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REVISTA DA ARMADA | 555
VIGIA DA HISTÓRIA 120
NOVAS ILHAS
falta de rigor dos processos de navegação até à uƟ lização a bordo do
A cronómetro, instrumento fundamental para a regular determinação
da longitude, levava a que fossem comeƟ dos erros de vária natureza, uns
de consequências trágicas, como acontecia com os naufrágios, e outros de
menor importância, como era o caso das ilhas novamente descobertas.
Como é sabido, a posição do navio era, então, defi nida pela laƟ tude, coor-
denada que se conseguia determinar nem sempre de forma rigorosa, que
então era conhecida como “altura“, e pela longitude, conhecida como “lon-
jura“ e cuja determinação era feita pelo recurso à esƟ ma, cujos erros de
avaliação só quem nunca navegou é que pode admiƟ r não serem, a maior
parte das vezes, bem grandes. Os relatos das viagens que nos chegaram
contêm muitos exemplos desses erros.
Bastava que a esƟ ma da progressão em longitude esƟ vesse errada, o que
era a situação mais frequente, para que uma ilha encontrada fosse assina-
lada na carta como se de nova ilha se tratasse, quando muitas das vezes
mais não era do que uma já anteriormente descoberta e assinalada. É exac-
tamente por isso que nalgumas cartas aparecem, em especial no Índico,
muitas ilhas assinaladas na mesma laƟ tude e com longitudes diferentes,
ilhas essas que, na maior parte dos casos não existem.
Para além destes casos de incorrecta determinação das coordenadas,
outro caso sucedia, quer por resultado das condições atmosféricas, quer
por errada interpretação de alguns dos sinais avistados .
1
Os casos que seguidamente se relatam enquadram-se naquilo que atrás
se referiu.
Em 11 de Março de 1530 o Rei D. João III escrevia o seguinte:
“Faço saber que D. João de Meneses e Vasconcelos …. me disse que ele
Ɵ nha sabido como os moradores da ilha do Fogo, de que ele é capitão, têm
por informação que dentro de 80 léguas da dita ilha, para a parte do Sul, jaz
outra ilha que não é povoada, nem descoberta, pedindo-me o dito conde que
me provesse fazer-lhe doação e mercê de juro e herdade para sempre da
capitania da dita ilha que assim está por descobrir, se ele a descobrisse.“
Mais de meio século depois, em 5 de Julho de 1593, Gonçalo Vaz CouƟ nho
escrevia, da ilha de S. Miguel, o seguinte:
“Em 29 do mês passado Ɵ ve da Terceira uma carta do Inquisidor Jerónimo
Teixeira que um barco da ilha do Faial dera com uma ilha nova ao Sul 80 léguas
e que isto era certo. O barco não fundeara nessa ilha por causa da tormenta.“
Este mesmo capitão já em 1591 havia mandado descobrir tal ilha sem,
contudo, ter obƟ do êxito, mas agora iria mandar uma naveta escocesa que
ali se encontrava carregada de trigo e tendo-lhe Ɵ rado a carga fi zera embar-
car nela pessoas de confi ança que seguiriam juntamente com a chalupa da
nau da Índia.
Como seria de esperar, em nenhuma das situações chegou alguma vez a
ser descoberta qualquer das ilhas referenciadas.
Cmdt. E. Gomes
Fonte: Corpo Cronológico 1ª Parte maço 112 doc. 116 .
Notas
1 Já em arƟ go anterior se referiu ao caso de um grande animal marinho morto (possivelmente uma
baleia) que terá sido inicialmente considerado como sendo uma ilha, e só a deslocação ao local
permiƟ u esclarecer a situação.
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfi co
30 SETEMBRO/OUTUBRO 2020 DR