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REVISTA DA ARMADA | 556


                                                                     VIGIA DA HISTÓRIA                        125




                                                                      CANHONEIRA


                                                                     ZAMBEZE



                                                                       stou em crer que faz parte da natureza humana que,
                                                                     Equando nos deparamos com uma qualquer inovação, em
                                                                     especial se for tão óbvia que qualquer um de nós se espante
                                                                     por não se ter lembrado de a ter inventado antes, a reacção
                                                                     quase imediata é a de procurar melhorar essa mesma inova-
                                                                     ção, aquilo a que é usual designar, em tom galhofeiro, como
                                                                     sendo a “versão corrigida e melhorada”, versão essa que nem
                                                                     sempre corresponde ao propósito melhorador.
                                                                      O caso sucedido com a canhoneira Zambeze, que consta em
                                                                     trabalho que espero se venha a publicar brevemente  é um
                                                                                                               1
                                                                     claro exemplo dessa tal tendência.
                                                                      Aquando da construção daquele navio da Marinha de
                                                                     Guerra, por volta do ano de 1884, entraram o Tejo duas
                                                                     outras canhoneiras, a Zaire e a Liberal, igualmente desƟ nadas
                                                                     à Marinha de Guerra e que haviam sido acabadas de construir
                                                                     no Reino Unido.
                                                                      Estes navios, entre outras, apresentavam uma curiosa e úƟ l
                                                                     inovação que consisƟ a na existência de uma pequena calha
                                                                     metálica, colocada debaixo das vigias, com o propósito de ali
                                                                     se recolher a água da condensação ou a resultante da entrada
                                                                     por eventual defi ciente vedação das vigias.
                                                                      Tal novidade foi, como seria de esperar, imediatamente
                                                                     adoptada pelos responsáveis pela construção da Zambeze.
                                                                      Tais responsáveis depararam-se então com o problema do
                                                                     escoamento dessa mesma água acumulada pelo que, corri-
                                                                     gindo e melhorando a inovação, efectuaram um pequeno furo
                                                                     por forma a permiƟ r o seu escoamento directamente para o
                                                                     exterior.
                                                                      Aquando da realização das provas de mar do navio e quando
                                                                     este navegava fora da barra há já algum tempo, o imediato foi
                                                                     surpreendido com a noơ cia de que a maioria dos camarotes,
                                                                     e demais alojamentos, se encontravam alagados.
                                                                      Ao analisar as causas do sucedido verifi cou que, se era ver-
                                                                     dade que os tais oriİ cios permiƟ am o escoamento da água
                                                                     acumulada para o exterior, não era menos verdade que possi-
                                                                     bilitavam o embarque de água do exterior, por causa da ondu-
                                                                     lação ou da surriada.
                                                                      Adepto de que “para grandes males, grandes remédios“,
                                                                     ordenou que todos aqueles oriİ cios fossem tapados com
                                                                     rolhas de corƟ ça.
                                                                      É evidente que a Voz da Abita, sempre atenta a situações
                                                                     deste Ɵ po, não poderia deixar passar em claro esta oportu-
                                                                     nidade bapƟ zando o navio, que desde então, passou a ser
                                                                     conhecido pela alcunha de “O Rolhado“.

                                                                                                          Cmdt. E. Gomes

                                                                     Notas
                                                                      Questões de natureza editorial levaram a que este arƟ go só agora, após a publica-
                                                                     1
                                                                     ção do referido trabalho – Por Este Nome se Conhecem (As Alcunhas dos Navios), ed.
                                                                     Culturais da Marinha –, viesse a ser publicado.
                                                                     N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfi co


              30   NOVEMBRO 2020
                                                           DR
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