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REVISTA DA ARMADA | 569

          Portugal integra podendo vir a catalisar a atividade económica da   Portugal e os aliados, tão dependentes das linhas de navegação
          área da defesa e desenvolver o tecido tecnológico nacional.  marítimas, terão que ter a capacidade para contrariar a negação
                                                              do uso do mar, que um adversário queira impor através do uso
           Pretendo  continuar  a  desenvolver  a  capacidade  submarina,   deste tipo de armas – facilmente acessível pelo seu baixo custo e
          essencial  na  negação  da  utilização  dos  espaços  marítimos,  em   reduzida dificuldade de aquisição, produção e colocação.
          situação de tensão ou conflito, a forças opositoras de superfície
          (dissuasão) muito mais poderosas. Para um país com a dimensão   Desejo prosseguir o caminho centrado em veículos robotizados
          de  Portugal  e  com  as  responsabilidades  inerentes  à  posição   que possam ser operados de fora para dentro de áreas minadas
          e  composição  do  espaço  marítimo  nacional,  os  submarinos   indo progressivamente limpando as mesmas.
          proporcionam  in  extremis  a  última  opção  militar.  Em  tempo  de   Esta capacidade deverá continuar residente na Esquadrilha de
          paz, estes meios constituem-se como a única capacidade apta a   Subsuperfície e, dentro desta, nos Mergulhadores. Os Mergulha-
          recolher  informação  de  forma  discreta,  mesmo  em  zonas  sob   dores, sendo uma capacidade relativamente reduzida em termos
          forte  disputa,  que  sejam  relevantes  para  o  sistema  de  decisão   de efetivos, são, no entanto, muitíssimo especializados, produzin-
          nacional.  As  capacidades  destes  meios  permitem  ainda,  sem   do resultados desproporcionais à sua dimensão, devendo assim
          se  denunciarem,  exercer  a  vigilância  por  largos  períodos  de   constituir-se como uma prioridade.
          tempo  sobre  atividades  ilícitas.  É  uma  capacidade  militar  da
          Marinha  verdadeiramente  diferenciadora,  conferindo  um  poder   Pretendo por fim investir fortemente na guerra robotizada – A
          e  importância  desproporcional,  quer  no  seio  das  alianças,  quer
          contra potenciais opositores.                       miniaturização da eletrónica, os avanços na área da computação,
                                                              dos sensores, dos sistemas de navegação, da Inteligência Artificial
           Pretendo também desenvolver a capacidade aérea da Marinha   (IA),  das  comunicações  e  dos  sistemas  de  armazenamento
          composta  por  helicópteros  navais  orgânicos  e  drones, que   de  energia  (baterias,  por  exemplo)  vieram  conferir  uma  nova
          permitirão a utilização multidimensional do espaço marítimo. Os   realidade  disruptiva  às  atividades  militares,  que  se  poderá
          drones aéreos poderão vir a substituir, com vantagem, algumas   designar por guerra robotizada.
          das capacidades dos atuais helicópteros, ou mesmo operar lado a   Drones aéreos, de superfície e de subsuperfície, com elevada
          lado. No entanto, não substituirão por completo os helicópteros,   persistência na área de operações, resilientes, discretos, alguns
          nomeadamente no transporte de cargas pesadas ou de pessoas   deles  letais,  a  operar  isolados  ou  em  grupo/rede,  controlados
          em  missões  de  evacuação,  recuperação,  resgate  e  Busca  e   à distância ou com total autonomia, constituirão a muito breve
          Salvamento, assim como em operações onde a complexidade e a
          variabilidade do ambiente no local da ação requeiram elementos   trecho  uma  capacidade  fundamental  das  Forças  Armadas
          humanos nas aeronaves.                              modernas. A vastidão dos espaços marítimos e a dispersão dos
                                                              espaços  terrestres,  assim  como  a  baixa  densidade  relativa  de
           Pretendo desenvolver uma revolução na capacidade anfíbia,   navios e instalações aí presentes, exige o emprego de meios que
          verdadeiramente crucial para os conflitos híbridos e assimétricos   facilitem a deteção e a tomada de decisão, o que torna o ambiente
          dos nossos dias. Nessa ótica, pretendo uma capacidade centrada   marítimo num dos espaços mais propícios à utilização massiva
          em elementos projetáveis – para terra e para o mar a partir do mar   destes equipamentos. O emprego de drones, requerendo redes
          – composta essencialmente por Forças de Fuzileiros.  de comunicações de banda larga, de elevado débito, disponíveis e
           Estas forças deverão ter uma constituição ligeira e flexível, onde   resilientes, levará ao recrudescimento exponencial das disciplinas
          se privilegiará o efeito de surpresa, o conhecimento sobre a área de   associadas  à  guerra  eletrónica  e  à  ciberguerra  (cyberwarfare).
          operações, a mobilidade, a manobra, a velocidade e a letalidade.
           Deverão  ser  dotadas  de  equipamento  diferenciador  que   A  aposta  neste  domínio  será  crucial  para  as  operações  em
          proporcione vantagens decisivas sobre um adversário mais numeroso   ambiente marítimo, aéreo e terrestre, e disruptiva em conflitos
          e eventualmente equipado com armamento mais pesado.   futuros.
           No inventário dos Fuzileiros devem constar viaturas táticas ligeiras,
          com  blindagem  adequada,  de  baixo  consumo  de  combustível  e   UMA MARINHA FOCADA E PRONTA
          fáceis de transportar por via aérea e marítima. Também deverão
          estas  forças  ter  a  capacidade  de  se  defenderem  de  ataques   Uma Marinha só poderá ser útil se for focada na sua missão e
          aéreos esporádicos, devendo por isso ser equipadas com misseis
          antiaéreos de baixa e média altitude. Por fim, devem estas forças,   se estiver preparada para a realizar.
          pela  sua  natureza,  ser  dotadas  de  botes  e  lanchas  rápidas  para   Uma  Marinha  só  estará  preparada  para  realizar  as  suas
          incursões anfíbias a partir dos navios para terra, ou para operarem   missões  se  dispuser  de  recursos  suficientes  e  adaptados  às
          através dos rios e cursos de água, acedendo ao interior do território.  necessidades, quer estes sejam humanos, materiais, financeiros
           Assim, para além da capacidade de realizar operações litorais,   ou informacionais.
          podem, pela sua natureza, ser muito úteis nos novos cenários   O  foco  da  organização  não  pode  deixar  de  residir  na  sua
          híbridos, como são exemplo a República Centro-Africana (RCA) e   capacidade  operacional.  Tudo  o  resto,  por  mais  importante
          o Mali, onde a velocidade, a agilidade e a flexibilidade possam ser   que  se  afigure,  é  contributivo  e  muitas  vezes  simplesmente
          um atributo importante.                             acessório.
           A  componente  anfíbia  precisará  quase  sempre  de  integrar
          também forças de operações especiais, fortemente especializadas
          e multi-domínio, quer no emprego do mar para o mar, quer do   OS RECURSOS HUMANOS E O ETHOS
          mar para a terra.                                    O cerne das organizações militares é o seu elemento humano:
                                                              as mulheres e os homens que servem na instituição – militares,
           Pretendo  ainda  incrementar a capacidade  da  guerra de    militarizados ou civis. A qualidade do elemento humano, ativo
          minas que tem como foco central contrariar uma das capacidades   mais valioso da nossa organização, influencia decisivamente a
          militares mais assimétricas dos conflitos em espaços terrestres e   nossa capacidade de atuação e é um fator determinante para
          marítimos: as minas.                                o sucesso.


          8   JANEIRO 2022
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