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REVISTA DA ARMADA | 548


              SAÚDE PARA TODOS                                                                                  72



              FRIEIRA



              Mãos frias, coração quente. Todos nós já ouvimos este provérbio mas quem sofre de frieiras, cujo nome cienơ fi co é eritema pérnio ou
              perniose, sabe bem que o estado das suas mãos não equivale ao estado do seu enamoramento. Este é um problema comum, parƟ cu-
              larmente no inverno, que se caracteriza por lesões cutâneas induzidas pelo frio que limitam muito a vida dos doentes mas que, com os
              cuidados certos, podem ser prevenidas e minimizadas.

              O QUE SÃO FRIEIRAS?
               As frieiras correspondem a uma doença infl amatória da pele desen-
              cadeada pela exposição ao frio e que aƟ ngem, sobretudo, as extremi-
              dades do corpo, como os dedos das mãos ou dos pés, nariz e orelhas
              (apesar de pouco frequente, também podem estar presente nos joe-
              lhos, cotovelos e pernas). São muito comuns na população, princi-
              palmente em mulheres, e podem surgir em qualquer idade ou raça.
              COMO SURGEM AS FRIEIRAS?                                                                             DR
               Considera-se que as frieiras se devam a uma reação desadequada
              do organismo ao frio. Quando o nosso corpo é exposto ao frio é   ciadas (inchadas), dolorosas, com prurido (comichão),  fi ssuras  e,
              fi siológico haver contração dos pequenos vasos sanguíneos super-  por vezes, em estados mais graves, com bolhas e úlceras. As frieiras
              fi ciais da pele (o corpo pretende evitar desperdício de calor para o   surgem em cada pessoa com graus de intensidade variáveis e costu-
              exterior). Quando a temperatura ambiente sobe, esses vasos voltam   mam ser recorrentes.
              a dilatar-se, mas muito gradualmente, pois pretende-se um retorno
              progressivo do fl uxo sanguíneo. Mas se a temperatura ambiente   DIAGNÓSTICO
              se manƟ ver baixa e a exposição ao frio se prolongar além dos 10   As frieiras podem ser primárias (sem causa conhecida) ou secundá-
              minutos, o corpo tem a capacidade de interromper a vasoconstrição   rias (são um sinal de outra doença subjacente) pelo que o diagnós-
              e fazer períodos de vasodilatação, de forma cíclica, para prevenir   Ɵ co é realizado através da história clínica e da observação das lesões
              lesões dos tecidos.                                 cutâneas, mas sempre após se terem excluído causas autoimunes,
               A causa exata de haver pessoas que sofrem de frieiras está ainda   neoplásicas ou hematológicas.
              por determinar. Uma teoria aponta para estas pessoas terem maior
              sensibilidade ao frio, logo terem uma vasoconstrição muito maior,   TRATAMENTO
              o que causaria lesões cutâneas por falta de irrigação sanguínea nas   Esta doença tem habitualmente uma cura espontânea em  15 dias,
              extremidades do corpo. Outra teoria refere que nestes doentes a   sem deixar sequelas, contudo é preciso estar alerta para complica-
              recuperação da temperatura da pele provocada pela vasodilatação   ções graves que podem surgir, tais como infeção e morte dos teci-
              é rápida demais, o que levaria a um congesƟ onamento da circula-  dos, sendo crucial a ida a uma consulta médica nestas situações.
              ção sanguínea e consequente extravasão de plasma para os tecidos   As medidas terapêuƟ cas recomendadas nos casos ligeiros são
              envolventes, provocando infl amação dos mesmos. Por fi m, uma ter-  as mesmas medidas que devem ser adotadas para prevenção das
              ceira teoria que levanta a hipótese de haver uma falha no sistema   frieiras: manter a pele afetada seca e quente (manter a casa aque-
              de equilíbrio vasoconstrição/vasodilatação e, como tal, se o doente   cida; usar peças de roupa em lã; evitar o uso conƟ nuado de água
              permanecer mais de 10 minutos em ambiente frio, o organismo não   e detergentes; calçar luvas antes de sair para o exterior; optar por
              fará vasodilatação, logo as extremidades do doente permanecerão   calçado largo), nunca colocar a pele em contacto direto com fontes
              sem irrigação sanguínea por demasiado tempo.        de calor (aquecedor, lareira, água muito quente) e fazer massagens
                                                                  com movimentos suaves, mas sem coçar nem esfregar (de prefe-
              FATORES DE RISCO                                    rência com recurso a um creme hidratante para aliviar o prurido).
               Apontam-se como fatores que podem contribuir para o apareci-  Devem evitar-se oscilações extremas de temperatura ambiente,
              mento de frieiras os seguintes: lavar muitas vezes as mãos com água   fumar e consumir bebidas alcoólicas. Deve privilegiar-se o uso de
              fria ou manter as mãos muito tempo mergulhadas em água fria/  água morna nas tarefas quoƟ dianas e ingerir mais de 1,5 L/dia para
              gelo/produtos congelados; sofrer diferenças de temperatura acen-  manter hidratação corporal. O exercício İ sico também é benéfi co.
              tuadas num curto espaço de tempo; residir em climas frios e vento-  Nos casos em que há fi ssuras ou úlceras na pele deve ser asse-
              sos; usar vestuário insuficiente ou demasiado justo nos membros;   gurada uma boa desinfeção da zona e colocada uma ligadura, sem
              ter baixo peso corporal; ser fumador; consumir bebidas alcoólicas.   apertar demasiado, para evitar infeções. Nos casos recorrentes
              Também ter história familiar de frieiras ou história pessoal de diabe-  (há pessoas que só curam as lesões no verão, recidivando a cada
              tes mellitus, doenças circulatórias ou reumáƟ cas aumenta o risco de   inverno), ou quando as medidas gerais não resolvem o problema, o
              frieiras, e suas complicações.                      médico assistente pode ponderar medicação oral com um vasodila-
                                                                  tador (nifedipina até 20 mg/3x dia).
              MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
               O aparecimento de frieiras é associado a uma sensação de pro-                           Ana Cristina Pratas
              fundo desconforto. As zonas aƟ ngidas apresentam-se com colora-                                 1TEN MN
              ção variável entre o branco, vermelho ou mesmo violácea, edema-            www.facebook.com/participanosaudeparatodos


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