Page 31 - Revista da Armada
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SAÚDE PARA TODOS                                                                                     REVISTA DA ARMADA | 515

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BOCA SECA

A saliva é um fluido corporal transparente, constituído por água (99%), proteínas e eletrólitos. É produzida nas glândulas salivares e
libertada na cavidade oral, onde desempenha funções de limpeza e lubrificação, facilitação da mastigação, deglutição e fonação, pro-
teção dentária, atividade antimicrobiana, neutralização dos ácidos, entre outras. O controlo da produção da saliva é complexo e possui
mecanismos ainda não totalmente compreendidos. Sabe-se que esse controlo é determinado pelo sistema nervoso autónomo, sistema
endócrino e estado emocional. Diariamente produzimos 1-2 L de saliva. Quando isso não acontece, e existe deficit de saliva, surgem
complicações a nível da saúde oral, digestão e fonação, condicionando a qualidade de vida.

Definição                                         sos existe sensação de ardor na boca e um                                                                    DR
  A sensação de boca seca denomina-se             gosto amargo constante.
                                                                                                     ac¸a~o e muitas pessoas preferem beber água
xerostomia e é uma queixa frequente (cerca          Na consulta, perante estas queixas, o médi-      em pequenos goles de forma frequente ao
de 10% da população), particularmente en-         co especialista pesquisa a quantidade de sali-     longo do dia.
tre idosos. A xerostomia não é uma doença,        va produzida (para avaliar se existe objetiva-
mas sim um sintoma. Pode dever-se a uma           mente uma redução na produção), observa a          Medidas Gerais
redução da quantidade de saliva produzida         coloração e viscosidade da saliva e procura os       Na presença de boca seca todas as pessoas
(a hipossalivação tem de ser inferior a 50%       sinais que podem estar presentes neste qua-
do habitual para que seja sentida), a altera-     dro: mucosa oral seca e fissurada, impactação      devem: avaliar em consulta médica a possibi-
ções na composição da saliva, ou ser psico-       de alimentos entre os dentes, língua em mo-        lidade de reduzir a medicação crónica, con-
génica (não existe objetivamente nenhuma          saico, cáries, periodontite, infeções orais (ex:   trolar o seu nível de stress, evitar ambientes
alteração na saliva mas o doente sente como       candidíase), queilite angular (inflamação das      secos e quentes (ponderar usar humidifica-
se houvesse). Apesar de a xerostomia ser co-      comissuras dos lábios), dor e hipertrofia das      dor em casa), não consumir álcool/cafeína/
mum durante o sono, em períodos de febre          glândulas salivares. A análise da composição       bebidas açucaradas, não fumar, evitar ingerir
ou em situações de ansiedade, quando esta         da saliva em laboratório também pode auxi-         alimentos muito secos, hidratar a mucosa oral
queixa se torna diária e afeta a qualidade de     liar no diagnóstico.                               ingerindo líquidos a intervalos curtos e tam-
vida é crucial procurar ajuda especializada                                                          bém durante as refeições (mínimo 2 L de água
para se encontrar a origem do problema.           Tratamento                                         por dia), hidratar os lábios (batons, vaselina,
                                                    Após estabelecer o diagnóstico correto, a        vitamina E), escovar os dentes 4 vezes/dia
Causas                                                                                               (após refeições e antes de deitar) com pasta
  Entre as causas mais frequentes que levam       primeira abordagem é corrigir a causa da xe-       fluoretada e usar fio/fita dentária pelo menos
                                                  rostomia, se esta for tratável. No entanto, na     1 vez/dia, não usar elixir/colutório contendo
à xerostomia estão a respiração bucal, o res-     maioria dos casos as medidas terapêuticas          álcool, remover próteses antes de deitar e
sonar e o uso excessivo da fala. No entanto,      possíveis são apenas sintomáticas e visam          mergulhá-las em clorexidina, vigilância regu-
outras causas podem provocar esta sensa-          aumentar a produção de saliva pelas glându-        lar pelo estomatologista/dentista (diagnóstico
ção, nomeadamente fatores que alteram a           las salivares através de métodos mecânicos e       precoce de cáries/infeções orais, destartariza-
secreção autonómica (desidratação, taba-          farmacológicos. A estimulação salivar mecâ-        ções frequentes, aplicação regular de flúor e,
gismo, lesões cerebrais, medicação crónica        nica consiste no paciente mastigar alimentos       se necessário, reabilitação dentária).
como os antidepressivos/antihipertensores/        que necessitam de mastigac¸a~o vigorosa (ex:
antialérgicos), fatores que afetam o centro       cenoura crua), mascar pastilhas/chupar rebu-                                           Ana Cristina Pratas
salivar (stress prolongado, depressão, jejum      çados (sem açúcar!) várias vezes ao dia – desa-                                                     1TEN MN
frequente, doença de Parkinson, menopau-          conselhado em doentes que sofram de dores
sa, gravidez) ou quando existem alterações        nas articulações temporomandibulares ou                      www.facebook.com/participanosaudeparatodos
nas glândulas salivares (hipertrofia senil glan-  cuja profissão não permita socialmente o mas-
dular, infeção, lesão ou obstrução glandular,     car. A estimulação salivar farmacológica é feita
excisão cirúrgica, status pós-radioterapia,       com medicamentos que atuam diretamente
quimioterapia ou imunoterapia, presença de        nas glândulas salivares (sialogogos) como são
doenças autoimunes como o síndroma de             exemplo a pilocarpina e a cevimelina.
Sjögren).
                                                    Em alguns doentes, no entanto, pode ja´
Diagnóstico                                       na~o ser possi´vel estimular o fluxo salivar nor-
  Quem sofre deste problema relata dificul-       mal, sendo os substitutos da saliva a terapia
                                                  adequada. Existem vários substitutos de sali-
dade em engolir, sentir o gosto dos alimen-       va à venda sob a forma de gel, pasta denta´ria,
tos, falar, controlar as próteses dentárias,      elixir, colutórios e sprays. Contudo a eficácia
bem como refere mau hálito. Em alguns ca-         destes e´ limitada pela sua curta durac¸a~o de

                                                                                                     FEVEREIRO 2017 31
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