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REVISTA DA ARMADA | 565
VIGIA DA HISTÓRIA 127
DESCOBRIDORES
DA PÓLVORA
empre houve, e nada leva a crer que assim não continue a ser, indivídu-
Sos que, aparentemente sem conhecimentos específicos, acreditam ter
concebido grandes inventos, inventos esses que na sua quase totalidade ou
não são exequíveis ou não logram alcançar os objectivos para que alegada-
mente haviam sido inventados
O caso do cónego da basílica da Estrela, José Pedro Bayard, pelo elevado
número de inventos de que se reclama autor assume um lugar especial
nessa categoria.
O cónego em causa publicou, em 1824, um folheto cujo título, apesar de
longo merece , pelo seu ineditismo, aqui ser transcrito:
“Mapa em que se relatão os engenhos em modelos, que se achavão no
terceiro andar no palácio da Real Junta do Comércio, e forão consumidos
com o fogo, que os abrazou no dia 10 de Agosto de 1821, os quaes tinha
construído, por sua ideya e à sua custa“
No folheto em causa pouco mais são apresentados do que os objectivos
que pretendia alcançar com cada um desses inventos, 8 dos quais relacio-
nados com as actividades marítimas e que seguidamente se indicam, assim:
1 – Talha Mar, invento destinado a pôr e retirar as segundas portas do di-
que da Ribeira das Naus;
2 – Semovente Hidráulico, invento destinado a retirar a água do dique, por
meio de uma roda cujo movimento seria garantido pela própria água
a retirar;
3 – Vaivém de Vento ou Guindaste Horizontal consoante fosse usado em
terra ou no mar e que possibilitaria navegar sem velas, sem motor, sem
perigo do fogo ou dos efeitos do mar;
4 – Armaselho ou Respira Búzio, invento cujo elevado custo seria compen-
sado pelos “milhões“ que permitiria adquirir, o invento possibilitaria
o trabalho de vários homens respirando debaixo de água e vendo os
objectos no fundo mar, tinha, no entanto, algumas limitações, como
fossem a necessidade de que as águas estivessem equilibradas (sic ?),
niveladas (sic ?), planas e tranquilas;
5 – Estrada de água ou escada de batéis, invento que utilizando um de-
pósito de água nas altas serras e outro nos baixos vales permitiria o
transporte, em bateis, de cima para baixo e de baixo para cima das
produções das povoações vizinhas;
6 – Dragão Naval ou Guarda Porto, referido como sendo uma sentinela ter-
rível, tornando inacessível o acesso a qualquer embarcação indepen-
dentemente do seu porte. É referido que era movido a remos e os seus
remeiros e oficiais estariam sempre a coberto dos ataques e do fogo
do inimigo;
7 – Bóia Lisbonina destinada às embarcações de comércio que assim não
precisariam de Lastro, nem se afundariam;
8 – Nau Não Naufraga, tratava-se de uma nau que nunca naufragaria, o
autor refere que não descreve o invento (como aliás sucede com todos
os outros) com medo que lhe roubem a idéia.
Tudo leva a crer que a capacidade inventiva deste cónego se terá ficado
unicamente pela nomenclatura dos seus inventos.
Fonte AHU Maços do Reino cx. 48 A Pasta 45
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
Cdmt E. Gomes
30 AGOSTO 2021