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REVISTA DA ARMADA | 555


              RESÍDUOS DE MEDICAMENTOS




              A Marinha Portuguesa é uma insƟ tuição repleta de história, mas voltada para o futuro. Neste senƟ do, pretende assegurar a sus-
              tentabilidade ambiental no cumprimento da sua missão, através da aplicação de princípios de gestão que garantam a prevenção
              da poluição, a gestão sustentável dos recursos naturais e a promoção da consciencialização individual e da proteção e preservação
              do ambiente.


              PONTO DE SITUAÇÃO                                                                                    DR

                 Centro de Abastecimento Sanitário (CAS) da Marinha,
              O  integrado na Direção de Saúde, é responsável pela ges-
              tão técnico-logísƟ ca de todos os medicamentos, disposiƟ vos
              médicos e equipamentos de saúde na Marinha, processo esse
              que envolve a aquisição, monitorização, e dispensa para todos
              as Unidades, EnƟ dades e Organismos (U/E/O) do Ramo.
               O consumo de medicamentos em Portugal tem crescido
              bastante, principalmente devido ao progresso tecnológico e
              ao aumento do nível de vida, o que suscita, simultaneamente,
              interessantes e preocupantes questões a nível ambiental e de
              saúde pública.
               Os fármacos consƟ tuem um grupo extenso e diversifi cado
              de compostos orgânicos uƟ lizados em quanƟ dades elevadas um   prejudicial do que a excreção, uma vez que os medicamentos ainda
              pouco por todo o mundo . Não obstante, tem-se assisƟ do a uma   contêm toda a sua aƟ vidade farmacológica para atuar, logo repre-
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              preocupação crescente com o desƟ no ambiental de inúmeros fár-  sentam um risco maior. Como se trata de compostos biologicamente
              macos usados, devido ao seu potencial como poluentes ambientais.   aƟ vos, o risco associado à sua presença no ambiente deve ser pon-
              Embora os medicamentos tenham um relevante papel na preven-  derado, não só pela sua ação farmacológica mas também em função
              ção e tratamento de patologias, podem provocar efeitos não deseja-  do seu tempo de exposição . Há que ter em conta que as conse-
                                                                                       7
              dos sobre organismos não alvo.                      quências nos seres do meio aquáƟ co não são detetáveis de per si, no
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              CLASSIFICAÇÃO E PERIGOSIDADE                        tornam-se inevitavelmente óbvias e irreversíveis.
              DOS RESÍDUOS                                          Um dos Ɵ pos de fármacos que traz bastantes complicações a este
                                                                                       nível são os anƟ bióƟ cos, visto que uma
               Apesar de o setor do medicamento                                        dada espécie de microrganismos que
              representar uma reduzida percentagem   Medicamento é “toda a substância ou asso-  habite num determinado ecossistema
              dos resíduos sólidos urbanos, houve   ciação de substâncias apresentada como   que contenha concentrações de anƟ -
              a necessidade de criar o Sistema Inte-  possuindo propriedades curativas ou pre-  bióƟ cos, ainda que reduzidas, pode
              grado de Gestão de Resíduos de Emba-  ventivas de doenças em seres humanos ou   adquirir resistência a esses mesmos
              lagens e Medicamentos (SIGREM),   dos seus sintomas ou que possa ser utili-  anƟ bióƟ cos .
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              tendo como fundamento a especifi -  zada ou administrada no ser humano com   Para que os problemas descritos ante-
              cidade do produto-medicamento. Tal   vista a estabelecer um diagnóstico médico   riormente não subsistam é essencial
              especifi cidade prende-se com a adoção   ou, exercendo uma ação farmacológica, imu-  que, por um lado, os consumidores
              de um processo de recolha seguro, evi-  nológica ou metabólica, a restaurar, corrigir   adotem comportamentos adequados
              tando-se, por razões de saúde pública,   ou modifi car funções fi siológicas” .  e aƟ tudes prevenƟ vas e, por outro, que
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              que os resíduos de medicamentos                                          os processos de eliminação destes com-
              (RM) estejam acessíveis como qualquer                                    postos sejam mais efi cazes e seguros.
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              outro resíduo urbano, já que se destacam pela sua toxicidade .
               Ora, resíduos são “quaisquer substâncias ou objetos de que o   PROCESSOS DE ELIMINAÇÃO
              detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfa-
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              zer” . A Lista Europeia de Resíduos (LER)  classifi ca os RM como resí-  Os RM estão presentes em dois ambientes bastante disƟ ntos,
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              duos não perigosos (18 01 09) , no entanto, há que ter em conta os   designadamente o ambiente aquáƟ co e o ambiente terrestre e,
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              medicamentos citotóxicos e citostáƟ cos, os quais já são considera-  como tal, os processos de eliminação não se desenrolam do mesmo
              dos perigosos (18 01 08 (*)).                       modo.
               A introdução de RM no meio ambiente importa várias e severas   Para além do diferente processamento dos métodos de elimina-
              consequências diretamente para o ambiente e indiretamente para   ção, há ainda a ter em conta outros fatores para a efi caz e viável
              nós, seres vivos, através de intoxicações.          eliminação dos fármacos existentes no ambiente, por exemplo: a
               Os medicamentos entram conƟ nuadamente e com muita faci-  estação do ano, a temperatura, a intensidade da luz solar, as carac-
              lidade no meio ambiente, por duas vias principais: o consumo,   terísƟ cas dos fármacos, a duração da sua permanência, a localização
              através da excreção, resultante da ingestão, injeção e inalação ou   e as parƟ cularidades técnicas da estação de tratamento.
              remoção da medicação tópica durante o banho; e a deposição direta   A presença dos RM nestes dois ambientes resulta essencialmente
              ou voluntária que ocorre quando os fármacos são depositados dire-  das descargas nas ETARs, onde tem sido detetada uma grande diver-
              tamente nos esgotos ou no lixo comum.  A deposição direta é mais   sidade de medicamentos, e da uƟ lização de excreção animal como


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