia e não só.
russas, terão um alcance de 600 km, podendo começar a ser tes-
tados em 2017. Sardinha Monteiro
CFR
AGOSTO 2016 5