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REVISTA DA ARMADA | 572
disparos das nossas pequenas peças de salva e os das poderosas
peças de artilharia do navio brasileiro.
Na parte da tarde desse dia 10 de Abril, no cais de Alcântara,
embarcou o Almirante Américo Tomás acompanhado pela esposa
e a filha, bem como diversas personalidades onde estavam
incluídos os Almirantes Henrique Tenreiro e Ferreira de Almeida,
após o que a Força Naval se fez ao mar.
A VIAGEM – ESCALAS INESPERADAS
Nas comemorações realizadas em terra as guarnições dos
nossos navios em quase nada participaram. As excepções foram
a oferta de bilhetes para assistir a um jogo de futebol entre as
equipas do Flamengo e do Fluminense, no célebre estádio do
Maracanã, bem como um passeio à cidade de Petrópolis, a cidade
imperial brasileira. Os navios permaneceram cinco dias no Rio de Navios brasileiros surtos no Tejo
Janeiro e cada um dos membros das guarnições disfrutou a seu
modo aquela estadia. 18 DE ABRIL
Sobre a viagem em si, que demorou exactamente um mês, não
há muito a relatar. Tanto à ida como no regresso os navios fizeram A 18 de Abril, o paquete Funchal e os navios de guerra
escala na ilha de S. Vicente, no arquipélago de Cabo Verde, que o escoltavam atingiram as proximidades dos Penedos
uma paragem sempre agradável especialmente para quem já de S. Pedro e S. Paulo, passando, portanto, a navegar em
lá tinha feito, durante quase um ano, uma comissão de serviço águas territoriais brasileiras. Nesse dia, dois aviões da Força
Aérea Brasileira sobrevoaram o local. Enquanto uma das
embarcado. aeronaves despejava uma “chuva” de flores sobre os navios,
Na viagem de regresso tivemos a boa surpresa de escalar por a outra, através do rádio, transmitia uma mensagem de
umas horas a cidade de Salvador, a cidade fundada em 1549 por boas-vindas do Presidente Médici ao Presidente Américo
Tomé de Sousa e que é a capital do estado da Bahia, graças ao Tomás, que, entre outras coisas, afirmava em tom cordial:
que na altura constou ter sido o desejo da filha do Almirante “o Brasil o aguarda com emoção para expressar-lhe,
Américo Tomás, o que permitiu ficar com um vislumbre daquela durante nosso encontro fraterno – que constituirá (…) um
encantadora cidade. dos mais significativos capítulos na história da comunidade
Depois, por desejo do Presidente da República, em 3 de luso-brasileira – a admiração e o afeto que lhe desperta a
maio pelas 09h40m , também demandamos os Penedos de figura do Presidente de Portugal”. Cabe destacar que, em
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S. Pedro e S. Paulo, que conseguimos avistar graças ao rigor do 1922, ano em que o Brasil comemorava os 100 anos da
ponto astronómico conseguido em difíceis circunstâncias pelo sua emancipação política, os aviadores portugueses Gago
navegador da fragata Almirante Gago Coutinho. Desde a largada Coutinho e Sacadura Cabral concluíram a primeira travessia
do porto de Salvador que o céu se manteve muito nublado, pelo aérea do Atlântico Sul. No decurso dessa travessia ocorreu
que as observações do Sol e as observações crepusculares das o pouso épico do hidroavião Lusitânia em águas brasileiras;
estrelas ficaram muito comprometidas, o que tornava menos a amaragem por escassez de combustível, a 18 de abril,
rigorosos os cálculos para a determinação do ponto, num tempo deu-se na mesma região em que estavam os sete navios
em companhia – os Penedos de S. Pedro e S. Paulo.
D. PEDRO DE BRAGANÇA
em que ainda não existia o GPS. Felizmente que, quase à última
hora, se conseguiram observar três estrelas que eram o número
Pedro de Alcântara Francisco António mínimo de observações necessárias para determinar a posição.
João Carlos Xavier de Paula Miguel Ra-
fael Joaquim José Gonzaga Pascoal A VIAGEM – AVARIAS
Cipriano Serafim nasceu em 1798,
no Palácio Real de Queluz, sendo Na fragata Almirante Gago Coutinho ocorreu um episódio que
filho do Príncipe Regente (mais podia ter sido dramático. Passadas poucas horas após a saída de
tarde D. João VI) e de sua mulher Lisboa, avariou-se uma das duas caldeiras do navio. A visão da saída
D. Carlota Joaquina. do pessoal pela escotilha da casa das caldeiras foi terrível, de tronco
Em 1808 seguiu para o Brasil
quando a Família Real lá procu- nu, envolto em nuvens de vapor e a gritar que se sentiam queimados,
nunca mais foi esquecida por quem assistiu a essa emergência.
rou refúgio para escapar às invasões
francesas. Felizmente que, passado o susto, se verificou que ninguém
Em 1821 a Família Real regressou ao Reino, tendo tinha queimaduras graves e rapidamente se passou à fase de
D. Pedro ficado no Brasil, onde veio a liderar o processo de voltar a pôr o navio operacional, acendendo a outra caldeira.
independência e se tornou o seu primeiro Imperador. Era sempre uma operação delicada e que demorava várias
Em 1831 abdicou do trono imperial e regressou à Europa horas, com o desconforto do balanço do navio atravessado à
para defender o direito ao trono de Portugal da sua filha vaga e uma atenção muito apertada ao único gerador eléctrico
D. Maria da Glória (mais tarde D. Maria II). de emergência, muito subdimensionado para as necessidades,
mesmo as mais essenciais do navio e que, por vezes, queimava
uns componentes chamados rectificadores.
20 ABRIL 2022