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SAÚDE PARA TODOS REVISTA DA ARMADA | 515
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BOCA SECA
A saliva é um fluido corporal transparente, constituído por água (99%), proteínas e eletrólitos. É produzida nas glândulas salivares e
libertada na cavidade oral, onde desempenha funções de limpeza e lubrificação, facilitação da mastigação, deglutição e fonação, pro-
teção dentária, atividade antimicrobiana, neutralização dos ácidos, entre outras. O controlo da produção da saliva é complexo e possui
mecanismos ainda não totalmente compreendidos. Sabe-se que esse controlo é determinado pelo sistema nervoso autónomo, sistema
endócrino e estado emocional. Diariamente produzimos 1-2 L de saliva. Quando isso não acontece, e existe deficit de saliva, surgem
complicações a nível da saúde oral, digestão e fonação, condicionando a qualidade de vida.
Definição sos existe sensação de ardor na boca e um DR
A sensação de boca seca denomina-se gosto amargo constante.
ac¸a~o e muitas pessoas preferem beber água
xerostomia e é uma queixa frequente (cerca Na consulta, perante estas queixas, o médi- em pequenos goles de forma frequente ao
de 10% da população), particularmente en- co especialista pesquisa a quantidade de sali- longo do dia.
tre idosos. A xerostomia não é uma doença, va produzida (para avaliar se existe objetiva-
mas sim um sintoma. Pode dever-se a uma mente uma redução na produção), observa a Medidas Gerais
redução da quantidade de saliva produzida coloração e viscosidade da saliva e procura os Na presença de boca seca todas as pessoas
(a hipossalivação tem de ser inferior a 50% sinais que podem estar presentes neste qua-
do habitual para que seja sentida), a altera- dro: mucosa oral seca e fissurada, impactação devem: avaliar em consulta médica a possibi-
ções na composição da saliva, ou ser psico- de alimentos entre os dentes, língua em mo- lidade de reduzir a medicação crónica, con-
génica (não existe objetivamente nenhuma saico, cáries, periodontite, infeções orais (ex: trolar o seu nível de stress, evitar ambientes
alteração na saliva mas o doente sente como candidíase), queilite angular (inflamação das secos e quentes (ponderar usar humidifica-
se houvesse). Apesar de a xerostomia ser co- comissuras dos lábios), dor e hipertrofia das dor em casa), não consumir álcool/cafeína/
mum durante o sono, em períodos de febre glândulas salivares. A análise da composição bebidas açucaradas, não fumar, evitar ingerir
ou em situações de ansiedade, quando esta da saliva em laboratório também pode auxi- alimentos muito secos, hidratar a mucosa oral
queixa se torna diária e afeta a qualidade de liar no diagnóstico. ingerindo líquidos a intervalos curtos e tam-
vida é crucial procurar ajuda especializada bém durante as refeições (mínimo 2 L de água
para se encontrar a origem do problema. Tratamento por dia), hidratar os lábios (batons, vaselina,
Após estabelecer o diagnóstico correto, a vitamina E), escovar os dentes 4 vezes/dia
Causas (após refeições e antes de deitar) com pasta
Entre as causas mais frequentes que levam primeira abordagem é corrigir a causa da xe- fluoretada e usar fio/fita dentária pelo menos
rostomia, se esta for tratável. No entanto, na 1 vez/dia, não usar elixir/colutório contendo
à xerostomia estão a respiração bucal, o res- maioria dos casos as medidas terapêuticas álcool, remover próteses antes de deitar e
sonar e o uso excessivo da fala. No entanto, possíveis são apenas sintomáticas e visam mergulhá-las em clorexidina, vigilância regu-
outras causas podem provocar esta sensa- aumentar a produção de saliva pelas glându- lar pelo estomatologista/dentista (diagnóstico
ção, nomeadamente fatores que alteram a las salivares através de métodos mecânicos e precoce de cáries/infeções orais, destartariza-
secreção autonómica (desidratação, taba- farmacológicos. A estimulação salivar mecâ- ções frequentes, aplicação regular de flúor e,
gismo, lesões cerebrais, medicação crónica nica consiste no paciente mastigar alimentos se necessário, reabilitação dentária).
como os antidepressivos/antihipertensores/ que necessitam de mastigac¸a~o vigorosa (ex:
antialérgicos), fatores que afetam o centro cenoura crua), mascar pastilhas/chupar rebu- Ana Cristina Pratas
salivar (stress prolongado, depressão, jejum çados (sem açúcar!) várias vezes ao dia – desa- 1TEN MN
frequente, doença de Parkinson, menopau- conselhado em doentes que sofram de dores
sa, gravidez) ou quando existem alterações nas articulações temporomandibulares ou www.facebook.com/participanosaudeparatodos
nas glândulas salivares (hipertrofia senil glan- cuja profissão não permita socialmente o mas-
dular, infeção, lesão ou obstrução glandular, car. A estimulação salivar farmacológica é feita
excisão cirúrgica, status pós-radioterapia, com medicamentos que atuam diretamente
quimioterapia ou imunoterapia, presença de nas glândulas salivares (sialogogos) como são
doenças autoimunes como o síndroma de exemplo a pilocarpina e a cevimelina.
Sjögren).
Em alguns doentes, no entanto, pode ja´
Diagnóstico na~o ser possi´vel estimular o fluxo salivar nor-
Quem sofre deste problema relata dificul- mal, sendo os substitutos da saliva a terapia
adequada. Existem vários substitutos de sali-
dade em engolir, sentir o gosto dos alimen- va à venda sob a forma de gel, pasta denta´ria,
tos, falar, controlar as próteses dentárias, elixir, colutórios e sprays. Contudo a eficácia
bem como refere mau hálito. Em alguns ca- destes e´ limitada pela sua curta durac¸a~o de
FEVEREIRO 2017 31