Page 4 - Revista da Armada
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Das póvoas marítimas
para o mundo:
VILA DO CONDE
E PÓVOA DE VARZIM
Odesejo de independência dos povos é um sentimento ances- Henriques, a quem reconhecemos esse carisma e energia que de-
tral que tomamos como natural porque o sentimos intensa- terminou a independência. Mas o rei morreu e o povo continuou,
mente, mas que merece alguma reflexão. Portugal é um dos paí- defendendo o seu espaço com unhas e dentes, contra as investidas
ses mais antigos da Europa, com fronteiras definidas e com uma estranhas. Porquê?... Porque moldou um carácter próprio, distinto
vida independente praticamente ininterrupta, desde o século XII. dos seus vizinhos. E como é que isso aconteceu?... Aconteceu na
Porquê?... A que se deveu este fenómeno que nos deu energia relação com o oceano onde descobriu a sua riqueza e onde adqui-
para resistir a diversas tentativas de anexar o espaço português? riu condições próprias de vida, desde esse longínquo século XII. Um
sentimento que se apurou até ao reinado de D. Dinis, cuja visão
Entendo que a vontade indomável de ser independente decor- estratégica percebeu a importância de dominar o mar, criando um
re de um carácter que se forja e apura numa maneira de viver poder naval adequado, com uma marinha organizada. Uma manei-
distinta ditada pelas circunstâncias históricas e geográficas: ou- ra de ser e viver que se desenvolveu com o comércio marítimo a
tra maneira de trabalhar, outros gostos, outras formas de obter estender-se para o Atlântico, para o Índico e para todo o mundo.
os bens necessários e, consequentemente, outros modelos de
poder político. As línguas acabam por se distinguir ou não, mas a Mas este percurso de oito séculos que levou Portugal ao mar,
alma que se gera no quotidiano da vida diverge para uma cultura desenhou-se a si próprio na costa ocidental da Península Ibéri-
distinta que não aceita um poder estranho. ca, ao ritmo das condições da guerra endémica em que viveram,
desde o século VIII ao século XIV. A segurança por todos ansiada
Em Portugal isso aconteceu ao longo dos séculos XI e XII, primeiro foi vindo com a reconquista e com o estabelecimento das fron-
nos tempos dos condes portucalenses e, finalmente, com D. Afonso
4 JUNHO 2017