Page 5 - Revista da Armada
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teiras cada vez mais para o sul, levando a que aqueles que se re- europeu. Tomou as medidas necessárias à organização do Poder
fugiaram nas montanhas, vivendo de forma precária, arriscassem Naval português, e todos sabemos a importância que isso teve
descer à planície fértil, que está sempre para o lado do mar. O nos séculos que se seguiram. Contudo, a possibilidade de o fazer
mesmo mar que começa por trazer o pescado, depois o sal para decorreu do domínio do espaço marítimo ocidental e da criação
o conservar e, mais tarde, o comércio e as vias de acesso ao mun- e desenvolvimento de múltiplos portos e póvoas onde cresceu
do. Uma riqueza que cresce e que transforma a vida de quem se uma população marinheira. Foi nestas condições de segurança
habitua progressivamente a lidar com os seus perigos. que nasceu a Póvoa de Varzim e Vila do Conde ganhou expressão
significativa na foz do rio Ave. Cresceram pelo desenvolvimento
E este processo emerge de forma mais ou menos rápida a par- da pesca ou do comércio; da capacidade de exportação de pro-
tir desses tempos mais antigos, quando a costa vai ganhando dutos do interior ou pela criação das suas próprias capacidades,
também a segurança necessária para que se possa viver na foz como a construção naval e os apetrechos marítimos.
dos rios ou nas pequenas angras abrigadas que permitem a faina
do mar. Isso foi possível depois da conquista de Lisboa, em 1147, A ambas deve a Marinha Portuguesa e o país algumas das suas
porque a conquista desse importante porto ocidental reduziu maiores glórias vividas no mar. Cada uma delas com as suas ca-
substancialmente o perigo das embarcações mouras na costa e racterísticas próprias, vizinhas inseparáveis, que este ano acolhe-
deu aos portugueses as capacidades para serem os novos senho- ram a festa da nossa Marinha, merecem que delas fale de forma
res desse mar ocidental. mais detalhada e em separado, como duas grandes senhoras do
mar que são.
A Marinha Portuguesa comemora este ano 700 anos de exis-
tência, enquanto estrutura organizada destinada a garantir o J. Semedo de Matos
exercício do poder no espaço marítimo de interesse nacional. De- CFR FZ
vemos ao rei D. Dinis a visão estratégica de uma decisão, cuja ló-
gica política decorre da compreensão do lugar do país no xadrez N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
Foto SMOR L Almeida de Carvalho
JUNHO 2017 5