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REVISTA DA ARMADA | 555


               ESTÓRIAS                                                                                        63



              O FUZO E O PAPAGAIO




                azer desporto é uma caracterísƟ ca muito peculiar e apreciada   de atleƟ smo do Centro de Educação Física da Armada (CEFA) para
              Fno meio militar, não só como preparação para a guerra, mas   se embrenharem por entre os trilhos da mata do Alfeite.
              também zelando por uma vida saudável, como tem sido muito   Nunca percebi muito bem porque é que um animal de grande
              bem explicado nas crónicas de Saúde pelas médicas e médicos   porte İ sico, com pêlo espesso e preto, com uma grande resistên-
              na Revista da Armada, embora, muitas vezes, não lhes seja dado   cia e uma “voz” (laƟ do) grossa e profunda, tal como a do Papa-
              o devido valor.                                     gaio, que dissuadia qualquer inimigo, acompanhava todos os dias
               Desde sempre, e dentro das minhas possibilidades, também   este grupo de atletas percorrendo a mata do Alfeite uma, duas
              eu tenho praƟ cado alguma aƟ vidade İ sica, tentando manter-me   ou três vezes por dia, sem nunca contestar. Talvez por fi delidade,
              saudável e pronto para receber o “inimigo”, a velhice, aquele fi m   amizade, companhia, recompensa pelos cuidados que estes atle-
              de vida saudável por que todos desejam. E foi devido a este prin-  tas lhe prestavam ou simples gosto pelo desporto. Estes animais
              cípio que fi quei a conhecer o Fuzo e o Papagaio.    têm destas caracterísƟ cas, embora não tenha sido o primeiro

                                                                                                                      Autor: STEN TSN-ARQ Paulo Guedes
































               Pelas manhãs, ainda gélidas, frias e nevoeirentas, ainda mesmo   animal canino a percorrer a mata do Alfeite, já muito antes disso
              antes da alvorada, enquanto outros marinheiros repousavam das   esta era detentora de alguns cães, guardas e mateiros que zela-
              confusas noitadas que em tempos eles muito bem conseguiam pro-  vam pela segurança desta área militar, sendo depois subsƟ tuídos
              porcionar, quer a bordo quer na Casa do Marujo ou noutros lugares   pela inovação da máquina (jipes de patrulha, sensores e câmaras
              de convívio, muito longe do um terabyte por segundo do 5G ou do   de fi lmar) sendo, recentemente, reaƟ vado o uso de animais cani-
              promissor 6G em que se interligam os atuais marinheiros no uso   nos a fi m de zelar pela segurança.
              das novas tecnologias IoT , Fuzo e Papagaio e toda a equipa percor-  Contudo, o tempo ia passando e observava Fuzo e Papagaio a
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              riam a mata do Alfeite em busca dessa desejada vida saudável. Dois   revelarem a chegada da idade avançada, aquele ”inimigo” tão
              seres que, desde sempre, me despertaram a curiosidade quando   indesejado. Agora com menos regularidade e em menor número,
              passavam por mim. Um deles era o Papagaio, alcunha dada a um   mas não desisƟ am de realizar o seu exercício İ sico maƟ nal na
              militar da Armada, não sei se seria pelo seu peculiar bigode que até   mata do Alfeite, mantendo sempre aquele laço de fi delidade e de
              Salvador Dali  teria inveja dele, se por estar sempre a falar, pois nem   resistência, até que a morte os eternizasse.
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              o cansaço do esforço do treino İ sico o demovia, parecendo os tam-
              bores de guerra que já se ouviam a quilómetros de distância, anun-                          Santos Cardoso
              ciando a sua chegada. O mesmo acontecia com o Fuzo, um animal                                 Guarda PEM
              canino a quem lhe deram esse nome, não sei se foi pelo seu porte
              İ sico, se pela sua resistência, pois sempre que chamavam por ele,
              Fuzo, Fuzo, Fuzo, lá saia ele da sua zona de conforto, como os fuzi-  Notas
                                                                    1
              leiros sempre fazem para ajudarem quem mais precisa, para acom-  2  Acrónio de Internet of things.
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              panhar estes atletas para mais um treino maƟ nal com saída da pista

                                                                                                SETEMBRO/OUTUBRO 2020  31
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