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REVISTA DA ARMADA | 570
No Estreito de Ormuz, lanchas iranianas tentaram abordar o (Albânia, Arábia Saudita, Austrália, Bahrein, Emirados Árabes
petroleiro British Heritage, ação interrompida pela fragata HMS Unidos, Lituânia e Reino Unido), visando garantir a segurança da
Montrose. Por sua vez, o Reino Unido reforçou a presença naval navegação no Estreito de Ormuz.
na área, com o envio de uma segunda fragata, a HMS Duncan. Em Por outro lado, oito países europeus, simultaneamente
19 de julho, a Guarda Revolucionária apresou um petroleiro com Estados-Membros da UE e aliados da NATO, incluindo Portugal,
bandeira britânica, o Stena Impero, alegando que tinha violado promoveram a iniciativa European-led Maritime Situation
os regulamentos marítimos, numa abordagem que envolveu a Awareness in the Straight of Hormuz. Esta iniciativa, que visa
inserção de militares armados, através de helicóptero. A crise garantir um ambiente de navegação seguro e diminuir as tensões
levou a uma troca de argumentos entre o Reino Unido e o Irão, existentes na região, deu lugar à operação AGENOR, iniciada em
tendo o Presidente iraniano afirmado, em 6 de agosto de 2019, 25 de fevereiro de 2020.
na televisão estatal iraniana: Segurança por segurança. Estreito Entretanto, já depois do estabelecimento dessas forças
por Estreito. O Estreito de Ormuz não pode estar livre para o navais, a eleição de Joe Biden fez com que se encetasse uma
Reino Unido e o Estreito de Gibraltar estar fechado para o Irão. reaproximação entre os EUA e o Irão, visando retomar o acordo
Em 27 de dezembro de 2019, a crise voltou a escalar quando de 2015, tendo sido estabelecidas negociações indiretas entre
foguetes presumivelmente disparados pela milícia Hezbollah ambos os países, em Viena (Áustria), mediadas pelos restantes
(apoiada pelo Irão) atingiram uma base militar em Kirkuk, no signatários do acordo nuclear (Alemanha, China, França, Reino
Iraque, provocando a morte de um cidadão norte-americano. Unido, Rússia e UE). Não obstante, em abril de 2021, ocorreram,
Dois dias depois, uma série de ataques aéreos norte-americanos, novos incidentes, envolvendo aproximações excessivas entre
no Iraque e na Síria, matou 24 membros do Hezbollah. embarcações da Guarda Revolucionária Iraniana e navios da
Neste seguimento, assistiu-se a um assalto à embaixada norte- Marinha e da Guarda Costeira dos EUA, que voltaram a avivar
americana, em Bagdad, durante dois dias, que somente terminou as tensões no Estreito de Ormuz. Além disso, tem-se vindo a
quando o Presidente Trump anunciou o envio de mais 750 tornar cada vez mais claro que os iranianos estarão a mistificar os
soldados para o Médio Oriente. A resposta norte-americana ao sinais do sistema de navegação GPS, baralhando e confundindo
assalto à embaixada também não se fez tardar e, a 3 de janeiro os navios que transitam na área e podendo, inclusive, levá-los a
de 2020, os EUA conduziram um ataque aéreo seletivo, no saírem da sua rota planeada.
aeroporto de Bagdad, matando o comandante da força de elite De qualquer forma, prosseguem as iniciativas americana e
iraniana Al-Quds, o General Qassem Soleimani, figura de relevo europeia, que visam proporcionar um melhor conhecimento
do regime iraniano. No mesmo ataque, morreu também Abu situacional marítimo através do reforço de meios de vigilância
Mehdi, “número dois” da coligação de grupos paramilitares pró- marítima no Estreito de Ormuz, em conformidade com o direito
internacional, designadamente com a Convenção das Nações
iranianos no Iraque. O Irão ripostou em 8 de janeiro de 2020, com
um ataque de mísseis a bases americanas no Iraque, acabando Unidas sobre o Direito do Mar. Essas iniciativas multinacionais
podem ser consideradas complementares, mas não deixam
por atingir por engano um Boeing 737 da Ukraine International de ser autónomas, importando, por isso, analisar as posturas
Airlines, matando todos os seus passageiros. Este foi o dia em que estratégicas adotadas pelos diversos atores com interesses no
a crise atingiu o seu pico, temendo-se um «conflito aberto» entre domínio marítimo, que terão levado à criação de duas operações
os EUA e o Irão, até a administração americana descartar uma navais diferentes, nessa região estratégica do globo que – como já
resposta militar, embora anunciando novas sanções económicas. decorria das palavras do eminente historiador português João de
Desde então, têm-se multiplicado os esforços da comunidade Barros, há quase 500 anos – é essencial para o desenvolvimento
internacional para reduzir as tensões na região e assegurar a e o progresso da Humanidade. Deixamos essa análise estratégica
liberdade de navegação no Golfo Pérsico, no Estreito de Ormuz e para o próximo número da Revista da Armada.
no Golfo de Omã. No domínio da segurança marítima, registou-se
o lançamento de duas iniciativas multilaterais, sem a participação
da NATO ou da UE, não obstante o envolvimento de várias nações Sardinha Monteiro
marítimas destas duas organizações internacionais. COM
Por um lado, os EUA promoveram o International Maritime Silva Pinto
Security Construct, que possui uma componente militar, CMG
consubstanciada na operação naval SENTINEL, lançada em Rodrigues Pedra
meados de 2019, com a participação de mais sete parceiros CFR
Navio mercante Stena Impero intercetado por forças iranianas Patrulha aero-naval no âmbito da operação AGENOR
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