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REVISTA DA ARMADA | 544


              NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA                                                                        79































              A Quadratura do Círculo e o

              Navio Polivalente Logístico…



              A sua (… da Reforma do Sistema de Saúde Militar) discussão alargada é premente e não deve deixar de incluir o Navio Polivalente
              LogísƟ co, que é também navio-hospital, dotado de signifi caƟ vos meios humanos (médicos, enfermeiros e técnicos) e materiais
              (bloco operatório, imagiologia, estomatologia e enfermaria).
                                                                           CALM MarƟ ns Guerreiro, Crónica de Saúde Naval, janeiro-março de 2011

                 as várias intercorrências que o desƟ no nos entrega, calhou-me   texto militar conjunto, os marinheiros – tal como me aconteceu a
              Da mim ser o representante atual da Saúde Naval, no contexto   mim – são sucessivamente ultrapassados, comandados por ofi ciais
              da Reforma da Saúde Militar. Não é uma tarefa fácil, numa época   que antes eram mais modernos (alguns bastante mais modernos).
              em que a anunciada “Reforma” conƟ nua a avançar com múlƟ plas   O mesmo, estou certo, poderão dizer ofi ciais navais não-médicos
              difi culdades. Por outro lado, os interessados, todos nós, confi rmam   em relação a outros ramos. Contudo, existe uma componente téc-
              que estamos pior em múlƟ plos senƟ dos…             nica comum, exclusivamente médica, que liga todos os médicos e,
               Tem-me cabido a mim defender a dama da Marinha, em muitas   de uma forma ou de outra, os restantes técnicos de saúde e que
              situações em que se discutem vários aspetos que são centrais para   ninguém, na medicina miliar ou civil, gosta de ver ultrapassada.
              o processo, mas têm sido sucessivamente incompreendidos, senão   Dito doutra forma, é possível a médicos–militares, terem aƟ ngido
              completamente ignorados. Um deles é a harmonização das car-  um determinado grau técnico, 5 ou 6 anos, antes de outros (mui-
              reiras, do pessoal de saúde, entre os vários ramos. Com o devido   tas vezes a quem ensinaram) e, posteriormente, fruto da diferente
              respeito pelo empenhamento dos outros ramos em múlƟ plas mis-  progressão militar entre os ramos, serem comandados por médicos
              sões, especialmente no apoio médico às forças nacionais destaca-  mais jovens e tecnicamente menos diferenciados. Para a maioria
              das (FNDs) – em que a Marinha também sempre parƟ cipou – em   este desiderato é pura e simplesmente inaceitável…
              nenhum dos outros ramos existe um empenhamento operacional   Reli recentemente a crónica de saúde naval (citada acima), escrita
              tão exigente, mesmo em tempo de paz, como o embarque.   por alguém que não é médico, mas com a qual concordo inteira-
               O embarque faz parte da essência da Marinha e muda-nos por   mente. Venha o Navio Polivalente LogísƟ co (NPL). Este navio terá
              dentro. Lembro-me, por exemplo de estar 22 dias sem pisar terra   uma componente de Saúde, que não poderá ser sustentada por
              fi rme e depois passear por ruas vazias, em Ponta Delgada, entre as 4   apenas um ramo. Tal já acontece com o “Hospital de Campanha”,
              e as 6 horas da madrugada. Voltar ao navio, para mais 12 dias de mar,   que pertence ao Exército Português, mas tem, estatutariamente,
              seguido, após breve semana em Lisboa, de mais 6 meses no mar…. É,   em “ordem de batalha”, os técnicos do Hospital das Forças Arma-
              ainda, diİ cil explicar, aos técnicos de saúde não-marinheiros, o sofri-  das necessários ao seu empenhamento. O embarque no NPL daria
              mento por vezes imposto pelo mar, do qual o enjoo de movimento é   aos outros técnicos de saúde de outros ramos o conhecimento do
              apenas a face mais visível e, para alguns, tão marcante…  que é estar embarcado. Só então esses outros técnicos – com os
               Foi pelo facto de inúmeros novos médicos navais conhecerem   quais tenho acesas discussões sobre a diferença de empenhamen-
              o embarque naval, o esforço  pessoal, profi ssional e familiar que   tos e carreiras – poderiam, com propriedade, avaliar se estou certo,
              ele impõe, que abandonaram as fi leiras. Abandonaram-nas tam-  ou errado. O NPL faria a quadratura de círculo que teima em não
              bém, porque este Ɵ po de empenhamento é desconhecido para os   fechar. Na Marinha aguardamo-lo com expectaƟ va…
              restantes médicos militares e não tem repercussão no empenha-
              mento conjunto, que a reforma impõe. Ao contrário, neste con-                                       Doc


                                                                                                SETEMBRO/OUTUBRO 2019  29
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