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REVISTA DA ARMADA | 539


          ESTÓRIAS                                                                                         48


          DIA DO PAI





            ó muito recentemente me lembro de ser festejado o Dia do Pai.
         S O da Mãe, sim! Lembro-me bem que era festejado a 8 de Dezembro.
           Eu também não era muito chegado ao meu pai.
           Respeitava-o. Era amigo, mas nunca fomos muito próximos.
           Talvez só na parte final da sua vida. Quando terá perdido grande parte da
          sua couraça, que sempre usou, contra aquilo que considerava de fraqueza e
          lamechice – a ternura.
           A dureza da vida vacinou-o contra esse tipo de moléstia urbana e efeminada
          de presentear as pessoas que amamos com mais do que um beijo na testa na
          rotina diária e um abraço para as celebrações e efemérides.
           Os homens queriam-se longe de tudo o que pudesse ser sinal exterior de cedência,
          tolerância ou simples partilha.
           Não queria isso dizer falta de sensibilidade ou solidariedade social.
           O Homem, especialmente o Pai, era feito para mostrar o caminho, mas não para o trilhar em conjunto.
          Era feito para enfrentar as contrariedades com vigor e temperança, nunca mostrando receios ou dúvidas
          de permeio, coisas essas, incompatíveis com a manifestação expressa de fraquinhos ou afectos, mesmo
          que no seio da família.
           Cá fora, fazia fé nos destinos dos filhos, que cuidara, preparando-se para as agruras da vida!
           Nem sempre correspondemos a essa certeza e nunca dela tivemos conhecimento de viva voz!
           Mas sabíamos que era assim! Que tudo perderia para que ganhássemos! Que nada teria
          para que tivéssemos!
           Percebo-o hoje, mas já não posso manifestar-lho, como gostaria de ter feito!
           Revejo-me nele, mas espero ter tido junto das minhas filhas uma proximidade maior
          que permitisse a cumplicidade e o carinho manifesto, que julgo terem existido.
           E como pai bem-sucedido tenho que dizer que com filhas destas é muito fácil
          ser-se pai.
           Neste Dia do Pai saúdo as filhas que tenho!
                                                                    
                                                           Ferreira Júnior
                                                                  CMG
          N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico

                                                                                                                     DR
          Nota
          Extraído do livro “TERRA-MAR-E-GUERRA – Cogitações de um Marinheiro Alentejano”.



          POEMA



                                                     Devaneio


             Ó mar calmo, recatado,   Mar revolto o teu rugido,   São brados extasiantes,   Júbilos, dramas, enredos,
             Quantos mistérios carregas!  Tuas vagas agitadas,  Percorrendo os oceanos.  Que rumor é afinal?
             O que guardas de sagrado,  É um rumor ensurdecido,  São vozes dos navegantes   Revela quais os segredos
             Que aventuras me sonegas?  Ecos de ondas já passadas.  Quinhentistas lusitanos.  Que ocultas de Portugal.

                                                                                                    Lopes de Matos
                                                                                                       SAJ SE REF







                                                                                                                 DR


          28  ABRIL 2019
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