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REVISTA DA ARMADA | 516
VIGIA DA HISTÓRIA 92
ARDIS DE GUERRA
O diferendo, entre portugueses e es- os portugueses instalaram-se nas proxi-
panhóis, acerca da “posse“ das Molucas, midades da posição espanhola.
motivado pela incapacidade prática na Perante a destruição da sua nau os
determinação da longitude do arquipéla- espanhóis iniciaram a construção de um
go e o seu posicionamento à luz do Tra- navio por forma a poderem prosseguir a
tado de Tordesilhas, arrastou-se durante viagem.
largos anos e deu origem, na zona em dis- D. Jorge de Meneses, ao tomar co-
puta, a conflitos armados entre as duas nhecimento da situação, concebeu, ou
partes, uns já instalados na zona e outros, alguém por ele, um ardil tendente a ven-
os espanhóis, procurando ali instalar-se. cer a resistência dos espanhóis e, assim,
Fundamentalmente, o conflito decorria em Julho desse ano, quando o navio dos
da importância das Molucas na produção espanhóis estava quase concluído, man-
do cravo. dou que um dos seus homens, de nacio-
Um desses conflitos ocorreu em 1527, nalidade espanhola, simulasse fugir dos
entre os sobreviventes da armada de frei portugueses e procurasse asilo entre os
Garcia de Loaysa, saída da Corunha em espanhóis.
1525, e D. Jorge de Meneses, capitão da A encenação deveria ter sido bastante
fortaleza de Ternate. convincente pois o falso fugitivo foi rece-
Dera-se o caso que uma das naus da bido, de braços abertos, pelos seus con-
armada espanhola, de que era capitão terrâneos, passando a ter completa liber-
Fernando de la Torre, fora ter à ilha de dade de circulação na posição espanhola.
Tidore, no dia 31 de Dezembro de 1526, Duas semanas depois, em data e local
tendo os espanhóis desembarcado no dia previamente combinados, os portugue-
seguinte e iniciado a construção de um ses deixaram um conjunto de materiais
baluarte para o qual levaram a artilharia de fogo que, recolhidos pelo falso fugi-
de bordo. tivo, lhe permitiram destruir o navio em
Ao tomar conhecimento da situação construção, após o que voltou para junto
logo os portugueses organizaram uma dos portugueses que, quebrada assim a
expedição, constituída por uma fusta, resistência dos espanhóis, cedo ficaram
um batel e muitos paraus com gente de senhores da situação.
guerra.
O documento onde se recolheu a in-
formação é omisso quanto ao facto, mas
natural seria que os portugueses tentas-
sem inicialmente resolver a situação sem
recurso às armas; o que é um facto é que,
no dia 17 de Janeiro, lançaram um ataque Cmdt. E. Gomes
à posição espanhola, ataque esse que foi
rechaçado. Idêntico resultado teve um
novo ataque levado a cabo no dia seguin-
te, sendo que, no seu decurso, devido N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
ao tiro de uma bombarda embarcada na
fusta, a nau espanhola ficou totalmente
aberta e incapaz de navegar.
Não tendo conseguido desalojar os es-
panhóis em novo ataque ocorrido a 19, Fonte: Gavetas da Torre do Tombo XVIII – 4-13
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