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REVISTA DA ARMADA | 565

          MONTIJO ERGUE-SE POR FIM

           Volvida a década, voltava o CTEN António Guerreiro Telo Pache-
          co, Comandante do CAN do Bom Sucesso (e que seria o primeiro
          Comandante da nova Unidade montijense) a dar voz aos anseios
          dos aviadores navais relativamente ao Montijo. No seu relatório
          anual, referido a 1 de janeiro de 1945, Telo Pacheco trazia ainda
          à discussão outra questão, a qual se prende com as pistas a cons-
          truir no Montijo.
           Os estudos de engenharia apresentados em 1939 pelo Minis-
          tério  das  Obras  Públicas  e  Comunicações  contemplavam  uma
          pista relvada com 1 km de diâmetro, solução testada entre 1943
          e 1946, e que apresentou sempre resultados insatisfatórios, si-
          tuação que certamente se agravaria com a entrada ao serviço
          dos novos Beaufighter, os quais derivado do seu elevado peso,
          exigiam à engenharia não só uma pista de maior extensão mas,
          acima de tudo, de maior consistência.
           Face a esta evidência, não existia assim outra solução que não a
          alteração total do layout da zona de aeródromo (e, por consequ-
          ência, de toda a Unidade), optando-se desta forma pela solução
          de pistas de disposição triangular, estudo que seria apresentado
          a 25 de abril de 1947 pelo Serviço de Obras da Direção Geral de
          Aeronáutica Civil.
           Aproximando-se a data de inauguração do novo CAN, persis-
          tiam ainda muitas (possivelmente demasiadas) dificuldades, com
          inúmeras infraestruturas ainda por finalizar. No entanto tal não
          impediu que, a 28 de junho de 1951, o Report by the Standing
          Group to the Council Deputies on Forces Assigned and Earmarked
          for NATO, que apresentava a relação dos meios adstritos à Alian-
          ça, distribuídos por nação, atribuísse o Centro do Montijo para
          apoio a manobras das forças aiadas, antes mesmo da conclusão
          das obras.  Em agosto de 1951, por exemplo, as ligações entre o
          hangar e as pistas eram ainda em areia, não existindo a certeza de
          as aeronaves conseguirem realizar este percurso.

          A INAUGURAÇÃO


           Sob a designação de Centro de Aviação Naval Sacadura Cabral, a
          nova infraestrutura montijense seria então inaugurada no primeiro
          dia do ano de 1953. Embora não nos tenha sido possível descobrir   Excerto do Plano de instalação no Montijo do Centro de Aviação Naval de Lisboa, 1939
          a localização das Ordens de Serviço (que se creem perdidas no   Foto ANTT
          tempo) referentes à primeira década de funcionamento do Centro,
          sustentamos a nossa certeza na múltipla documentação existente   que refere o dia 1 de janeiro de 1953 como o dia da inauguração
                                                              do novo CAN.
                                                               Contudo,  crê-se  que  esta  data  se  afigura  como  um  marco
                                                              puramente  administrativo,  uma  vez  que,  pelo  menos  desde
                                                              1952 que o Comte. Telo Pacheco e os seus homens operavam
                                                              um pequeno destacamento de Curtiss HellDiver (possivelmente
                                                              oriundos da Portela) na margem esquerda do Tejo, num período
                                                              em que ainda decorriam as obras de construção de grande parte
                                                              das infraestruturas.



                                                                                               Pedro Gonçalves Ventura
                                                                                                      Capitão da FAP
                                                                   Historiador e Investigador em História da Aviação Militar Portuguesa



                                                                Nota
                                                                Sobre este ponto sugere-se a consulta do Processo “Documentos relativos ao pedido
                                                                1
                                                                de expropriação por utilidade pública, de terrenos destinados à protecção e alarga-
                                                                mento das pistas do Centro de Aviação Naval de Lisboa, no Montijo”, arquivado na
                                                                Torre do Tombo.


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