Page 24 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 527








          ACADEMIA DE MARINHA


          “O TESOURO DO BOM JESUS”


            ecorreu no passado dia 9 de janeiro,   moeda a data da sua cunhagem apenas se
         Dno Auditório da Academia de Marinha,   generalizou no século XVII, apesar de exisƟ -
          uma sessão cultural inƟ tulada “O Tesouro   rem outros elementos que permitem chegar
          do Bom Jesus”, apresentada pelo Professor   a uma datação aproximada, como as eİ gies e
          Luís Filipe Reis Thomaz, Membro Emérito   os nomes dos reis e dos príncipes, referências
          desta Academia.                   a acontecimentos históricos, frases célebres,
           O Académico, reconhecido especialista em   brasões e muitos outros símbolos. É também
          História do Oriente, salientou na sua comuni-  de se ter em conta as cunhagens póstumas,
          cação o trabalho de invesƟ gação que desen-  porque por diversas razões alguns soberanos
          volveu quando da catalogação das 2.333   conƟ nuaram a cunhar moeda em nome dos
          moedas de ouro e prata encontradas a 1   seus antecessores.
          de abril de 2008 entre os despojos do Bom   As invesƟ gações efetuadas tornaram possí-
          Jesus, um navio do século XVI naufragado na   vel datar, com razoável precisão, o naufrágio   do marfi m (a que gregos e romanos não
          costa da Namíbia. O achado foi trabalhado   e idenƟ fi car o navio. Assim, deduz-se dos   Ɵ nham acesso, importando-o diretamente
          por arqueólogos locais e alemães, o que   Ɵ pos monetários que o naufrágio teve lugar   da África Oriental e da Índia), esses géneros
          deu origem a um livro e a diversos arƟ gos. A   entre 1525 e 1537. Ora, segundo as cróni-  coincidem quase inteiramente com os que
          pesquisa das moedas permiƟ u determinar a   cas, nesse lapso de tempo apenas um navio   nos primeiros séculos da nossa Era o Impé-
          data mais provável do naufrágio deste navio   se perdeu naquelas paragens –  a nau Bom   rio Romano exportava para a Índia. Mais
          da Carreira da Índia, cuja carga foi avaliada   Jesus, da armada de 1533, capitaneada por   dotada pela natureza em espécies vegetais
          em cerca de 70 milhões de euros, com cada   D. Francisco de Noronha.  e não menos desenvolvida que a Europa em
          moeda de ouro portuguesa a valer 50 mil.   A análise da correspondência trocada   matéria de manufaturas, a Índia exportava
           Para elaborar o catálogo, encomendado   entre D. João III, que na época residia em   mais do que importava, sendo por isso o
          pelo InsƟ tuto de InvesƟ gação Cienơ fi ca Tro-  Évora, com o Vedor da Fazenda, o Conde   défi ce da sua balança comercial com o Oci-
          pical, a pedido da embaixada portuguesa   da Castanheira, que permanecia em Lisboa,   dente compensado em metais amoedados
          em Windhoek, o Professor Reis Thomaz   explica-nos a razão porque aproximada-  ou amoedáveis.
          esteve durante uma semana no Banco Cen-  mente dois terços das moedas achadas são   A exploração da Rota do Cabo pelos por-
          tral da Namíbia, onde se encontra guardado   castelhanas – correspondem ao numerário   tugueses insere-se assim no tradicional
          o tesouro, tendo então descoberto 35 dife-  enviado por mercadores de Sevilha que   padrão do comércio pelas rotas dos Estrei-
          rentes Ɵ pos de moedas.  De lembrar que a   pagaram adiantadamente as especiarias   tos, que apenas a revolução industrial bri-
          NumismáƟ ca é uma ciência auxiliar da His-  que haviam encomendado.  tânica dos séculos XVIII e XIX viria a alterar
          tória e em Arqueologia as moedas surgem   As outras mercadorias encontradas na nau   profundamente.
          sempre como um importante elemento de   (cobre, chumbo, estanho e marfi m)  cor-  Após a comunicação seguiu-se um período
          estudo já que permitem datar, por vezes com   respondem perfeitamente ao que se sabe   de debate em que o Professor Reis Thomaz
          grande rigor, numerosos achados. Explicou o   consƟ tuir habitualmente a carga das naus   esclareceu as questões colocadas pela inte-
          Professor que o hábito de se inscrever numa   da Índia. É interessante notar que à exceção   ressada assistência.


           XV EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS “O MAR E MOTIVOS MARÍTIMOS”

            A Academia de Marinha vai levar a efeito, nas instalações do   de 2018, das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 16h00, e terão de
           Museu de Marinha, a XV Exposição de Artes PlásƟ cas, subordi-  ser recolhidas entre 10 e 14 de setembro de 2018, no mesmo
           nada ao tema “O MAR E MOTIVOS MARÍTIMOS”. Para parƟ cipar é   horário.
           indispensável o envio, através de correio eletrónico, para o ende-  A inauguração terá lugar no dia 5 de junho de 2018. A expo-
           reço academia.marinha@marinha.pt (num tamanho máximo de   sição estará aberta ao público todos os dias, de 6 de junho a
           9MB), até 6 de abril de 2018, dos seguintes dados:   3 de setembro de 2018, das 10h00 às 18h00. Os prémios e as
            – Curriculum Vitae, com a indicação do endereço eletrónico,   menções honrosas atribuídas pelo Júri serão entregues na ceri-
           com o máximo de 12 linhas;                         mónia da inauguração. A cada expositor será atribuído um cer-
            – Uma imagem devidamente idenƟ fi cada de cada uma das   Ɵ fi cado de parƟ cipação na Exposição.
           obras a expor para fi gurar no catálogo.             O regulamento da XV Exposição de Artes PlásƟ cas encontra-se
              As obras deverão ser entregues no Museu de Marinha   disponível para consulta na secretaria e no Portal da Academia
           (Departamento do Património), em 23, 24, 26 ou 27 de abril   de Marinha academia.marinha.pt.


                                                                                    Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA


          24  MARÇO 2018
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